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GUTO.

Fomos pegos de surpresa com a prisão do MK e não deu tempo nem de ficar puto e bolado.

Pra ser sincero não deu tempo nem de pensar em nada, já fomos desentocando fuzil e partindo pra rua porque do nada foi papo de operação e isso atravessou mais de doze horas de tiro pra caralho.

Sinceramente eu não pensei que a gente daria conta, mas até nessa hora Deus tá com a gente.

Vários de nós perderam a vida, muita gente do movimento e inocente então? Um montão se foi por bala perdida e essas horas na mídia a culpa é somente nossa. Tinha trabalhador que essa hora na tv tá sendo chamado de traficante e várias famílias chorando em cima dos corpos.

Barão mermo essa hora tá na salinha da dona Alzira, baleado na coxa, sendo operado e a Diana agoniada do lado de fora.

Eu também fui contemplado, mas foi no braço e de raspão.

Isso não foi normal e eu ia descobrir que merda tá acontecendo.

Dei o papo na Yara de toda a situação e a hora que ela podia trazer a Fabiana pra casa. Se eu conheço ela, não ia ficar na Penha de jeito nenhum e só quem podia com ela estava morto e o outro tinha sido preso.

E olhe lá, se conseguisse parar ela. Tinha dia de nem o parceiro conseguir controlar a Fabiana, ela faz e acontece quando bem entende e a gente acaba cedendo sendo vencido nos argumentos.

Fui pra casa dar um jeito na porra do meu braço e depois meti o pé pra dona Alzira onde eu me deparei com alguns crias e a Diana de cabeça baixa chorando.

Guto: Nada ainda? – me sentei do lado dela.

Diana: Ela ainda não saiu de lá de dentro, ela chamou não sei quem pra ajudar. Tô desesperada, cara. – levantou o rosto que por sinal está bem vermelho e inchado – Tu sabe onde tá a minha irmã?

Guto: Tá na casa da mãe da Yara. – me encostei na cadeira.

Diana: Vou te falar, a minha irmã não vai sossegar enquanto não tirar o MK do presídio, vocês precisam impedir que ela volte pra essa vida. – ela me olhou séria – Vocês sabem das coisas que ela fez depois da morte do Imperador, conhecem o temperamento dela e sabem a influência que ela tem.

Guto: Nós também não vamo sossegar enquanto não tirar o MK de lá de dentro, mas da minha parte vou fazer o possível pra não deixar ela se envolver nisso. Mas não acho que ela vá se envolver tanto assim, ela tá grávida e não vai botar a cabeça do filho a risco.

Diana: Yara falou pra mim que ela tá cega de ódio, não quer conversar com ninguém e por enquanto só chora. Ela não vai ficar nisso por muito tempo. Ela é teimosa igual meu pai era, pior que o Pedro foi e quando ela coloca alguma coisa na cabeça é mais fácil arrancar a cabeça dela do que o que ela tá pensando. – abaixou a cabeça.

Guto: Vamo esperar ver o que acontece daqui pra frente. Vai terminar tudo bem com os parceiros e com ela. Chega de dor e sofrimento. – tentei confortar.

A gente ficou ali durante um tempo até que dona Alzira saiu pra fora e disse que o Barão estava fora de perigo e havia conseguido retirar a bala que estava em sua coxa.

Novamente aquele papo todo de recomendação, eu conhecendo ele sabia que não ia ficar em casa porra nenhuma.

O dia amanheceu, esperei o Barão acordar e numa conversa entre nós dois, a gente convocou uma reunião com alguns aliados pra gente se adiantar e tirar o parceiro das grades.

Pela porta da frente é impossível, de nós três ele é o que mais tem crime nas costas e o ódio que ele provoca em algumas pessoas é foda.

Enquanto isso, eu seguia firme acionando alguns dos olhos do MK pela região e vou começar a passar o pente fino na rotina em quem me trás uma desconfiança bolada.

Na Clara.

FABIANA.

Se eu disser que eu consegui dormir como deveria, eu tô mentindo. Passei a noite em claro, lendo e relendo nossas conversas, pensando, orando e olhando as minhas fotos que eu tinha com o Murilo.

Paz foi coisa que eu nunca conheci na vida e pelo visto não vou saber nunca.

Gabriela estava na casa da Sueli desde segunda e só iria voltar no fim da semana. Com isso, eu ia ganhar tempo pra resolver o que eu ia fazer da vida naquele momento. Eu só não ia ficar de braços cruzados. Em questão de poucas horas pra chegar aos meus ouvidos trechos de vários proibidões dos rivais gastando a situação do meu pretinho, fazendo com que a minha dor aumentasse ainda mais.

Era exatamente cinco e meia da manhã quando eu levantei e ouvi a Yara conversando com o Guto por telefone.

Na cabeça dela eu estava dormindo, mas a real é que eu estava ouvindo a conversa dela. Não que eu desconfiasse de um deles, mas adorei saber que iria ter uma reunião na boca da Fazendinha depois do almoço e que não era pra eu saber de nada.

É claro que eu vou aparecer nessa reunião.

Quando eles mudaram de assunto, eu voltei pra onde estava antes na pontinha do pé e me deitei. Senti a presença de alguém no quarto e fingi estar acordando, era a própria Yara.

Yara: E aí leoa. – se sentou ao meu lado – Como tá essa força?

Fabiana: Intacta, mas tô cheia de ódio. – falei com raiva mesmo.

Yara: Lembra o que a médica falou pra você? Que tudo o que tu tá sentindo, o teu filho tá sentindo também.

Fabiana: Melhor ainda, meu filho vai nascer já puto e bolado. – ironizei – Como é que tá lá no Alemão?

Yara: Falei com o Guto agora pouco, ele disse que foi bem sangrento, como eles dizem foi brabão, mas acabou dando até certo. Mas tem vários corpo espalhados pelo morro. Barão e ele foram baleados, mas tão passando bem. – o nervosismo que ela tentava disfarçar, estava nítido.

Fabiana: Tu não tá me escondendo nada não, né Yara? – a encarei e ela negou com a cabeça.

Yara: Me promete que tu vai ficar na tua e deixar que eles resolvam esses problemas. – balancei a cabeça negativamente – Fabiana, por favor, não se envolve nisso pelo amor de Deus.

Pensei melhor e era melhor concordar ou corria o risco de alguém ficar atrás de mim o tempo todo.

Fabiana: Prometo. Vou pra onde com essa barriga parecendo uma melancia? – cruzei os braços.

Yara: Tu esquece que eu te conheço né? Pensa nos seus filhos, Fabiana. Tu não tem peito de aço, cara. – argumentou e eu concordei.

É lógico que eu não ia ficar sem fazer nada.

Nem que fosse torturar gente, eu ia me meter nesse assunto sim e nem era só por amor e gratidão ao Murilo. Agora era questão de honra e pra garantir que o meu filho não ia nascer órfão de pai.

Se eu tivesse que negociar a liberdade dele com o capeta, eu faria isso de olhos fechados e sem fazer careta.

DO JEITO QUE A VIDA QUER.Onde histórias criam vida. Descubra agora