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As batidas insistentes na porta do quarto fizeram Christopher se sobressaltar.
– Quem está aí? – gritou sem tirar os olhos da janela.
– Abra esta maldita porta, Uckermann – Alfonso resmungou.
Pelo tom, estava realmente furioso.
O advogado se afastou com pressa, abriu a entrada para o quarto e voltou exatamente para onde estava. Herrera entrou num rompante, pisando forte no chão. Christopher continuou imóvel, agora mordendo a cabeça do próprio polegar.
– Já sei o que vou fazer com Anahi – anunciou Alfonso. O amigo olhou para ele com um semblante de fascínio.
– Claro – disse, acenando para Alfonso – Mas antes venha aqui, Herrera. Olhe só – indicou uma mulher ruiva sentada na praça quando o outro se postou ao seu lado – Não é a mais bela que já viu em toda a sua vida? As londrinas são mesmo espetaculares.
Alfonso a encarou fixamente, embora nem mesmo estivesse prestando atenção. Ela estava lendo um livro, quase não se movia. Fora o seu advogado, ninguém estava interessado naquilo. Além do mais, quando se mencionava uma mulher espetacular, não era naquela ruiva em quem Alfonso pensava e sim no motivo que o levara até ali.
– Eu vou matá-la, Christopher – ele falou. A voz, mais grave do que nunca, ecoou duramente pelo escritório – Eu vou matar a Anahi.
Uckermann tirou os olhos da ruiva com muita hesitação e os direcionou para Alfonso, pensando ter ouvido algo errado. A mente estava um andar abaixo dali, vagando vagarosamente, portanto Christopher levou alguns bons segundos até ter conseguido absorver a informação. Então franziu o cenho.
– O que disse?
– Eu vou matá-la – Alfonso repetiu.
Christopher soltou uma breve risada descrente.
– Não está falando sério.
– E por que não?
– Porque você não perdeu o juízo – disse Uckermann, já não tão sorridente quanto antes.
– Mas estou quase – Alfonso ponderou – Ela está me enlouquecendo. Eu poderia, eu juro que poderia enforcá-la com minhas próprias mãos – imitou o gesto, raivoso, torcendo os punhos até que eles estivessem fortemente fechados.
Christopher gargalhou.
– Você não é tão horrível assim. Eu já dei sua solução. Case-se ou conviva com o risco iminente de ficar sem a herança – ergueu os ombros – É simples.
– Simples? – Herrera gritou, sentindo vontade de pendurar o advogado pelo colarinho – Case-se, é simples! – repetiu, zombeteiro – Verdade, mas o consentimento da noiva é de suma importância, não acha? – ironizou.
– E você ainda não o tem?
– Você não entende, não é? Anahi é impossível – soletrou, parecendo transtornado – Agora já não me deixa sequer tocá-la. E, garanto, meu caro, não é exatamente agradável estar perto dela sem fazer isso.
O advogado começou a rir, inclinando-se para trás.
– É o preço que se paga por estar cortejando uma moça recém apresentada. Chá da tarde, passeios a cavalo, encontros em público. Tocá-la do jeito que você espera? – assobiou, divertido – Só depois do casamento.
Alfonso ofegou, andando pelo quarto, inquieto. O casamento... Depois de 5 meses. Ele tinha vontade de morrer ao pensar nisso. Era tempo suficiente para ela descobrir o que não podia ser descoberto. Era tempo suficiente para ele se enfiar, por conta própria, numa camisa de força!

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Ruas de Outono
Fanfic[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...