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Anahi mudou de poltrona, inquieta, aproveitando para olhar através da janela quando levantou. Mas nada estava diferente, não havia ninguém vindo, Alfonso não estava ali.
Havia uma bandeja com um bule e duas xícaras vazias na sua frente. Estava sobre a mesa de centro, colocada entre uma outra poltrona, aquela onde ele deveria estar. Mas não estava, era claro. Ele lhe disse que voltaria... Mas não voltou. Ela deveria imaginar.
Anahi passou bons minutos encarando o vazio, as mãos postas sobre as coxas. Estava ereta, mas sentia-se destruída. O rosto estava morto. Lentamente, os olhos foram enchendo-se de lágrimas. Não por Alfonso, mas por ela mesma. Por ser uma idiota patética e por ter acreditado naquele sujeito.
Subiu para o quarto e de lá não saiu. Sentia-se esgotada pelo próprio remorso, pelo ressentimento, pela vergonha do que fizera no dia anterior, dos beijos que trocaram. Deveria ter-se lembrado que não era a opção de ninguém, nem a primeira e nem a última. Que ele apenas queria fazer o que tantos outros tentaram, inclusive descartá-la logo depois. E conseguira. Com grande êxito, com todo o seu consentimento! Se já fosse do conhecimento de toda a Inglaterra que Anahi Portilla era uma vagabunda burra, a própria com certeza teria que concordar.
Ela tocou o pescoço, aos prantos, e lembrou da boca sedenta que a sondou bem ali. Apertou a pele com tanta raiva que as unhas afiadas deixaram rastros vermelhos. Esfregou os lábios e chegou até a cuspir. As lembranças das mãos percorrendo suas curvas já não lhe traziam os mesmos sentimentos. Precisava se banhar de novo. Dezenas de vezes até parar de se sentir tão imunda, tão profundamente arrependida.
Na manhã seguinte, decidiu não esperar por ele. Tinha uma vida que seguia em frente.
Assim foi durante dias. Depois, com a impressão de que já fazia muito mais tempo, havia se passado uma semana inteira. Margareth não perguntava mais sobre Alfonso, não queria magoar a sobrinha. O olhar penalizado era o bastante para Anahi.
Ela vestiu um vestido branco qualquer e desceu para preparar o café, um artifício para se distrair. Há 7 dias Alfonso não a visitava e ela costumava evitar o pensamento. Podia dizer que o dia estava indo muito bem. Isso até Judith chegar.
– Está com um rostinho de frustração, Annie – sua prima constatou, mordendo uma maçã.
– Certamente estou – Anahi disse, dispondo xícaras e talheres sobre uma bandeja – Tinha esperanças de não vê-la hoje.
A outra riu, sentando sobre a mesa. Anahi continuava fazendo seu serviço.
– Ainda não tivemos oportunidade de conversar direito. Como foi aquele seu passeio com Alfonso? Aquele há muito tempo atrás...
– Horrível – Anahi rebateu de imediato.
– Aposto que sim – a prima refletiu – Foi uma despedida? Desde então não o vi por aqui. O que você acha que aconteceu?
– Não sei – Anahi deu de ombros, azeda – Ele deve ter morrido.
– Annie – a morena inclinou a cabeça e sorriu, olhando a outra com piedade. Depois disse, soando óbvia: – Ele não perderia tempo te fazendo a corte. Ele já conseguiu o que queria.
Anahi fechou os olhos e respirou fundo, plácida, mas sentia algo ruir por dentro. Equilibrou a bandeja já montada sobre um braço, pronta para sair.
– Tenha um pouco mais de cuidado em quem você confia, Judith. As pessoas podem te enganar.
– Sei muito bem disso, Anahi. És um exemplo perfeito.
– Imagine então alguém que sequer vive sob o mesmo teto que você.
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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...