Capítulo 080

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Ao longo da noite, pessoas iam se acumulando na sala. A movimentação antes intensa, se assentava. Uma onda de ansiedade, infelizmente justificada por um triste motivo, pairava no ar. Alfonso tentava recalcular sua vida, absorto em seus próprios pensamentos. Sabia que se reaproximar de uma Anahi saudável seria uma tarefa árdua, mas vê-la doente era ainda mais difícil, portanto não pretendia medir esforços para ajudá-la a se recuperar. Queria a ela e seu filho bem, prontos para uma vida nova. Essa era sua única prioridade e seu maior desejo.

Margot, assim como Maite, ignorou e foi ignorada por Alfonso. Nem passava pela cabeça dele questionar a presença delas; tampouco o contrário. Minutos depois veio Dulce. As três se abraçaram, dando-se as mãos em seguida, como se pudessem transmitir força e energia uma a outra com o ato. Margareth também chegou algum tempo depois, indo checar o quarto. Até que a porta da sala se abriu pela quarta vez e a chegada de Ian, finalmente, retirou Alfonso de sua névoa particular e o jogou de volta a realidade, levando-o a lembrar que era dura demais de suportar.

Ele ergueu os olhos, incrédulo, e sua cabeça latejou com a simples visão. Não podia acreditar que aquele homem estivesse ali depois do escândalo que havia causado. Ele pensou ter passado por afronta suficiente quando tramaram contra ele. Continuar sendo confrontado daquela maneira era intolerável. Por causa disso, lentamente, Alfonso começou a retomar o sentimento de traição, a sensação de derrota, a raiva e a frustração. Sua garganta se estreitou e em pouco tempo ele estava arfando, sentindo o corpo esquentar. O ódio entrou em suas veias, se apoderando delas como um veneno que em vez de incapacitar, dava força. E ele achou em Ian a oportunidade perfeita de explodir.

Alfonso se ergueu, de punhos cerrados, disposto a acabar com a participação daquele sujeito naquela história, no entanto um médico deixou o quarto, enxugando a testa com uma toalha e desviando Alfonso de seu objetivo. Os que estavam sentados se ergueram, com as expressões distorcidas pela angústia da espera. Todos o olharam, aguardando, expectantes.

– Sinto muito, Sr. Herrera – o médico disse, pesaroso, enxugando as mãos – Não pudemos tentar muito, já era tarde. Ela está bem, vai se recuperar em breve, mas manter a gravidez seria impossível. Vocês são jovens e Anahi poderá engravidar novamente – então com uma mão sobre o ombro de Alfonso, concluiu: – Lamento.

Os olhos de Alfonso, contornados de vermelho, tremeluziram, paralisados. Algo dentro do seu peito ruiu e ele lutou consigo mesmo para conter o impulso de, finalmente, exacerbar tudo que havia guardado. Portanto simplesmente assentiu, girando nos calcanhares e saindo da sala. Maite o seguiu com o olhar, repleto de comiseração. Sabia que aquele momento era crucial. Era demais para uma noite e, mesmo assim, ele estava aguentando firme numa tentativa equivocada de fazer tudo parecer mais simples do que realmente era. Talvez para fazer com que o ódio de Anahi fosse menor, talvez para se resguardar da frustração de não ter conseguido salvar o bebê, sentimentos com os quais ele não saberia lidar, nunca soube. Guardar mais aquilo iria devastá-lo, consumi-lo pouco a pouco.

Alfonso se apoiou no móvel do espelho, encarando seu reflexo. O peso da responsabilidade pelo que havia acontecido estava esmagando-o. O efeito era devastador. Ele juntou força e bateu com os punhos fechados no espelho, quebrando-o com um grito de ódio. Na sala, as visitas se sobressaltaram, mas ignoraram sua reação quando ele voltou, obstinado em ver Anahi.

Margareth lhe deu passagem, dando breves instruções. Alfonso entrou e fechou a porta com cautela atrás de si. Ela estava deitada no centro da cama, afundada em mantas e travesseiros. A pele era fria e excessivamente pálida. Parecia uma boneca de porcelana frágil, muito fácil de quebrar. Feriu pensar que ele esteve muito perto de fazê-lo.

Ele testou a maciez do colchão. Pelo menos parecia confortável. A enfermeira se aproximou e posicionou uma toalha úmida e morna sobre a testa de Anahi, explicando que precisava aquecê-la durante alguns minutos, mas Alfonso a deteve, oferecendo-se ele mesmo para fazer o trabalho. Ficaram sozinhos por horas. Ele deitou ao lado dela, por baixo da manta, velando seu sono e recusando-se a vacilar. Acabou dormindo, mas por muito pouco tempo. Pela manhã, ele a aqueceu novamente, sentado ao seu lado. Depois posicionou uma mão sobre o ventre de Anahi em um toque suave, idealizando o futuro. Precisava acreditar que conseguiriam novamente. Seria como se nunca o houvessem perdido. Seria diferente.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora