Capítulo 015

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Anahi havia passado semanas pensando no discurso que usaria com Alfonso para explicar que não queria nada mais que conhecer seu próprio pai, mesmo que já nem houvesse sombra de Herrera atrás dela. Queria estar preparada para o caso de esbarrar com ele e ele tentar matá-la, achando que estivesse a ponto de aplicar um golpe. Mas todas as justificativas se apagaram. Afinal, em vez de estar sendo estrangulada, Anahi estava sendo cordialmente tratada.

– Que diabos você está pretendendo? – grunhiu, quase cravando as unhas no braço masculino – Será que pode me explicar, de uma vez por todas, o que há de tão interessante em perturbar a minha vida?

Alfonso suspirou. Desde o momento em que havia decidido fazer o que Christopher sugeriu, sabia que não podia dedicar-se pouco à tarefa. Com Anahi não. No entanto agora parecia muito mais difícil. Ela não gostava da sua companhia e ele tinha a impressão que jamais gostaria. Mesmo quando sorriu docemente para ela e beijou-lhe a mão com cortesia ou mesmo tendo lhe trazido flores, sentia que o sangue que corria em suas veias era fervente de ódio. Aquilo o deixava contrariado.

– Ana, não quero perturbar a sua vida. Simplesmente acho que começamos de uma maneira equivocada – explicou, abrindo a portinhola da carruagem para ela. Antes de entrar, Anahi retrucou:

– Se começamos alguma coisa, esta já terminou. Você não consegue me deixar em paz?

Alfonso revirou os olhos e bufou, dirigindo-se à porta oposta. Quando sentou-se ao lado de Anahi, ela se afastou com raiva. O cavalo começou a trotar e ela se mostrava apenas disposta a ignorar o homem ao seu lado, mantendo-se absorta na paisagem que corria as margens da estrada, o rosto virado, longe da visão de Alfonso. Daria o passeio aos tios e mais uma boa dose de indiferença a Herrera. Talvez dessa vez ele desistisse de qualquer que fosse sua ideia psicótica.

– Não quero te deixar em paz. Ouça, nós vamos... – então ele teve de se interromper quando Anahi projetou o corpo para fora da carruagem, acompanhando uma outra que passava pela estrada em sentido contrário.

Ela pensou ter visto Judith quando seus olhos cruzaram, por uma fração de segundos, com os da moça que estava dentro daquele outro coche. Então parecendo haver compartilhado da mesma sensação, a mulher projetou-se pela janela na mesma posição que Anahi, apurando a visão. Assustada, a loira endireitou-se rapidamente, pondo uma mão sobre o peito.

– Era Judith... Ela me viu com você.

A prima estava indo para casa e faria mais um de seus escândalos por vê-la com Alfonso, podia imaginar. Judith não precisava de muito para falar sobre a mentira que ele lhe contou. Agora Anahi estava passando mal de verdade.

– Ela não vai fazer nada – assegurou, sereno – Eu não permitiria.

A loira o fitou, séria.

– Claro. Espero que tenha dado a ela razão o suficiente para não disseminar sua historinha.

Alfonso esticou o canto dos lábios, balançando a cabeça em negação.

– Você está sempre preocupada demais.

– E você tem tudo sob controle, não é? Tudo e todos, Judith e até mesmo os meus tios.

– Menos você, Ana. O que eu preciso fazer?

Os olhos de Alfonso encararam os seus, azuis, e Anahi resistiu para conseguir sustentá-los. A verdade era que não suportava aquele contato sem sentir seu rosto inteiro arder. Dessa vez, ele não usava aquilo como uma tática de ameaça, mas de sedução. Anahi sentia-se muito mais em perigo, portanto teve de reverter o jogo.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora