Capítulo 069

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– Parece fácil quando você está lá – Alfonso disse.

Anahi o olhou. Ele estava ao seu lado, recém-chegado de alguma negociação, ela supunha. Segurava uma pasta pesada e apoiava o paletó sobre um ombro, parecendo cansado. Ela acariciou a crina de Scorpion mais uma vez, sorrindo.

– Garanto que é. Basta um pouco de treino.

Alfonso se aproximou mais para colher o rosto da esposa pelo queixo, virando-o para si. Ele sustentou o olhar dela por alguns segundos, procurando por algum sentimento não expressado. Desde a conversa da tarde passada, Anahi não havia voltado a mencionar qualquer coisa sobre o jantar, nem havia se indisposto com ele, embora também não houvesse demonstrado contentamento em tê-lo por perto. Novamente, ele não encontrou nada.

Ela o beijou rapidamente, sugerindo logo após:

– Vem aqui. Eu cedo meu campeão para você.

Alfonso ergueu uma sobrancelha, surpreso.

– Ainda quer que ele me mate?

– É claro que sim – ela confirmou, rindo.

Alfonso gargalhou, aceitando o desafio que ela propunha. Ela montou Juliet depois de tê-lo ajudado a montar Scorpion. É claro que Alfonso não estava nem um pouco confortável com aquilo, mas não tinha objeções aos momentos de paz com Anahi. Se ela estava lhe oferecendo um passeio a cavalo, ele não poderia fazer menos que aceitar.

Ao lado de Juliet e sob os comandos de Anahi, Scorpion seguia calmamente. Alfonso tentava imitar cada gesto da loira para que o cavalo realizasse suas manobras. Nem de longe o trato era perfeito como o de Anahi, mas ele estava se esforçando.

– Está vendo? – ela comentou após soltar a guia de Scorpion, deixando-o totalmente livre para Alfonso – Se agir com cautela, ele saberá que pode confiar em você, que não vai machucá-lo tentando fazer com que o obedeça.

Parecendo entender ao que Anahi se referia, Scorpion relinchou e trotou mais depressa, assustando tanto a loira quanto o marido. Alfonso segurou a rédea imediatamente, da mesma forma que ela havia lhe ensinado, respirando aliviado quando o cavalo parou.

Anahi sorriu, tensa.

– Isso foi muito bom, Poncho – ela elogiou – Não pode nunca demonstrar que tem medo dele ou ele fará de tudo para apavorá-lo, deixando você em completa desvantagem. É bem parecido com as relações humanas.

Alfonso lamentou em silêncio que muito provavelmente Anahi estivesse se referindo ao relacionamento dos dois, às vezes em que lhe provocara medo para que ela estivesse sempre subjugada, obedecendo-o. Lamentava porque a culpa era inteiramente sua e porque nenhuma atitude até hoje tinha sido forte o suficiente para mudar aquela realidade.

Mas ela não fez ou disse mais nada além disso. Talvez Alfonso estivesse apenas se sentindo culpado o bastante para desconfiar de cada gesto e palavra dela, admitindo que fossem para ofendê-lo.

Depois disso, dois dias se passaram rapidamente. No fundo, Anahi esperava que Alfonso não lhe desse nenhum sinal, nada que a fizesse titubear em sua decisão. Seria mais fácil assim.

Não que pudesse realmente recuar. Estava claro, desde muito tempo, que aquilo aconteceria. Alguma hora teria que acontecer definitivamente. Como havia dito a Maite antes, deixaria para pensar nisso quando a hora chegasse. A hora chegara e finalmente Anahi já havia pensado o bastante.

Na noite anterior ao encontro com Ian, por sorte, Alfonso estava atrasado para o jantar. Anahi deixou a sala com tranquilidade, avisando que não iria esperá-lo e que se recolheria para dormir sem comer. Seu estômago estava dando voltas. A ansiedade lhe tirava o apetite, a fome lhe obrigava a comer e o nervosismo lhe fazia vomitar. Por isso há dias evitava comer pela noite, pois sentia dificuldade de dormir até que o jantar estivesse completamente fora de seu corpo.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora