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Uma semana se arrastou com lentidão. Alfonso não respondeu imediatamente ao pedido de Anahi e ela reservou energia simplesmente para se recuperar, deixando-o livre para ponderar com sensatez e agir como uma pessoa adulta e equilibrada agiria. Se fosse possível... Com isso, Alfonso parou de vê-la e a sua cabeça se voltou unicamente a tomar uma decisão sobre o futuro do seu casamento. Na verdade, ele sentia que há muito a decisão havia sido tomada, ele é quem ainda não havia podido digeri-la.
Não houve muito durante aquele tempo, mas ao final da segunda semana Anahi estava prestes a surtar pelo silêncio de Alfonso e ele, em contrapartida, se encontrava cada vez mais apático, sem energia para se deparar com o final daquela história e, por isso, evitando encará-lo.
– Por que ainda não o procurou? – Dulce perguntou – Quero dizer, não necessariamente você, é claro, mas alguém que pudesse incentivá-lo a responder o que você solicitou.
Anahi, que estava em uma ponta da mesa de jantar, entendeu exatamente a que a amiga se referia. Ian, também sentado com elas, ficou atento a resposta.
– Sinto vontade de fazer isso todos os dias – disse a loira – Quero estar livre o mais rápido possível desse pesadelo, mas não devo meter Ian nessa história novamente, por isso penso em encontrar outro advogado.
– Já estou metido nessa história até o pescoço – ele rebateu.
– E muitas outras partes do seu corpo – sussurrou Dulce, rindo, referindo-se ao braço e ao pé de Ian. Os ferimentos já não levavam faixas, mas ainda lhe garantiam bons momentos de dor aguda. Portanto a reação inicial do advogado foi dirigir a ruiva um olhar ofendido, mas segundos depois ambos explodiram em gargalhadas, deixando Anahi exasperada.
– Parem de brincar com isso! – ela reprimiu – Não tem a menor graça! Você poderia estar morto!
– Mas estou vivo e tenho cuidado de tudo isso para você de bom grado.
– Sim, mas eu pretendia que outra pessoa levasse essas questões pessoalmente.
– E ainda não compreendo suas razões – ele retrucou, cruzando os braços.
– Compreende sim – Anahi devolveu, teimosa – Sabe exatamente o meu ponto, mas tomou essa guerra como sua e quer ganhá-la a qualquer custo.
– Protesto! – Dulce interviu, erguendo a palma da mão aberta – Estamos tentando ganhá-la pelos meios corretos e legais.
Ian riu, satisfeito, e Anahi revirou os olhos.
– Estão esquecendo que há uma enorme chance de que Alfonso não aceite nada do que proponho, sobretudo se Ian Somerhalder as propuser em meu nome.
– Qual o problema? Vamos a um tribunal – ele contestou prontamente, dando de ombros.
– Um litígio seria muito burocrático e estressante, Ian. Honestamente, eu não queria que você se ocupasse com isso.
– Anahi – Somerhalder interrompeu, pousando a mão sobre a dela no centro da mesa – Você está sendo burocrática. Eu posso livrá-la do litígio. E, podendo, vou fazê-lo. Não precisa tentar me afastar dessa forma. Não vai conseguir.
Anahi sustentou o olhar de Ian. Ela queria desvendar o que havia por trás de toda aquela determinação, mas por um único propósito: fugir. A ideia de tê-lo perto ao dar um passo tão importante, outrora reconfortante, agora começava a lhe causar insegurança. Era verdade que Ian lhe oferecia o apoio profissional que precisava, no entanto as emoções involuntariamente envolvidas naquele vínculo lhe levaram a hesitar. Primeiro porque temia que sua proximidade incentivasse em Ian sentimentos que não seriam correspondidos. Temia, sobretudo, algum dia chegar a correspondê-los. Hesitou porque, além disso, era difícil perdoar a si mesma pelas situações caóticas em que o havia envolvido. E hesitou também porque gostava demais dele para arriscar continuar a prejudicá-lo. Aceitar que se envolvesse nisso novamente era uma atitude irresponsável que Anahi não poderia tomar.
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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...