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– Margot!! – foi o grito que a Sra Herrera deu, do andar de cima, fazendo a idosa e uma outra empregada, mais jovem, pararem de cortar seus respectivos legumes e olharem de súbito uma para a outra.
– Ahn, deixe que eu vou – anunciou Julia, largando imediatamente sua faca sobre a mesa e se apressando em direção a sala.
– Não me recordo de haver escutado seu nome – Margot rebateu, orgulhosa, fazendo o mesmo caminho que a outra. Porém Julia a interceptou, parecendo ligeiramente afobada.
– Margot, eu disse que eu vou!
– Acontece que é a mim que ela está chamando!
– Mas você precisa preparar o jantar! – a mais jovem argumentou com um sorriso amarelo – Fique aí e eu vou ver o que ela precisa.
– Julia, ela manda nessa casa, não você!
– Mas foi o Sr Herrera quem me deixou responsável por tudo que sua esposa precisasse – soltou, hesitante – Disse-me também que não permitisse que você ficasse sozinha com ela. Desculpe.
Margot franziu o cenho, enquanto a outra parecia completamente insegura e pesarosa em dizer o que dizia. Não era de se admirar. Desde que Alfonso chegara, e muito antes dele ter ido embora, Margot era quem chefiava todos os serviços domésticos, e por ordem do próprio. Os empregados estavam acostumados com aquilo. Contudo, agora era diferente. E embora contente com a sua nova atribuição, Julia não podia entender o motivo de tê-la recebido. Ela estava há pouco tempo ali e tinha tanto medo de receber tanta responsabilidade que nem conseguiu ficar feliz quando o patrão havia lhe dado a notícia. Mas Margot entendia. Ele estava lhe escondendo alguma coisa da qual ela apenas desconfiava.
– Alfonso não fez isso – a governanta negou em tom de amargura e descrença, balançando a cabeça. Julia baixou os olhos.
– Ele fez, Margot. Dessa vez ele não te escolheu.
A mais velha encarou o vazio por um segundo, sem nenhuma expressão no rosto, e no outro já estava irrompendo pela escada. Julia abriu a boca, incrédula, correndo atrás da idosa que, a despeito de sua idade, estava conseguindo ser mais veloz que ela.
– Não! – grunhiu ao ter o braço agarrado. Margot tentou esticar a mão livre e alcançar a maçaneta do quatro dos patrões, mas Julia estava atracada nela, impedindo-a de se movimentar – Me solte, menina!
– Criatura, obedeça!
– Você não me dá ordens!
– Por Deus, como você é teimosa! – a mais nova sussurrou, angustiada, batendo um pé no chão.
– Olá? – disse a voz doce de Anahi ao lado das duas. As empregadas, que estavam praticamente se arranhando, soltaram-se de supetão, vendo que a porta havia sido aberta e que Anahi estava logo ali – Será que vocês podem me ajudar com a mobília?
– Claro, Sra Herrera! – Margot se disponibilizou de imediato, sorrindo abertamente, enquanto Julia ainda estava zonza pelo susto – O que necessariamente devemos fazer? Está suja? Empoeirada? Eu limpo!
Anahi soltou uma risada com a amabilidade daquela senhora.
– Não, na verdade, quero trocar algumas coisas de lugar.
Margot ia dizer algo, mas Julia foi mais rápida.
– Bem, Sra Herrera, não é que eu não queira ajudar... – murmurou, unindo as duas mãos de frente ao corpo – Mas acho que este seja um trabalho para os homens. Eu e Margot podemos descer e chamar alguns rapazes.
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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...