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JAQUELINE.

Fabiana: A gente precisa ir agora, cunhada. – botou a cara no vão da porta toda de preto.

Estava na hora de irmos ao Chapadão, dar o último adeus ao Gustavo. Eu sei que ele na minha vida era algo recente, dois meses e alguns dias foram o suficiente pra eu começar a gostar dele como algo mais.

Era eu que deveria estar morta no lugar dele. O Juninho ia me matar pra atingir o meu irmão, mas ele se jogou na minha frente e a morte o levou no meu lugar. Eu me sentia extremamente culpada, ele não merecia isso, pelo contrário.

Keila: Vem amiga. – me deu a mão e eu me levantei.

Fui me arrastando, meu corpo estava em pé na força de Deus porque por mim mesma não teria nem levantado. Entrei na Evoque do meu irmão, a Fabiana ia dirigindo e na nossa frente e atrás de nós ia uma escolta de apenas dois carros.

Chegamos na quadra do morro do Chapadão e já tinha muita gente, gente pra caralho e a última vez que eu vi tanta gente assim tinha sido no enterro da minha mãe.

O corpo já tinha chegado e conforme a gente foi entrando, a Fabiana foi abrindo espaço pra que a gente pudesse se aproximar. Pela dificuldade que foi, dava pra ver o quanto ele era querido pelo pessoal.

Coroa de flores tinha pra tudo que é lado, todas representando alguns morros, inclusive o nosso era um dos maiores que tinha, os familiares e afins.

Fabiana se abraçou com o Fernando que estava tentando secar as lágrimas com todo o custo e eu aproximei meu rosto do rosto do Gustavo.

Jaqueline: Porque você tem que ser tão maluco, hein loirinho? O que é que eu faço com a saudade que eu já tô sentindo de você? Tu me disse um dia desse que eu era difícil de aturar, mas que nunca ia me deixar em paz mesmo se eu voltasse pro Paraguai e agora você tá aí me abandonando, seu pedaço de vacilação. Eu vou sempre ter amor e gratidão por você, você foi o meu herói e é por você que eu vou continuar vivendo mesmo com a saudade esmagando meu peito a partir de agora. Você me aconselhou, você me arrancou risadas e foi alguém que eu queria pra minha vida, mas não deu tempo. Você me proporcionou dias incríveis, me fez acreditar que eu tinha potencial pra muita coisa e que eu ia longe. Descansa em paz loirinho, eu nunca vou te esquecer e um dia eu faço questão de te encontrar pra tirar o teu sossego de novo. Até a próxima vida, Gusta! Eu te amo e obrigada por salvar a minha vida, me perdoa por não ter conseguido salvar a sua. – dei um beijo longo em sua testa e deslizei minhas mãos pelo seu rosto e deixei que as minhas lágrimas caíssem.

Keila: Senta aqui amiga. – apareceu com uma cadeira do nada e colocou bem próximo ao caixão.

Fiquei ali ao seu lado o tempo inteiro, Fernando me abraçou e disse algumas palavras de consolo no meu ouvido. A mesma coisa fez a sua mulher que nem me conhecia direito, mas que me chamou pelo nome e me confortou de alguma forma.

Fabiana não saiu do meu lado, assim como a Keila.

As pessoas ali me olhavam sem entender, pouca gente sabia do nosso envolvimento e confesso que fiquei surpresa quando o Formiga chegou acompanhado de uns soldados do meu irmão.

Ele e o Gustavo não se gostavam também por minha causa.

Formiga: Meus pêsames, Jaque! – estendeu a mão dele pra mim e na hora que eu retribuí, ele me puxou fazendo eu me levantar da cadeira e me abraçou forte.

Eu não resisti e amoleci de novo, comecei a chorar incessantemente.

Sempre ouvi dizer que a dor do velório era a pior parte, mas relembrei que a pior dor mesmo era quando o caixão era fechado e por fim enterrado.

Quando jogaram a última pá de terra em cima da cova onde o Gustavo estava, os traficantes de vários morros presentes, inclusive a Fabiana que estava representando o meu irmão deram vários tiros pra cima.

Até fogos soltaram e cobriram a tampa da cova da família dele que era simples com uma bandeira do Flamengo. O resto do pessoal aplaudia e jogava flores.

E eu estava agarrada a Keila me desmanchando no choro.

Voltamos pra casa da dona Zélia, tomei um banho e subi pra ficar com o meu irmão enquanto a Fabiana ia ver a Diana e os outros. Murilo estava acordado e olhando pro nada com uma cara de cu que foi desfeita quando eu entrei no quarto.

MK: Deita aqui comigo, Jaque. – ele pediu e chamou com a mão.

Eu não pensei duas vezes, me deitei ao seu lado e ele do jeito que deu tentou me abraçar por alguns instantes. Pra não forçar muito a situação do meu irmão, eu deitei minha cabeça em seu peito e me permiti chorar baixinho.

MK: Eu tô com você até o fim, Jaqueline. Será que agora tu entende o porque a mãe e eu não te queria com traficante? Essa vida que a gente leva é assim, incerta. Uma hora a gente tá aqui e outra hora não tá mais... Eu quase fui embora várias vezes e talvez eu não tenha ido ainda porque Deus sabe de tudo e sabe que se Ele me levar, você ficaria sozinha e eu não ia conseguir descansar. Tu cresceu, se tornou uma mulher que eu tenho orgulho de falar que é minha irmã, mas pra mim tu vai ser sempre a minha pequena. Não importa quantos anos se passem... Sempre foi eu por você e você por mim. Tudo bem que a família aumentou de uma hora pra outra, mas eu vou sempre me preocupar com você. Eu te amo, sua gorda. – disse baixinho fazendo carinho no meu cabelo.

Jaqueline: Murilo? – levantei a cabeça uns segundos e o encarei.

MK: Hm? – ele me olhou.

Jaqueline: Sermão agora não, por favor, só hoje... – pedi e ele alisou meu rosto.

MK: Tá bom. Descansa aqui comigo um pouco então. – beijou minha testa.

Murilo ficou fazendo carinho no meu cabelo, a Fabiana chegou com água e remédio. Acabou insistindo pra que eu tomasse um calmante e nessas aí eu acabei pegando no sono ali mesmo.

DO JEITO QUE A VIDA QUER.Onde histórias criam vida. Descubra agora