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MK.

O dia amanheceu daquele jeito que eu já esperava.

Antes de sair da penitenciária, levei uma sessão caprichada de porrada pelas partes que a camisa e a calça de detento esconderiam e fiquei sem tomar café da manhã porque na noite anterior matei um lá na cela porque ameaçou abrir a boca pra falar da minha fuga.

Se toda vez que eu matar alguém, eu apanhar, vou ter que trocar meu nome pra saco de pancada.

Tomar no cu, mermão.

Mas a questão quem liga? Eu nem gosto da comida desse lugar. Tô doido é pra tomar o café que a pretinha faz. Claro, depois que a leoa resolver abrir os olhos.

O jeito é ir lá falar no ouvido dela que eu tô com outra. Ela iria abrir os olhos e eu ia morrer porque ela ia pegar no meu pescoço e apertar.

Com a saudade que eu tô dela, queria mesmo que ela ficasse boladinha comigo. Pelo menos eu ia saber que ela estaria bem e depois nós faríamos as pazes.

A propósito, cadê a porra dos direitos humanos que o povo tanto fala que defende a gente que é bandido? Apanhei pra caralho, fui torturado algumas vezes e de quebra tentaram me matar.

Não vi ninguém chegar aqui pra me defender, tiração rapá.

Só aumentou o meu ódio, a lista de tortura e as minhas anotações criminais. Segundo o velhote que a pretinha contratou, vulgo advogado, as minhas anotações eram tantas que ia precisar de um diário ou talvez um livro e era arriscado ainda não dar.

Depois ainda dizem que o filho do Jogador é só mídia.

Me acorrentaram igual animal, as mãos e os pés. No mesmo blindado ia eu, Charles e de última hora Ja-rule.

O diretor de Bangu que pagava de brabo tinha muito interesse em não manter esse trio lá no Rio e nessa parte ele tinha razão. Isso explica a rapidez com que essa decisão do juiz veio pra gente ser transferido.

Charles sentou no cantinho, eu do lado dele e um policial na ponta ao meu lado. Ja-rule do outro lado com mais outro verme.

Me deu uma crise de riso porque a logística deles era inútil.

Mas melhor ainda que eu não ia gastar muito com explosivos. Eu daria um abraço em quem pensou nisso.

— Dormiu agarradinho com o Bozo, MK? – um dos vermes debochou e o outro riu.

Eu sinceramente não entendo o porque esses pau no cu aí debocha. Ou melhor, tenta debochar. Eu movimentei mais dinheiro dentro de um mês do que eles a vida inteira.

Se eu morresse hoje, eu tinha vivido igual um rei e ia ser enterrado como um.

O que eu pagava só de arrego pra garantir minha movimentação dentro do Rio e muitas vezes até fora, não era nada barato e eles não viam essa quantia dentro de um ano trabalhado.

MK: Nada. – desfiz o sorrisinho que eu tinha dado e fiquei sério durante o trajeto.

Mesmo com as dores na costela, as feridas que doíam e ardiam pelo meu corpo eu consegui pegar no sono. Eu já tinha a estimativa que essa viagem duraria pelo menos umas vinte horas ou mais.

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