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E por isso Alfonso sentiu-se profundamente inquieto ao desistir da ideia. Segurou os pequenos punhos endurecidos que estavam contra seu peito e os massageou, com um insinuante sorriso no rosto semicoberto. Anahi pediu a Deus que ele parasse de agir tão sensualmente, não porque se julgasse incapaz de resistir, mas porque as pessoas ao redor estavam de olhos esbugalhados sobre os dois, e porque gritar a envolveria num escândalo ainda maior.
– Não acha que já resistiu demais? – murmurou ele – Eu já estou convencido de que sabe me pôr em meu devido lugar, mas não acha que chegou a hora de conversarmos como dois adultos que sabem bem o que está acontecendo aqui?
– E o que está acontecendo aqui, Herrera?
– Ora, Lady Bennington, não achei que você fosse o tipo de mulher que perde tempo fazendo perguntas das quais já conhece as respostas.
Anahi titubeou, envolvida pelos braços que a guiavam. Deus, por que ela não corria agora mesmo? Por que não fugia? Aquele estrangeiro conquistador ia arruinar a sua vida amorosa que ainda nem existia e, mesmo assim, ela continuava com as mãos em seus ombros, valsando.
– Acontece que não é assim que funciona. Não comigo. Não posso sair com um estranho – sussurrou, parecendo mais pesarosa que decidida. Ele apreciou o tom indeciso da voz.
– Não sou mais um estranho. Você está dançando comigo. Agora sou seu par.
– Eu não sou um desafio, Alfonso Herrera. Não estou disponível.
– Se o problema é o que vão pensar, levo você a um lugar reservado.
– Você enlouqueceu! Não quero sair com você! As coisas aqui não são como na América – esbravejou a loira, incrédula. Depois, olhando ao redor, falou: – Talvez sejam, mas não na maioria do tempo e não com todas.
Ele sorriu. Sabia que tinha nos braços uma daquelas exceções, embora ainda não tivesse certeza do que fazer com ela.
– Estou certo que não. Por que não tira sua máscara? Adoraria ver o seu rosto.
– Sinto muito, mas a regra é clara, Herrera, só permanecem aqui dentro os convidados que estão usando máscaras.
– E você não gostaria de sair um pouco?
– Não, mas agradeço o convite.
Alfonso grunhiu e Anahi reprimiu uma risada. Apesar de todo o nervosismo, se sentia orgulhosa. Sempre sentira-se, afinal. Gostava de mostrar que não podiam alcançá-la tão facilmente. Assim o tempo mostraria à cidade que valia muito mais do que podiam imaginar.
– Parece-me que você tem medo – disse ele, soando bastante misterioso. Quando Anahi ergueu os olhos, pega de surpresa, percebeu que ele a encarava profundamente. Sustentou o olhar. A pele, de repente, começou a esquentar outra vez.
– Absolutamente não.
– Sim, é o que eu penso. Sente-se em perigo estando comigo aqui, em meio a tanta gente, que pensa que irá chorar de pavor quando estivermos sozinhos.
– Não vamos estar sozinhos nunca! – ela contestou, exasperada – Tampouco eu choraria de pavor. Homens como você não me assustam, apenas me divertem.
– Mesmo?
– Mesmo!
– Que bom – ele riu – Não é com mulheres como você que costumo me divertir, mas adoraria... E não diga nenhuma obscenidade, Lady Bennington. Não faça uma cena – Alfonso sussurrou, inclinando-se até alcançar a orelha perfumada da loira, não deu tempo para que ela exacerbasse uma reação – Todos estão olhando. Diga-me por que reparam tanto em você? Além do fato de ser a mais bonita que vi por aqui.
– Bondade sua! – replicou, irônica – Eu diria que você, sim, é a grande atração da noite.
– Não, não me engane. Você é a grande sensação da temporada, não é? – perguntou, segurando-a com mais força, fazendo-a estreitar-se contra seu peito – Quantos rapazes estão duelando para casar com você?
– Chega dessa dança – Anahi resmungou, afastando-se. Fora rápida e persistente o suficiente para fugir das mãos de Herrera. Sua voz soou afiada outra vez – Estou aborrecida e preciso ir embora.
Alfonso tentou segurá-la, mas ela escapou.
– Eu alugo uma carruagem para nós!
– Nós...?!
– Posso acompanhá-la até sua casa.
– Não!
Ela deixou o hotel em disparada com Alfonso em seu encalço. Os tornozelos cobertos por uma meia de seda branca surgiram logo que agarrou a saia de seu vestido e a ergueu poucos centímetros para atravessar a grama.
– Deixe-me em paz! Insolente! – dizia, exaltada – Que desaforo!
Anahi chegou a estrada de terra onde as carruagens, seus cavalos e seus donos esperavam a postos por algum ocupante. Um simples aceno a um daqueles caipiras foi o suficiente. Ele segurou a portinhola para a lady. Anahi estava pronta para embarcar.
– Escute, desculpe-me se não cortejei você adequadamente, se não te prometi o meu amor, nem filhos, nem uma casa no lago – disse Alfonso apressado, um tom acima do zunido do vento entre as copas das árvores – Você já tem pretendentes demais, não sou ousado o suficiente para entrar nessa disputa.
– Está certo – a lady resmungou ao se acomodar no banco. O pequeno senhor bateu a porta. Com a cabeça projetada pela janela enquanto o cavalo começava a se movimentar, Anahi continuou: – Porque você não tem a menor chance.
O trotado encerrou a conversa. A carruagem ia embora. E Anahi também.

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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...