Capítulo 074

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(...)

Ele surgiu na porta, transtornado. Os olhares se encontraram, cheios de tensão e raiva, explosivo e violento. Anahi, incrivelmente, teve forças para sustentar o seu, o coração começando a bater violentamente. Dulce, Maite e Agnes foram ignoradas; Alfonso tinha apenas um alvo ali, mas ainda era prudente que elas não tentassem intervir pois não podia garantir que sua explosão não as atingisse.

– Satisfeita com o que você causou? – ele perguntou – Você não tinha o direito – pontuou lenta e cruelmente – Não podia. Fez a única coisa que não podia.

Anahi piscou, demonstrando, por sorte, uma tranquilidade bem maior que a que de fato sentia. E muito embora Alfonso não houvesse planejado suas expectativas, sentia que aquilo era inesperado. Ele imaginava vê-la angustiada, nervosa, com medo. Em vez disso, Anahi parecia plenamente confiante.

– O quê? Enganá-lo? Pensei que vivíamos num mundo onde é fácil conviver com traições. Você não precisa ser tão rancoroso – ela o citou, com um sorriso maldoso no rosto – São coisas diferentes. Negócios – e espalmou as mãos separadamente – Romances.

Anahi lembrava-se muito bem daquela conversa, do dia que ele a chantageou para que não fosse embora, da forma que ele lidou com a dor que ele mesmo lhe causou. A memória a havia machucado durante muito tempo e agora, com seu lado mais obscuro, esperava que Alfonso estivesse sentindo exatamente o mesmo.

Herrera sentiu sua cabeça apertar, doer.

– Vai pagar.

– Posso lidar com isso – ela disse, o queixo erguido com altivez – Estou feliz com a forma que acabou.

– Está só começando, amor – ele ameaçou – Sua vida e a de Ian não vai ser como você está planejando. Não conte com isso, eu não vou deixar. Primeiro porque não sabemos se ele ainda tem vida a essa altura.

Anahi viu o cabo da arma despontar no cós da calça de Alfonso e sua respiração ficou suspensa. Dulce e Maite trocaram um olhar de puro desespero. Em seguida a ruiva correu. Anahi engoliu em seco, imóvel, recusando-se a dar a Alfonso o prazer de vê-la desestabilizada.

Mas além disso, ela se surpreendeu com a constatação de Alfonso, de que ela e Ian intencionavam construir uma vida juntos. Anahi não tinha a pretensão que isso acontecesse, nunca teve, mas pretendia menos ainda negá-lo. Não lhe importava o que Alfonso pensasse sobre seu futuro uma vez que já não poderia interferir nele.

– Tudo bem – ela concordou – Eu também não planejei essa vida com você e estou viva ainda assim.

– Admiro seu otimismo, Anahi. Vai precisar dele, pois vai perder novamente para mim. Você sempre perde – constatou, dando com os ombros – A não ser que me peça perdão – sugeriu, debochado. Ela arqueou as sobrancelhas de surpresa – Vamos lá, peça desculpas. Estou disposto a aceitá-las porque me importo com você. Sabe o que vai acontecer se persistir nessa loucura. Não vai querer ter um lixo de reputação, nunca ser alguém na vida, morrer com a subdignidade da sua mãe.

Maite fechou os olhos, aos prantos. Estava desapontada demais para suportar aquilo. Não conseguia ficar ali, não queria ouvir tanta agressão. Ela foi para o corredor, sentindo-se nauseada. Agnes a acompanhou, ajudando-a a apoiar-se na parede, esperando, vigilante. Não deixaria que nada de ruim acontecesse - se é que podia piorar -, e quando Anahi saísse, estaria ali de qualquer forma. Por isso ela nem viu o momento em que a loira lançou a mão sobre o rosto já machucado de Alfonso, fazendo o som do tapa ecoar pelo quarto.

Ele moveu o maxilar como se o destravasse. Em seguida riu, despreocupado. Se ela estava reagindo assim, então ainda se importava com o que as pessoas pensavam. Como ele supunha, em poucos minutos ela voltaria atrás.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora