(...)
– Que interessante – Alfonso pigarreou – Eu não me recordava de haver contratado um palhaço – disse ele, sorrindo ironicamente – Ótimo número. Você gostou dele, querida?
Ian se endireitou, desviando os olhos para Alfonso, e o sorriso deslumbrante que Anahi tinha no rosto sumiu em um segundo. Antes que alguém notasse, porém, Alfonso cobriu a boca da esposa com a sua, agarrando-a pela cintura. E assim ficou absolutamente explícito para todos que Herrera estava marcando território contra um sujeito que não tinha noção de onde estava metendo os pés e que precisava tomar cuidado com isso.
Para Ian, o comportamento de Alfonso dispensou esclarecimentos. Mas Somerhalder não era o tipo de homem que temia por ataques de ciúmes de maridos autoritários e inseguros.
Ao contrário dos demais, na maioria das vezes, Ian não precisava proferir meia dúzia de galanteios para conquistar uma mulher. Ele impressionava antes de tentar impressionar. Isso levava uma legião de pretendentes a se arremessarem a seus pés com bastante frequência. Mais frequência do que ele gostaria, na verdade, afinal não era nenhum mero tipo de cortejador. Sempre que tinha essa intenção, as cantadas vinham depois, como um tiro de misericórdia, mas sobretudo como a garantia de que havia uma escolhida, quase uma campeã. Ele constatou, ao longo tempo, que isso intimidava e incomodava demais. Como agora.
Então ele se divertia, não se importava com as cenas de ciúme, nem mesmo quando elas faziam todo o sentido, exatamente como agora.
– Ah, você deve ser Alfonso Herrera. Ouço falar bastante sobre você. Meu nome é Ian Somerhalder – ele se apresentou, descontraído. Com um olhar enfadado, Alfonso ignorou a mão que o outro lhe oferecia. O clima não estava agradável como Ian parecia achar. Para piorar, o homem não reagiu à falta de cordialidade de Alfonso. Simplesmente recolheu a mão, tranquilo. A discordância de humores deixava Alfonso ainda mais aborrecido.
– O que você veio fazer aqui? – perguntou – Como disse, não me recordo de...
– Eu sou advogado – Ian interrompeu – E vim para o evento. A sua propriedade me parece bastante interessante, Herrera.
– E a minha mulher também, não é? – Alfonso perguntou, desafiador. Anahi ficou mortificada, sentindo um fluxo intenso de sangue correr para o seu rosto. Sentia-se tão pequena, tola e constrangida no meio dos dois. Ian simplesmente riu.
– Peço desculpas se agi mal, Herrera, mas uns truques de ilusionismo arrancam sorrisos de qualquer pessoa. Principalmente de quem está realmente precisando.
Nesse momento, Annie ergueu os olhos e mirou o rosto de Ian, perplexa. Aquilo era tão impressionante. Ele parecia entendê-la sem sequer conhecer os seus problemas; olhava-a e agia como se oferecesse apoio, porém sem lhe dizer nenhuma palavra de conforto. Ian era o tipo de pessoa que emanava boas energias. E mudar o humor de Anahi, num dia que tinha todas as chances de ser absolutamente terrível, era um grande feito. Ele parecia se importar com a maneira que ela se sentia. E no momento era uma das poucas pessoas que demonstrava isso.
Alfonso ergueu uma sobrancelha acusatória, rindo.
– A minha esposa não precisa assistir a um espetáculo circense para se sentir feliz, meu caro. E eu não estou interessado na sua proposta – dispensou, apertando Anahi cada vez mais próximo. Os dedos de sua mão, na cintura da esposa, fechavam e abriam, subindo e descendo, numa carícia cheia de pretensões.
– Recebi o convite para o evento e por isso vim aqui pessoalmente, mas você não enviou uma resposta objetiva à minha oferta – esclareceu, erguendo os ombros – Que tal discutirmos isso?
Os olhos de Anahi pulavam de um rosto para o outro enquanto ela observava o diálogo, curiosa. Alfonso franziu o cenho.
– Não sei do que está falando.
– Mandei uma carta há mais ou menos dois meses – Ian disse – Não se recorda? Mandei que entregassem direto a seu advogado Christopher Uckermann.
Alfonso ficou estagnado em seu lugar. Os dedos na cintura de Anahi endureceram, sem movimentos, tal qual seus olhos abertos em choque. Aquela quantia absurda... A quantia que o levara a desistir de ir embora e que o fez esperar um pouco mais e ficar em Londres...
– Lembra-se agora? – Ian sondou.
Alfonso engoliu um rosnado de ódio ao se dar conta do que se tratava. Aquela situação definitivamente influenciava em sua decisão. Precisaria pensar melhor, pelos menos umas dez mil vezes, sobre o que faria.
– Estou ciente do seu interesse. Marco uma reunião com você assim que eu puder. É uma pena que nós tenhamos que cumprimentar outras pessoas agora. Obrigado pelo espetáculo, Somerhalder – Alfonso apanhou a flor das mãos de Anahi e balançou na direção do outro, com um sorriso forjado. Ian estreitou os olhos. Herrera girou nos calcanhares e se distanciou alguns passos, levando a esposa. Ian observou o momento em que a mão dele se fechou em punho, amassando a rosa. Depois Alfonso deixou que ela escorregasse de seus dedos e caísse. E lá ela ficou. Esmigalhada no chão.
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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...