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FABIANA.

Depois que o Murilo saiu do meu quarto, a minha tristeza deu lugar a raiva de Deus. E não era nem pelo fato dele meter o pé da minha vida.

Eu vivi vinte e três anos sem precisar dele, eu ia me acostumar viver sem pelo resto da vida.

Mas, eu procurava uma explicação pra esse sequestro da Gabriela. E a única que eu encontrava, era a vingança. Quando o meu falecido marido era vivo, ele invadiu o Rebu e matou vários. Talvez esse seja o motivo por trás de tanto ódio.

Mesmo assim, por que só agora?

Eu vi o cobertor da Gabriela em cima da minha cama e deduzi que ela tinha dormido lá, o cheirinho de perfume docinho que ela usava pra dormir estava lá, eu me abracei com ele e foi inevitável eu não chorar.

Minha filha era tudo na minha vida.

Fabiana: Que Deus e São Jorge protejam a minha menina. – murmurei.

Ouvi uma gritaria do lado de fora e parecia que era aqui em casa, me levantei e desci pra ver. Minha mãe tentou me segurar mas eu passei por ela igual trem bala e saí, Karina estava batendo boca com alguém.

Sueli: Chama ela agora, meu assunto não é com você. – gritou com a voz de taquara rachada.

Fabiana: Mas que caralho é esse aqui? – empurrei a Karina pro lado e dei de cara com ela.

Sueli: Eu quero saber onde é que está a minha neta, sua irresponsável. Eu sabia que você não ia saber cuidar e nem garantir segurança pra ela. A culpa disso tudo é sua, que deixou a Gabi com essa piranha da tua mãe! Tudo atrás de macho pra comer a buceta de vocês, SUA IRRESPONSÁVEL. – gritou.

Mas que porra ela tá falando? Não estava perto quando Gabriela nasceu e até cogitou dela não ser filha do Breno. Ela não estava perto quando Gabriela começou a engatinhar, não estava perto quando Gabriela ficou internada decorrente de uma broncopneumonia que quase a matou que foi culpa dela própria, não estava perto quando Gabriela foi vacinada, não estava perto quando Gabriela chorou a noite toda sentindo falta do pai, não estava por perto em tantos momentos que a Gabriela precisou e agora vem me culpar.

Fabiana: Quem é você pra bater na minha porta e vir cobrar alguma coisa de mim? Tudo que você tá falando pra mim não serve de nada, pelo contrário. Você como sogra é a pior desgraça que podia ter me acontecido. Você nunca prestou, hoje tu tá aqui pra fazer palco pra essa gente que não tem o que fazer igual você. – me soltei da Karina e caminhei lentamente até perto dela – Mas pra gente como você eu tenho um remédio ótimo. Sabia? – abri um sorriso falso e fechei quando virei a minha mão aberta em seu rosto – Você nunca mais abra sua boca pra falar de mim ou até mesmo da minha família. Você não tem a menor moral pra isso! Pra mim, você tá morta!!! Morreu no mesmo dia que eu enterrei o Breno.

Ela me encarava com ódio e antes que eu pegasse no pescoço dela, Karina me puxou.

Karina: SOME DAQUI SUELI! –  gritou e eu continuava me debatendo pra ir pra cima dela.

Sueli: SUA PIRANHA, EU VOU TIRAR A MINHA NETA DE VOCÊ. A JUSTIÇA NÃO VAI DEIXAR UMA CRIANÇA COM UMA MÃE QUE NÃO SERVE NEM PRA CUIDAR DA INTEGRIDADE DA MENINA. – ela berrava aos quatro cantos do Complexo.

Fabiana: SE ISSO ACONTECER, EU TE DERRUBO NEM QUE SEJA NA BALA. – gritei.

Eu não me importava de passar o resto da vida na cadeia, mas não ia deixar Gabriela com a Sueli nunca. Nem que pra isso eu tivesse que me tornar criminosa novamente.

[...]

Marreta: Assim tu não me ajuda a te ajudar, porra. – falou bolado – Tu brigando com a minha mãe vai dar em que? Tu até nela bateu pô. Como é que fica isso?

Fabiana: Ah é? Me diz você. Acha mesmo que eu sou obrigada a ouvir tudo que eu ouvi calada? Não tá bastando o que eu tô passando? Hein? Esses anos todos que assistência que a tua mãe deu pra Gabriela? Que moral ela tem pra falar tudo que falou? – a encarei séria – Eu enfrentei e enfrento quem for pela Gabriela.

Marreta: Breno tá feliz com essa porra não. – negou.

Fabiana: E eu tô feliz, Marreta? Tu acha mesmo que eu tô feliz? Tudo que eu quero é a minha filha de volta. Não gosto de arrumar caô com ninguém e você sabe. Mas eu não aturo desaforo de ninguém, pode ficar ciente disso.

Marreta: Tamo todo mundo de cabeça quente, todo mundo nervoso e sinceramente, tô ligado que a coroa não é fácil e é por isso que eu vou relevar. Considerando aí a situação e também a amizade aí que nós tem, mas não quero saber de tu e ela de caô. Tranquilo? – me olhou sério.

Fabiana: Então me faz um favor, manda ela ficar longe da minha porta e esquecer a minha existência que nada acontece. – alertei e me levantei da cadeira – Porque se for pra justiça, eu vou fazer pior e você já me conhece também.

Não custava muito pra eu sair do Rio e ir pra outro lugar.

Marreta: Te garanto que eu vou dar o papo de visão pra ela.

Era só o que me faltava, tomar esporro por causa de Sueli. Tô ficando mole mesmo.

Voltei pra casa por falta de opção, mas a minha vontade era nem voltar. Mas nem sair daqui eu posso porque a porra do meu carro tá na casa do Murilo, que desgraça.

Adriana: A gente precisa conversar. – disse quando eu entrei em casa.

Graças a Deus já não tinha tanta gente, só a minha mãe e a Diana.

Fabiana: Eu virei psicóloga, terapeuta? Todo mundo quer conversar comigo hoje. Tenho nada pra conversar com ninguém não, só quero a minha filha de volta. Não quero ouvir justificativa, não quero ouvir lamentação porque nada disso vai trazer Gabriela. A senhora quer me ajudar de verdade? Então, não fala mais nada. Por favor.

Diana me olhou de lado, mas se aproximou de mim e me abraçou forte.

Diana: A nossa família vai sobreviver a mais essa. – falou baixinho no meu ouvido.

Fabiana: Eu não vou aguentar. – abracei a minha irmã e me desmanchei no choro.

Diana: Você vai e a Gabi vai voltar pra casa. Logo logo ela vai estar aqui correndo e gritando "ô manhê!" – imitou Gabriela.

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