Capítulo 062

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Anahi acordou na manhã seguinte sem Alfonso, mas com um ramalhete farto de rosas descansando no criado mudo ao lado, exalando um aroma delicioso que a fazia lembrar que, apesar de tudo, sentia-se bem. Ela apoiou o queixo no travesseiro e o fitou com um sorriso de tranquilidade no rosto. Era isso: se sentia tranquila daquela forma, havia encontrado uma zona de conforto.

Do outro lado da cidade, o estômago de Alfonso se revolvia de ansiedade. Ele enviara empregados com uma dezena de vestidos para que Anahi escolhesse o melhor e agora fazia a prova do seu terno, tentando tomar fôlego o suficiente para que aquela sensação sufocante de nervosismo parasse. Sentira algo parecido outras vezes... Quando chegou em Los Angeles sem um tostão no bolso; quando começou a trabalhar na fábrica que hoje era sua; quando veio a Londres agregar a mansão ao seu patrimônio. Mas dessa vez tudo estava potencializado. Ele sentia as mãos frias, suando constantemente mesmo quando as esfregava na calça. A sua decisão, como tantas outras, envolvia mais que somente ele: envolvia também Anahi. Mas ele não conseguiu fechar os olhos para isso dessa vez, embora houvesse realmente tentado. Não conseguiu fechar os olhos para ela. A sua cabeça fervilhava ao tentar supor que reação ela teria.

A noite baixou sobre Londres e, junto a ela, diversos convidados chegaram na mansão. Aos poucos, a casa foi ficando abarrotada de gente. Anahi, como era de se imaginar, estava furiosa com Alfonso que até então sumira do mapa. Ela cumprimentava a todos sem saber exatamente o que estava fazendo, sem conhecer o motivo pelo qual tanto sorria. Ela conferiu a sala de jantar e percebeu que a mesa, na verdade, agora eram duas. Uma só já era enorme; duas juntas então parecia não ter mais fim; e sobre a madeira tudo estava milimetricamente colocado: pratos, talheres, guardanapos, taças.

Voltou ao salão suspirando pesadamente. Havia música, as pessoas conversavam animadas, champagne era servido e Anahi aproveitou para trocar sua taça já vazia por uma cheia. Mas ela só queria Alfonso. Queria avançar no pescoço dele, para ser mais exata. Com isso em mente, entornou a bebida, sorvendo tudo de uma vez com uma careta. Quando abriu os olhos, ela o viu chegar, fazendo um fluxo de pessoas se formar ao seu redor. Ele dava atenção a todas elas, cumprimentando-as cordialmente, fazendo reverências, sorrindo... Mas para ela nada. Ele nem sequer a viu.

Anahi não queria parecer tão aborrecida na presença de tanta gente, mas não conseguiu refrear os dedos se fechando em punho. Ele estava lindo num smoking completamente preto, segurando uma taça repleta de vinho, os cabelos penteados para trás. Anahi viu a aliança grossa brilhar no dedo do marido, refletindo a luminosidade do salão, mas isso não parecia intimidar as mulheres que o beijavam demoradamente no rosto. Cada uma que se aproximava deixava Anahi mais exasperada.

Bom, era preciso levar em conta que, primeiro, ele a deixara sozinha e que, segundo, a única mulher que oficialmente podia estar ao seu lado via, de longe, várias outras ocuparem seu lugar. Ela se sentia... desrespeitada, óbvio.

A gota d'água veio com Judith que entrelaçou seu braço ao de Alfonso, sorridente. E daquela forma permaneceu: como uma estátua petrificada; nada a fazia largá-lo. O sangue começou a correr mais quente nas veias de Anahi. Foi assim que ele finalmente a viu no meio de tantas pessoas: corada, tensa e olhando-o fixamente. Ela sofreu um leve sobressalto quando seus olhos se cruzaram, mas se recuperou disso dirigindo-lhe um sorrisinho afetado. O mínimo aceno de Alfonso na direção da esposa dividiu toda aquela gente em dois elos, abrindo um caminho que o levava diretamente para ela. Ele se livrou de Judith em um segundo - que, na verdade, o tempo inteiro mal fora percebida - e alcançou a esposa no meio do salão, abraçando-a pela cintura. A morena cruzou os braços, contrariada. Enquanto isso, Alfonso beijou Anahi de um modo que fez um burburinho se espalhar entre os convidados. Segundo eles, os dois pareciam mais apaixonados do que nunca.

– Você vai me pagar – ela murmurou pousando a boca sobre a orelha de Alfonso. Ele sorriu, apertando-a contra ele.

– Não vejo a hora – disse, malicioso. Então Anahi se inclinou para trás e Alfonso colheu seu rosto na palma da mão, observando. Olhou o cabelo, os olhos, a boca coberta de vermelho, os seios, as mãos enluvadas, o vestido pelo qual havia optado. Depois refez o caminho, sorrindo ao ver a joia descansando no busto da esposa, a pele clara salpicada de pintinhas escuras. Ela estava incrível e isso deixou a cabeça de Alfonso com um clarão no lugar dos demais pensamentos.

– Se quiser tirar minha roupa aqui mesmo... – ela provocou, sarcástica, sentindo-se ser milimetricamente estudada. Moveu o rosto contra a mão do marido, trazendo-o de volta a realidade, e sorriu: – Estou à disposição.

– Cuidado com o que sugere, anjo.

– O que é tudo isso? – ela cortou, ansiosa.

– É uma ocasião especial.

– Por quê? – insistiu. Herrera simplesmente sorriu para ela, ignorando a pergunta. Pousou uma mão sobre a base da coluna de Anahi e, com a outra, agarrou sua mão. Anahi protestou, contrariada – Não quero dançar.

Mas a música já havia aumentado de volume e Alfonso já estava entre os casais do salão, levando-a junto. As pessoas olhavam, apreciando aquela dupla. Anahi respirou fundo, acompanhando os passos do marido. A música era rápida e todos estavam agitados com aquilo, era difícil acompanhar. Alfonso a fez girar uma vez e Annie quase perdeu o equilíbrio, sendo amparada pelo braço dele em sua cintura.

– Estamos aqui para nos divertir, Ana, e você está outra vez parecendo Scorpion – ele riu da expressão que ela fez, dando um beijo atrevido em seu nariz.

– Você já sabe que não lido bem com essa coisa de ser a última a saber, Alfonso. Você me deixou à beira de um colapso. Definitivamente não estou me divertindo – reclamou, irritada.

– É você quem vai me deixar à beira de um colapso agora. Deus os proteja de mim – com uma careta engraçada, ele bateu palma uma vez. Anahi franziu o cenho, confusa. Então no próximo segundo Alfonso já não estava mais na sua frente. Ela o acompanhou com o olhar, sem entender, e o viu apanhar outra moça para dançar. Abriu a boca em ultraje, mas outras mãos se apossaram da sua cintura, interrompendo seu protesto. Ela olhou, aturdida, e o rosto de um homem que nunca havia visto surgiu a um palmo do seu. Era ele quem agora guiava sua dança. Quando ele bateu palma e cedeu seu lugar a outro, Anahi entendeu, observando ao redor. Parecia uma coreografia. Lembrava-se vagamente de ter visto algo semelhante nos bailes que frequentara.

Aquilo durou bons minutos. Alfonso voltou para os braços dela uma vez, sorrindo galante. Anahi fez uma reverência com a saia de seu vestido, entrando no espírito da brincadeira, e os próximos segundos que passaram juntos pareceram ainda mais curtos para o beijo que pretendiam trocar. Antes que as bocas se tocassem eles foram obrigados a se separar, trocando de par novamente. Ela se lamuriou, frustrada, mas a dança seguiu seu curso com animação e Anahi estava apreciando aquilo. Pelo menos até o momento que um belo par de olhos claros se posicionou de frente aos seus.

– Ian... – ela balbuciou, chocada, a excitação fugindo de seu corpo. Seu coração começou a bater num compasso violento de desespero. Não bastando estar sob o mesmo teto que ela, Somerhalder a agarrou pela cintura, posicionando-a perto. Perto o suficiente para fazer Alfonso matá-lo.

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Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora