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Anahi não dormiu com Alfonso. Não podia. Ela ocupou a cama que outrora fora de Margot e trancou o quarto. Ele foi buscá-la. Bateu na porta e chamou, mas Anahi simplesmente fitou a madeira, imóvel, assustada, como se algo sobrenatural rondasse a porta do quarto de uma garotinha indefesa. Alfonso desistiu e Anahi esperou que ele voltasse com uma chave reserva, que a obrigasse a sair, mas isso não aconteceu e ela só soube que havia dormido sozinha no antigo quarto de Margot quando finalmente acordou.
– Bom dia, meu anjo. Sente-se aqui perto de mim para tomar seu café – Alfonso desejou assim que ela surgiu na sala de refeições, sonolenta. Maite sorriu para ela, mas a loira não percebeu, pois girou nos calcanhares e sumiu dali.
Herrera encarou a porta vazia, piscando. A irmã, constrangida, começou a dar o mingau de Gabriel mais apressada que o costume. William baixou os olhos, fitando o café girando em sua xícara.
– Bem... – Alfonso pigarreou, desdobrando um guardanapo sobre as pernas – Parece que ela acordou de mau humor.
Fora dali, Anahi pegou uma carruagem com um destino certo: a casa de Dulce. A ruiva a recebeu empurrando-a para dentro com ansiedade e as duas passaram boas horas trancadas no quarto.
– Fala alguma coisa – Anahi sussurrou depois do silêncio cortante que se instalara no quarto – Por favor.
Dulce engoliu em seco, confusa, o choque estampado no rosto gelado. Ela havia alertado Anahi sobre Alfonso uma vez, pois sabia que aquele homem tinha todo o potencial de fazê-la sofrer. Mas o que Anahi acabava de lhe contar nunca havia passado por sua cabeça, nem na pior de todas as hipóteses. O casamento da amiga transcorreu bem por muito tempo. Alfonso era um homem gentil, educado, polido... Isso com certeza encobrira outras características. Pelo visto, ele enganara até mesmo Dulce sem sequer terem tido uma conversa que durasse mais que cinco minutos.
– Não sei o que dizer, Annie.
Anahi não conseguiu sustentar os olhos de Dulce por mais tempo. Ela baixou o rosto, secando uma lágrima teimosa que escorreu pela sua bochecha.
– Entendo.
–Eu... – a ruiva franziu o cenho, tentando reconhecer a sensação que tinha – Eu estou morrendo de raiva. Você precisa fazer alguma coisa.
Annie sacudiu a cabeça.
– Não tenho o que fazer.
– Mas a mansão é sua!
– Era minha – corrigiu, desolada – Agora é dele. Mas não é isso que machuca. Eu só queria que ele tivesse me amado pelo menos um segundo do tempo em que estivemos juntos. Queria que ele não pudesse ser capaz. A mansão podia ser dele, só não precisava ter me apunhalado assim – ela balançou a cabeça, se encolhendo – E não sei se estou disposta a entrar numa briga com o homem que amo por uma propriedade que não me interessa.
– Chega disso! – disse Dulce, erguendo a cabeça de Annie pelo queixo – Você pode recuperar sua herança. É sua, queira você ou não.
– Dulce – Anahi respirou fundo – Você realmente não entendeu? Não há nada que eu possa fazer.
– Talvez você possa provar que foi enganada...
– Não, Dul. Ele me manipulou e eu caí. Fez tudo de forma tão perfeita que sequer posso alegar isso. Quem pode me defender por ter sido tão cega e iludida? A culpa foi minha. Eu estava consciente, eu estava de acordo, eu aceitei.
– Mas você não podia desconfiar de nada! – a ruiva reagiu imediatamente. Anahi simplesmente deu com os ombros, buscando o colo da amiga para se deitar. Dulcesuspirou profundamente – Eu sinto tanto, Annie...
– Eu também.
– Você vai voltar para casa?
Anahi balançou a cabeça, dobrando as pernas junto ao corpo. Aconchegou melhor a cabeça sobre as coxas de Dulce e fechou os olhos, impedindo que as lágrimas transbordassem. Pelo menos se sentia protegida agora.
– Aquela não é minha casa, mas eu não tenho pra onde ir.
– Você pode ficar aqui comigo – a ruiva sugeriu. Anahi soltou uma risada amarga, mas não respondeu. Seria realmente ótimo se pudesse, pelo menos naquele dia. Se ela ao menos soubesse um lugar onde Alfonso não pudesse encontrá-la... Onde ninguém pudesse vê-la...
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Ruas de Outono
Fanfic[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...