Capítulo 050

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(...)

Alfonso voltou ao seu quarto sentindo-se pesado pela frustração. A noite demorou demais a se converter em manhã. Ele saiu com o sol e Anahi ficou em casa. Novamente eles não teriam se encontrado se Herrera não a tivesse esperado na sala de jantar. Maite prendeu a respiração quando a loira entrou, sendo pega de surpresa pela presença de Alfonso. Mas abatida estava, então abatida ela continuou. Desviou os olhos e sentou-se ao lado de Maite. Foi servida, comia calmamente...

Any – Gabriel balbuciou, mastigando uma das mãos. Maite arregalou os olhos, engasgando-se com o suco.

– Oh, meu Deus! – ela gritou, sorridente – Ele aprendeu a chamar por você, Annie!

Any – o menino repetiu, testando a palavra. Maite bateu palmas e Anahi gargalhou. Gabe parecia haver quebrado o fio de tensão da sala de jantar. William parecia muito agradecido por isso. Mas Alfonso continuava tenso sentado na extremidade da mesa.

– Que lindo – Anahi murmurou, encantada, apertando as bochechas do bebê.

– Tio Poncho não está achando isso justo, Gabe. Olha só a cara dele – Maite cochichou, rindo do irmão. Alfonso revirou os olhos – Está com ciúmes porque você não sabe chamá-lo ainda. Ou será que ele tem essa cara feia todos os dias?

– Maite – Herrera resmungou, enfadado.

Gabriel chamou Anahi outra vez, eufórico, arrancando uma risada estridente da loira. Alfonso sorriu, balançando a cabeça em negação.

– Acho que vou roubá-lo para mim – Anahi gemeu com uma carinha enternecida, apoiando os cotovelos na mesa.

– Ah não, Annie – Maite protestou – Você tem que fazer com Alfonso o seu próprio bebê.

O garfo de Alfonso estancou no meio do caminho até a boca enquanto o rosto de Anahi mudava de sereno pra sério e corado. A loira se endireitou na cadeira, subitamente desconfortável. Mas Maite continuava radiante.

– Bom, Gabriel está com sono – disse ela, levantando da mesa – Eu também. E William também. Então... Nós já vamos.

E como se nunca sequer tivesse passado por aquela sala, Maite, William e Gabriel sumiram em poucos segundos. Anahi fitou a porta ampla com incredulidade, boquiaberta. Aos poucos a tensão se refazia, ainda mais árdua do que em todas as outras vezes.

– Nesse caso, eu... – Anahi pigarreou, sussurrando num tom quase inaudível. Ela afastou a cadeira com um impulso e passou as mãos pela saia do vestido, fitando-a – Eu também vou.

Ela não ousava erguer os olhos e correr o risco de encontrá-los com os de Alfonso. Só queria sair dali e de preferência tão rápido quanto os outros haviam saído. A passos largos e pesados, tomou o caminho para a porta. Mas, desgraçadamente, Alfonso a deteve pelo punho, chamando-a pelo nome. Um golpe de nervosismo fez o estômago da loira se contorcer e ela fechou os olhos, fraca.

– Eu fui até o seu quarto ontem – foi o que ele disse.

Anahi não conseguiu decifrar a intenção por trás da voz misteriosa e não queria encará-lo para tentar descobrir. Ela continuou de costas, desviando-se, mesmo que a mão dele estivesse firmemente ao redor de seu pulso.

– Eu não quero falar sobre isso – dispensou secamente.

– Eu só queria dizer que nós podemos visitar Margareth e John – falou, hesitante – Quando você quiser.

Anahi engoliu a surpresa com um ofego exasperado. Esperava qualquer coisa. Gritos, um escândalo, um tapa, uma surra. Qualquer coisa, menos isso.

Por isso ela titubeou antes de virar para ele, de cenho franzido. Mas ele não parecia estar zombando. Anahi sabia muito bem reconhecer as ocasiões em que ele debochava dela e isso não estava acontecendo agora. E, para deixá-la ainda mais pasma, a expressão pacífica de Alfonso não mudou em exatamente nada pelos segundos seguintes, conforme ela o sondava, estreitando os olhos.

Um lapso passou por sua mente e ela pensou em questionar aquele comportamento, mas o deixou ir. Não tinha energia; sobretudo não lhe interessava mais entender as estratégias de Alfonso.

– Eu prefiro ir sozinha – decretou, séria, sustentando o olhar do marido.

– Certo – ele concedeu, balançando a cabeça. Anahi ergueu uma sobrancelha – Nós vamos juntos amanhã e depois você pode ir sozinha. Deixarei o aviso.

– Tudo bem – Anahi assentiu, calma. Não ia demonstrar emoção, de forma alguma.

– Tudo bem – Alfonso concordou, finalmente percebendo que seus dedos ainda estavam ao redor dela. Ele os afrouxou, soltando-a – Boa noite – desejou, olhando a esposa. Mas ela virou as costas, deixando-o sozinho, sem resposta. Não desejava o mesmo.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora