29.

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FABIANA.

Alguns dias depois...

Finalmente o sol saiu pra valer e a liberdade cantou. Passamos esses dias confinados porque simplesmente inventaram uma mega operação aqui no Complexo e no Complexo do Alemão, então era papo que ninguém entrava e ninguém saía.

Mais de uma semana de tiroteio comendo firme, soube de várias pessoas inocentes que perderam a vida, inclusive crianças. Chorei tanto que parecia que era minha filha que tinha morrido.

Esse toma lá dá cá terminou na quarta feira. Até fiquei sabendo que Murilo tinha sido baleado de raspão no braço na terça-feira feira, mas estava passando bem e inclusive ele só me ligou durante a madrugada pra falar "tu ainda vai me aturar muito tempo, preta".

Com todo esse movimento, o chá-revelação da Diana foi adiado e a gente achou melhor esperar a próxima ultra.

O evento da semana é o aniversário do Murilo que foi semana passada, mas como estava em guerra, não podia rolar.

Como hoje estava corrido pra mim, trabalhei de casa mesmo. Viva o home office!

Adriana: Tu vai pro Alemão hoje? – apareceu na sala com uma xícara de café.

Fabiana: Só mais tarde, tenho coisa administrativa da loja pra resolver. Acumulei a semana toda. – falei sem tirar os olhos do notebook – Por quê? – a olhei rapidamente.

Adriana: Nada demais. Hoje o João vem passar a tarde aqui, a noite nós vamos levar a Gabriela ao cinema. – respirei fundo e assenti – Tô te sentindo estranha desde o jantar, não te vejo mais empolgada quando falo no meu namorado.

Fabiana: Vou falar pra senhora antes que eu morra entalada que eu não sou baú. Tem alguma coisa nesse cara que não passa confiança. Pronto, falei. – tirei a visão do notebook e a olhei.

Adriana: O João é um homem maravilhoso e nunca vi ele te tratar mal. – minha mãe colocou a xícara na mesa de centro.

Um dos defeitos da minha mãe era não dar ouvidos aos avisos que a gente costumava dar a ela.

Fabiana: Os sonsos são os piores, mãe. Não precisa me tratar mal, pra não prestar.

Adriana: Sabe o que eu tô vendo aqui? – neguei com a cabeça – Inveja! – eu arregalei os olhos incrédula.

Como assim eu com inveja da minha própria mãe?

Fabiana: A senhora quer dizer que... – ela me interrompeu.

Adriana: Que tu tá com inveja de mim sim! Eu estou feliz, com um homem que me ama, me deseja e principalmente me assume e me dá valor. Não é desses que só te pega em fim de baile, que te come e depois você que tome no cu e que te encha de decepção. Que te humilha e até mesmo levanta a mão pra você. Tu não suporta ver outro homem comigo, por causa do teu pai. Da tão defendida memória do seu pai! Que em vida, fez o que fez e ainda teve duas filhas lá no Chapadão. – disse com tons de deboche e desdém.

Fabiana: Eu não posso acreditar que a senhora tem a capacidade de falar uma coisa dessas pra mim. Eu sempre estive aqui mesmo quando a senhora diz a plenos pulmões que não precisa de mim pra nada. Quando a Diana foi embora pro Alemão, só eu fiquei aqui do seu lado segurando toda a barra que foi a morte do Pedro. Eu guardei a minha dor pra ajudar a senhora curar a sua! Eu mais do que qualquer um torci e torço pela sua felicidade. Torço muito pra eu estar enganada. Mas, ao contrário de mim, a senhora usa as minhas dores contra mim. Isso é desleal, é desumano. – segurei as lágrimas que insistiam em se formar – Como eu posso ter inveja de alguém que eu tanto amo, como é o seu caso, mãe? – neguei com a cabeça.

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