Capítulo 034

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***

Alfonso estava em pé ao lado de uma Anahi adormecida, com a coluna curvada, enrolada em seu próprio corpo e agarrando um travesseiro. Ela já estava limpa e usava outro vestido. A palidez em seu rosto cansado deixou Alfonso surpreso. Até a respiração estava fraca, quase imperceptível. Se não movesse tão delicadamente as pálpebras, parecendo estar em um sono conturbado, ele pensaria que estava morta.

– Não sei o que aconteceu – disse Dulce, parada ao lado dele – Ela chegou aqui aos prantos, toda suja, descomposta. Tive a impressão que veio de lá até aqui correndo, mas a carruagem estava ali. Ela não disse nada. Banhou-se e simplesmente chorou sem parar até dormir – explicou, preocupada – O que houve, Alfonso?

– Ela teve um surto por causa de Arthur – disse ele, agachando-se para ficar na altura de Anahi. Dulce vincou a testa – Entrou em colapso. Não deixou que eu a impedisse de sair – então ele se inclinou sobre ela e afastou seus cabelos, descobrindo o rosto. Beijou-a sobre a bochecha e sussurrou: – Acorde, meu anjo.

Contudo Anahi continuou em seu sono profundo, para sua sorte. Dulce não entendeu o que podia ter acontecido para deixá-la daquela forma, sobretudo em relação a Arthur. E também não entendia porque aquele assunto voltara à tona. Ela pensou que havia sido enterrado. Fora assustador presenciar aquilo, ver uma Anahi destruída caindo aos seus pés assim que abriu a porta, sem a menor explicação. Por isso escolheu não perguntar mais nada. Talvez Annie pudesse lhe dizer depois.

– Entendo – a ruiva assentiu, quieta – Não faz muito tempo que ela dormiu. Talvez você devesse deixá-la aqui, não me incomodaria – sugeriu vendo que Alfonso se posicionava para pegá-la nos braços – Ela está esgotada. Você pode vir buscá-la pela manhã.

No entanto, Alfonso não parou. Apoiou Anahi em seus braços, fazendo o possível para ajustar a cabeça amolecida da loira em seu peito.

– Obrigado, Dulce, mas vou levá-la comigo. É minha esposa. Cuidarei eu mesmo dela.

– É claro. Tudo bem. Amanhã irei visitá-la – ela comunicou e Alfonso balançou a cabeça afirmativamente, deixando a casa logo após.

Com cuidado, colocou Anahi deitada no banco da carruagem, com a cabeça repousando em sua coxa. Havia usado o máximo de cautela e ela continuava sem se mover. O cavalo começou a trotar. Alfonso passou os dedos pelos cabelos emaranhados da esposa, pensando em como tornar o convívio dos dois um pouco agradável depois de tudo que acontecera. Se ele tinha de ficar mais um período em Londres, então ele queria que fosse com ela. Ela o pertencia muito além da aliança dourada e sem significado que levavam nos anelares. E ela ficaria com ele. Ele podia convencê-la outra vez. Não aceitaria que fosse diferente.

Depois de um bom pedaço de estrada, Anahi franziu o cenho, os olhos ainda fechados. Seu corpo se remexia. Estava em cima de algo que não parava de balançar. Ela abriu uma fenda entre as pálpebras e o rosto de Alfonso surgiu acima dela, embaçado.

– Olá, Ana – disse ele, sorrindo, usando as mãos para massagear as têmporas da esposa.

– O que...? – ela gemeu, confusa – O que aconteceu?

– Shhh – ele pediu, fechando os olhos e balançando a cabeça – Não se esforce, meu anjo – e continuou massageando-a. A voz suave tornava-se distante – Estamos voltando para casa.

Anahi parou de ouvi-lo. Estava tão cansada que dormiu outra vez. Não percebeu quando foi levada para dentro da mansão, nem quando foi posta sobre a cama. Só acordou quando um feixe da luz do sol brilhou diretamente no seu rosto. Agnes estava abrindo as cortinas e Anahi sentiu-se completamente desorientada com isso. As coisas pareciam naturais ao seu redor.

Ela sentou no colchão com os olhos estreitos tentando olhar melhor. Estava no quarto da mansão. Baixou os olhos para sua roupa. O seu vestido era outro e estava limpo. Mas na noite passada... Ela colocou a cabeça entre as mãos, apertando. Doía, assim como seu corpo. Havia uma sensação tão estranha... O que foi aquilo? Ela não podia ter sonhado.

– Bom dia, Sra Herrera – disse a criada com simpatia – Preparei um banho morno. O Sr Herrera saiu muito cedo e disse que não o esperasse para nada, então eu trouxe queijo e torradas aqui, além do suco do sabor que a senhora gosta.

– Como eu vim parar aqui? Onde está Dulce? O que aconteceu? – Anahi indagou, confusa. Agnes franziu as sobrancelhas, olhando estranhamente para a patroa.

– Eu... Eu não sei... – gaguejou, incerta – Dulce? Não veio nenhuma Dulce aqui.

– Onde está Margot? – perguntou. A única que poderia esclarecer alguma coisa era ela. Agnes suspirou, sentindo-se frustrada.

– Margot não está mais na mansão.

– Como...? – a loira perguntou – Como não está mais aqui? O que você quer dizer?

– Sra Herrera, é que... Não gosto de fazer fofocas como se eu escutasse por trás das portas – ela esclareceu apressadamente – Acontece que todo mundo ouviu. Mas eu acho que ficar falando sobre isso não é da minha alçada.

– Fale, Agnes! – Anahi gritou. A mulher continuou muda, indecisa – Eu estou mandando você abrir essa boca!!

Agnes assentiu, assustada, respirando fundo.

– Claro. Bem, o Sr Herrera colocou Margot para fora daqui.

Anahi abriu a boca, abismada. Então era realmente o que se lembrava, agora recordava-se com mais clareza. As mentiras de Alfonso, a morte de Arthur, um casamento sem amor e agora a única pessoa em quem ela podia confiar naquela casa... O abismo em que sua vida caíra de um dia para o outro ainda estava ali, abrindo-se cada vez mais a seus pés. O seu lábio inferior tremeu e ela soltou um soluço de agonia. Só havia uma certeza para ela, depois de tudo. Não podia mais ficar ali. Simplesmente não havia nada que a fizesse ficar.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora