Capítulo 003

1.5K 91 11
                                    

***

Aquele era um bom hotel, embora longe da mansão. Ali ele poderia ter alguma boa companhia. Detestava ficar sozinho, sem nenhuma diversão.

Enfiando novamente seu relógio no bolso do colete, Alfonso atravessou o saguão movimentado segurando, com a mão livre, uma taça de champagne.

Muitos cheiros se mesclavam: charuto, vinho, cremes, o perfume do dinheiro, o cheiro do sexo. As máscaras cobriam os rostos de todos, inclusive o seu, e tudo o que ele podia saber sobre aquelas pessoas eram suas intenções camufladas no movimentar de seus corpos. Ele podia ver a mulher que roubaria as libras da carteira de um velho tolo enquanto ela estivesse levando-o bêbado até seu quarto. Podia ver o advogado que depois de se livrar da esposa enrolada em seu braço, se encontraria com aquela morena escondida que piscava para ele. Havia mulheres de todos os portes, de donzelas a meretrizes, e ainda as dezenas que se estendiam entre os dois extremos; e ele podia ver qualquer coisa, inclusive a loira pequena e impaciente que tentava, delicadamente, se livrar de um homem que gostaria muito de levá-la para a cama naquela noite e não cortejá-la nos dias seguintes.

Os cabelos dourados, compridos e presos numa trança; os braços delicados, os dedos pequenos segurando uma taça de vinho e um tentador pedaço de pele sobre seus ombros eram tudo o que se mantinha a vista. Mas Alfonso enxergava além. Via uma mulher sensual, doce e sedutora, dona de um corpo escultural e um traseiro completamente adorável, além de ter a curva dos seios que ele almejava ver há anos. E agora, além das intenções de todos os outros naquele salão, as suas também se tornavam cada vez mais evidentes.

– Com licença – disse, empurrando sua taça contra o homem que se inclinava perigosamente em direção à loira. Por puro reflexo, o homem a segurou, arqueando uma sobrancelha para Alfonso – Mas creio que essa dama não esteja muito a vontade com a sua insistência.

O outro enrugou a testa.

– E você, quem é?

– Meu nome é Alfonso Herrera. Eu poderia dizer que é um prazer, mas esse realmente não é o caso – e então dirigiu-se a mulher, que estava muda, olhando-o através da máscara que cobria desde a testa até as maçãs de seu rosto – Isso é um prazer.

– Ora, saia daqui, seu petulante! – o homem vociferou, dando um brusco empurrão no ombro esquerdo de Herrera – Trate de importunar outra pessoa ou eu vou ter que retirá-lo daqui a força.

Poncho mirou o local onde havia sido tocado com uma expressão de desdém, para em seguida erguer seu rosto na direção do outro, que se projetava em sua direção, desafiando-o. Limitou-se a rir, zombeteiro.

– Tente.

– Para mim já basta – disse a voz suave da mulher. Alfonso não podia ter ficado mais satisfeito. Estava imaginando-a. Ela era delicada e frágil. Astuta, mas sensível. E podia decifrar que era linda, que tinha um rosto de anjo em corpo de mulher.

A loira se afastou, incomodada, mas em poucos segundos estava bem próxima a Alfonso novamente pois ele havia segurado seu braço.

Seus olhos eram azuis e demonstravam algum tipo de medo. Medo que não estava expresso nos dentes cerrados e na boca que, apesar de rígida, ainda era rosada e tentadora. Ali, por fora, ela parecia uma fonte de imponência e desafio, mas Poncho conseguia farejar a insegurança.

– Desculpe, mas o que significa isso? – perguntou ela, lançando um olhar significativo a mão que lhe agarrava.

– Significa que quero que fique comigo, senhorita – respondeu Alfonso, afrouxando os dedos para deslizá-los até seu cotovelo.

– Isso é mais do que querer – disse ela, observando que agora ele enrolava o braço em sua cintura com sutileza – O senhor não está me dando alternativa.

– Alguma vez disse que pretendia?

– Pode me soltar agora, por favor? – ela ergueu o queixo, altiva. A pele sobre suas bochechas estava vermelha e ardida de irritação – Não tem o direito de me segurar desta forma, como se eu lhe pertencesse.

– Deus, é tentador! Eu adoraria que pertencesse, meu anjo.

– Mas que atrevimento! Eu não sou seu anjo coisa nenhuma! – dessa vez a loira sacudiu o corpo, tentando se afastar, mas ele a aproximou um pouco mais, quase fazendo com que ela arqueasse o corpo para trás, sobre o braço que a apertava contra ele. E, ofegando, com as mãos espalmadas no peito de Alfonso, ela descobriu que não tinha a menor chance contra ele.

Havia visto-o de longe e observado a maneira como ele andava, de ombros erguidos, meticuloso como um gato. Não que todas as mulheres sãs do salão não estivessem fazendo o mesmo. Mesmo ela, tão íntegra, não pudera disfarçar. Do rosto não se via muita coisa, mas os traços masculinos e sensuais do queixo cada vez que levava sua taça de champagne à boca eram mais excitantes que quaisquer outros. Os cabelos negros e levemente encaracolados penteados com gel para trás instigavam uma mulher a amarrotá-los. E ela sabia que ele era um estrangeiro, um americano, provavelmente.

Anahi havia visto um homem e tanto. Podia jurar que era o mais bonito dali, só que agora, se a tratava com tanta grosseria, já não tinha certeza se ele era todas aquelas coisas que idealizara.

Ela o sentiu pressionar, com o musculoso braço, seu pequeno corpo ainda mais contra o dele e, inesperadamente, uma onda de calor a invadiu. Ainda era mulher e ele ainda era um homem. Um homem lindo, embora rude. E ele tinha aquela coisa protuberante dentro de sua calça, tocando seu ventre de uma maneira atrevida e completamente inusitada.

– Eu desconhecia a parte da sua inconveniência e indelicadeza – fez uma breve pausa cínica e continuou – Ahn... Como é mesmo o seu nome?

Ele revirou os olhos.

– Alfonso Herrera.

– Pois bem, Senhor Herrera, o que quer de mim?

– Nós vamos conversar a respeito? – ele perguntou, extasiado, agora emoldurando os lábios rosados com seu polegar.

– Isso é relativo. Responda-me. E tire os seus dedos da minha boca.

Ele riu, fazendo o que ela lhe pedira.

– Eu quero o que todos os outros homens deste salão querem.

– Eu ainda não sei do que se trata, há muitos desejos ocultos por aqui – disse a loira, indiferente.

– E todos eles acabam no mesmo lugar – ele esticou os lábios num sorriso – Na sua cama. Mas eu, senhorita, pretendo apreciar muitas outras coisas com você até chegarmos lá – e, dito isso, fechou os dentes suavemente sobre o lóbulo da orelha dela, com a habilidade de um homem que sabia o que estava fazendo. Ela só esperava que ele não soubesse o que começou a acontecer entre suas coxas, além do calafrio que subiu pela sua espinha e se instalou na ponta dos seus seios, que intumesceram sob o vestido.

Via-se bastante coisa, além de muito claramente, sob a máscara de Alfonso. O verde-oliva explorador dos olhos reluzindo interesse e desejo. A excitação transbordando através daqueles dedos compridos que relaxavam, mas que, com a mesma destreza de antes, massageavam a curva de sua lombar discretamente.

Ela fechou os olhos, exasperada. Lembrou-se que havia gostado de ver as mãos competentes de Alfonso em ação, agarrando taças e acariciando o rosto de outras mulheres, mas agora aquelas mesmas mãos, escorregando para cima por suas costas, estavam lhe atordoando. Era insultante a maneira que ele agia. Pior ainda era corresponder àquele ataque.

Ela o afastou com firmeza e rapidez o suficiente para que conseguisse. Não era inofensiva como ele a fazia parecer. Com bastante cautela, ela lhe provaria isso.

– Escute bem uma coisa – começou – És tão pouco homem a ponto de não saber cortejar uma mulher? Você deve estar acostumado a outro tipo de coisa, han? Mas aqui precisará de muito mais que um brusco puxão no meu braço para ter a oportunidade de descobrir o que eu sou capaz de fazer numa cama – a loira vociferou. Depois afastou-se e imediatamente sumiu entre as pessoas, deixando ali um Alfonso mudo e, sobretudo, furioso.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora