Capítulo 075

621 49 19
                                        

***

No escritório de Alfonso, no último andar da mansão, estava um Christopher chocado, jogado sobre uma poltrona. Ele havia chegado a imaginar que a versão do piquenique de Dulce e Ian fosse uma grande mentira, mas nem suas mais loucas suposições o levaram para perto do que seria a verdade. Agora que Herrera havia lhe explicado os detalhes, era simplesmente estarrecedor.

– Isso quer dizer – ele perguntou, analisando – Que a amiga dela está disponível?

Alfonso franziu o cenho.

– O quê?

O advogado abanou a cabeça, rindo.

– Nada.

– O que é essa merda na sua cara? – Herrera perguntou, colérico, erguendo os olhos da sua taça de vinho – Um sorriso? Está achando engraçado? Estou com a cara quebrada, minha mulher foi embora e você está rindo?

– Temos que admitir, Herrera, é no mínimo irônico – Christopher deu de ombros, sorrindo abertamente. Alfonso grunhiu, massageando uma têmpora. A outra mão apertava a taça tão forte que ela poderia se estilhaçar a qualquer instante.

Ele já estava suficientemente ciente da ironia da situação, não precisava que Uckermann incentivasse ainda mais certas ideias em sua cabeça. Há muito Alfonso não se recordava da sensação de ser passado para trás e precisava admitir: revivê-la era quase insuportável, sobretudo pelas mãos de Anahi, a mulher que ele havia querido mais que qualquer outra coisa durante os últimos meses. Desejá-la tanto só potencializava seu sentimento de rejeição. E consequentemente sua raiva.

– Irônico foi você tê-lo ajudado – pontuou.

– Eu ajudei você! – o advogado se defendeu, abrindo os braços – Você não pode simplesmente atirar em uma pessoa. Estaria preso e condenado agora, sem direito a nada, não fosse por mim. Zero reputação para você e para mim. Não trabalho para esse tipo de pessoa.

Alfonso se projetou sobre a mesa apoiado em suas mãos, encarando o advogado.

– Ele estava aliciando a minha esposa! – gritou – Adultério! Posso fazer o que quiser!

– Não tem provas. Não pode – Uckermann explicou, tranquilo – Não estamos mais no tempo das cavernas, embora você relute em aceitar.

Herrera bufou, largando-se novamente no assento. Suas costelas protestaram e ele fez uma careta. Girou sua cadeira e ficou de frente a vidraça, observando a imensidão que era o jardim daquela mansão, os arredores, as instalações... Tantas coisas a perder de vista. Havia vivido muito por essas terras, sobretudo dentro delas. Era difícil conceber a ideia de que mais nada de bom sairia dali, que não adiantaria insistir. Agora aquilo tudo já não lhe despertava o menor interesse, nem sequer as memórias lhe serviriam. Para a mansão, ele só conseguia enxergar uma saída.

– Vou leiloar a propriedade – avisou.

Christopher bateu uma mão contra a própria testa, com uma expressão de enfado.

– Sério, Alfonso? Mudou de ideia de novo? Primeiro a intenção era vendê-la assim que se casasse e ela fosse sua. Depois passou a ser reativar a vinícola. E agora um leilão – ele revirou os olhos, balançando a cabeça em negação para mostrar o quanto reprovava aquela atitude – Perderá ainda mais dinheiro, lamento dizer. E também lamento dizer que a melhor opção, nas atuais circunstâncias, é ficar e manter sua palavra.

Alfonso não reagiu de imediato. Ele observava o vinho girar em sua taça, parecendo distante, a cabeça planando em outro lugar.

– Pro inferno com o dinheiro – disse ele – Simplesmente divulgue o leilão.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora