Capítulo 065

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***

Ian não estava mais na sala de jantar quando Anahi voltou, mas nem por isso ela conseguiu manter a calma. Era puro nervo sob a máscara de uma esposa solícita e perfeita. Qualquer movimento brusco e aquilo explodia.

Depois que a mesa estava completamente disposta, cada um em seu lugar, e os empregados posicionados para atender prontamente a qualquer solicitação, Alfonso resolveu se explicar. Com Anahi ao seu lado, ele pigarreou.

– Boa noite a todos. Sinto-me honrado em recebê-los em minha casa em nome de uma causa tão nobre como a que temos hoje. Eu os convidei até aqui para comunicar oficialmente que decidi reativar a vinícola e que a história do vinho de Londres vai renascer.

Então houveram palmas e bons minutos de euforia. O discurso que se seguiu passou despercebido para Anahi. Desde que Alfonso mencionara a "sua" casa e ela teve que fazer um esforço descomunal para não rir, sua cabeça foi inundada por outras coisas. Além do mais não precisava ouvir, pois já sabia o que viria, Ian antecipara o impacto. Fingir surpresa não era sua prioridade naquela noite. No entanto, o nome de Arthur na voz de Alfonso a fez despertar.

– Em sua adega, haviam diversas garrafas de vinho – dizia ele. Quando Anahi ergueu os olhos, subitamente atenta, havia uma garrafa na mão do marido – Dez anos, doze, quinze... Aqui está um vinho envelhecido durante trinta e sete anos. Ele é mais velho que você, meu amor – Herrera gracejou, acariciando o queixo de Anahi. Um breve coro de risadas se ergueu na mesa – Esta noite, nós vamos degustá-lo para que vocês saibam o que os espera quando a vinícola estiver ativa outra vez. Além disso, iguais a essa, há cerca de mais trinta. E o melhor disso tudo é que elas estão à venda!

Alfonso mal concluiu e um verdadeiro burburinho dominou a sala de jantar. Anahi não reagiu, mas a sua irritação ainda estava presente, dessa vez mais violenta. Aquele homem era inacreditável.

Ela fez questão de ser a primeira a experimentar o vinho. Quando Alfonso baixou a garrafa para despejar uma mínima quantidade de bebida na taça da esposa, ela o segurou pelo pulso bruscamente, fazendo-o inclinar a garrafa. O líquido encheu até a metade e Alfonso nem teve tempo de protestar, pois Anahi o entornou gole após gole até não haver mais nada. Os convidados observaram, atônitos, e ela acenou com a taça vazia em sinal de aprovação.

Herrera não discutiu e serviu cada convidado, como um sommelier faria. A diferença era que Alfonso fazia melhor. Ele envolvia cada pessoa como se ela pudesse viajar para outro mundo simplesmente ao fechar os olhos, ao sentir o gosto do vinho se alastrando pelo paladar. Era uma situação naturalmente refinada e que parecia ainda melhor quando ele quem comandava. Os sentidos se misturavam de uma maneira deliciosa para cada pessoa que imitava os gestos de Alfonso, conforme ele ordenava. Ele girava o líquido na taça, observava contra a luz, inalava o aroma. Aquilo era profundo... Então observando cada passo do marido e com um arrepio na espinha, Anahi antecipou o momento que ele se adiantou até ela. Os olhos e o sorriso de Herrera o denunciavam.

– Eu esqueci de mencionar o quanto você está deslumbrante, anjo – ele disse, enchendo a taça dela outra vez.

Sem tirar os olhos dos de Anahi, Alfonso apanhou sua taça, levando-a aos lábios da esposa. A loira sorveu o vinho delicadamente, encarando-o. Depois foi Alfonso quem bebeu, dessa vez um pouco mais que ela. Os olhos não se separavam. Então com os lábios ainda úmidos, ele se inclinou e a beijou com sede. Era maravilhoso senti-la com aquele gosto na língua; formava uma combinação explosiva. Alfonso chupou o lábio inferior de Anahi entre os seus antes de se afastar e, quando o fez, ela passou bons segundos de olhos fechados, levemente ofegante.

– Deus do céu, se você pudesse ver isso... Sua boca vai me deixar excitado pela noite inteira, Ana – grunhiu rente ao ouvido de Anahi. Ao abrir os olhos, ela o viu repetir o gesto de antes: apanhar sua taça e levá-la à sua boca. No entanto, propositalmente, Herrera deixou que o vinho transbordasse dos lábios de Anahi. Um fio escuro da bebida escorreu pela lateral, sendo logo amparado pela boca de Alfonso. A outra gota percorreu um caminho que parecia ensaiado: cruzou o queixo de Anahi, escorreu pelo frontal do pescoço e lentamente penetrou no vale entre os seios da loira, sendo acompanhada pelo olhar perscrutador de Alfonso. Quando a gota sumiu, ele sorriu, tirando um lenço de seu paletó.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora