Capítulo 007

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Alfonso coçou os olhos. As cortinas de seu quarto tocavam o teto e o vento refrescava o cômodo. Não havia uma moça a seu lado para recolher o envelope que acabara de entrar por baixo da porta, por isso ele bufou.

Estava nu em pêlo, como gostava de dormir. Todas aquelas vestes não lhe deixavam confortável, tampouco eram elegantes. Estava acostumado a poucas roupas na hora de se deitar numa cama, estivesse ele acompanhado ou não.

Ele amassou o papel recém-chegado com satisfação. Nele estava escrito que Uckermann negociara a reforma. Algumas horas mais tarde, depois de ter tomado seu café, Alfonso visitara a corporação escolhida e pagara o combinado. Estava pronto para triunfar.

Apenas um dia depois, os portões da mansão abriram-se para a entrada do material, dos engenheiros, dos trabalhadores. A claridade finalmente enchia a mansão, entrando pelas imensas janelas que agora estavam sendo envernizadas e se espalhando pelos móveis que, assim como todo o resto, começavam a ser restaurados. O piso tomava outra forma, com ladrilhos mais resistentes e mais brilhantes. As colunas, limpas, eram pintadas com cores elegantes.

Ele gostava do que via. O resultado agradava seus olhos. E também seus bolsos, óbvio.

Dia após dia, curiosos paravam para observar o serviço. Não estava nem mesmo longe de ser completo, mas a movimentação constante de operários e material de construção chamava a atenção dos transeuntes, além de haver surpreendido Anahi Portilla, que viera o caminho inteiro torcendo para que houvesse um mísero ser humano habitando o endereço que tinha em mãos. Não imaginava que encontraria tantos deles.

– Obrigada – agradeceu ao guia, descendo da carruagem. Desamarrou a fita do chapéu e o tirou para que pudesse observar melhor.

Entusiasmada, ela passou pelos portões, atenta a todos os detalhes. Aquele lado da cidade era mais surpreendente do que os relatos lhe diziam. Jamais um conto se compararia a experiência própria do acontecimento. Enquanto ia a seu destino, ela observava as mansões caminhando a seu lado, sendo deixadas para trás ao chegar uma nova. A arquitetura das casas a deixara admirada, mas nenhuma era tão bela quanto a que via agora de perto, de dentro.

– Está inacabada, senhorita – um dos funcionários falou. Quando ela estendeu os dedos para tocar uma coluna, ele continuou: – E a tinta está fresca.

– Pelas partes que ainda não foram retocadas, imagino que já era perfeita – disse ela, sorrindo para ele.

– O patrão está a sua espera?

– Oh não, não. Não tenho uma hora marcada. Na verdade vim até aqui para conhecê-lo.

– Entendo – disse, sarcástico – Não é a primeira de hoje.

O homem sorriu então. Porém, diferentemente de antes, o seu sorriso agora era ardiloso, cúmplice ao sorriso do seu colega de trabalho ao lado. Ao entender, Anahi sentiu o rosto esquentar, constrangida.

Os dois homens resolveram ignorá-la. Continuaram a trabalhar, absortos em suas maldades, enquanto ela sentia a irritação inundando suas veias.

Mas estava habituada as conclusões precipitadas, infelizmente. O que não significava que estivesse acostumada ou acomodando-se a estas situações. Cada novo episódio significava um novo aborrecimento. Não havia um limite para a sua indignação.

O rubor e o sol deixaram-na esbaforida enquanto andava a passos largos pelo jardim da mansão. Retirou as luvas, descobriu os ombros e deixou o vento soprar em sua pele, arrepiando seu pescoço, fazendo-a sentir-se levemente aliviada. Logo os pensamentos tornaram-se amenos outra vez.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora