Capítulo 029

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A tarde passou se arrastando, embora Anahi estivesse na companhia de Margot. Agnes se juntara as duas, tentando a todo custo separá-las. E isso já não era sutil como antes, afinal Alfonso também já não escondia o quanto Margot o desagradava. Isso deixava Anahi confusa. Ela tinha a intuição de que não estava sabendo de determinadas coisas das quais deveria saber.

Ao escolher Margot, lamentavelmente Anahi pareceu haver comprado uma briga contra o marido. Aquela nem de longe fora a sua intenção, contudo Alfonso reagia como se estivesse castigando-a. Sua resposta foi sumir a tarde inteira, sem uma mísera satisfação, e voltar muito depois que Anahi havia dormido.

Ela abriu os olhos. Pela escuridão e pelo silêncio, supôs que fosse madrugada, mas tinha a impressão que dormira simplesmente alguns poucos minutos. O sono fora conturbado, pois ela sempre acordava assustada após haver recém cochilado, atenta a cada movimento da mansão, os ouvidos bem aguçados. Viu quando Alfonso voltou e, mesmo agora que ele ressonava ao seu lado, Anahi não conseguia dormir tranquila. Afinal não estava entre os braços dele, como costumava ser.

O fato em si não era um problema. Anahi não era a tal ponto romântica para desejar dormir no colo de Alfonso durante as noites da sua vida inteira, como se isso fosse uma necessidade fisiológica. Mas sentiu falta do toque, do cheiro, do calor... Nem sequer seu beijo de boa noite ele dera. Na verdade nem um simples "boa noite" ele lhe desejara. Ele podia tê-la beijado enquanto ela dormia (fingia). Isto é, se quisesse. O problema era esse: ele não quis. Foi ao banheiro, voltou e afundou ao seu lado no colchão, puxando as cobertas para cima. Dormiu em questão de poucos minutos.

Na manhã seguinte, Anahi despertou com um Alfonso não muito amigável abotoando os pulsos da camisa. Ela queria conversar, entender porque estava sendo deliberadamente ignorada. Na verdade, o motivo ela sabia, mas não conseguia enxergar a razão. E, ainda assim, queria amenizar as coisas entre os dois.

Ela esperou apenas alguns minutos, quieta, observando-o enfiar pequenos objetos nos bolsos, bem como papéis em sua pasta, e praguejar contra os botões do paletó.

Erguendo-se, Anahi enrolou o lençol em torno de si mesma e foi até ele, fazendo-o interromper o que fazia. Ela tomou a frente, abotoando a roupa do marido com gentileza, que simplesmente esperou, mudo.

– Bom dia, meu amor. O que há de errado? – perguntou ela, beijando-o sobre a saliência no centro do pescoço. Em seguida inclinou-se um pouco para trás e observou o rosto sério de Alfonso.

– Não há nada de errado – ele respondeu.

– Que horas você volta para casa? – ela quis saber, embrenhando-se contra o corpo do marido, preguiçosa. Ele não a repeliu, embora tampouco a tivesse correspondido. Anahi entendia que ele estava zangado por tê-lo confrontado, mas preferia pensar que isso passaria assim que eles pudessem conversar melhor a respeito. No entanto, era exatamente isso que Alfonso estava evitando: diálogo. Se ela quisesse beijá-lo sem muitas delongas, com certeza ele não a afastaria. Mas se ela estava ali para pedir explicações, ele teria que lamentar pois não pretendia dá-las.

– Não sei ao certo – respondeu ele, soltando um suspiro – Tenho uma papelada atrasada sobre a fábrica.

– Eu quero você de volta o mais rápido possível – Anahi murmurou, entristecida. As mãos pequenas começaram a deslizar pelo tórax de Alfonso, correndo com habilidade até se postarem atrás da nuca, deixando-o excitado instantaneamente. Ela ganhou um ponto, pois o deixou com vontade de ter mais. Alfonso baixou o rosto e aspirou o cheiro da esposa, no pescoço, doce e excitante – Precisamos conversar... – disse a loira, cuidadosa, entoando sua voz mais angelical. Mas Alfonso se afastou, bufando, e os braços de Anahi caíram no vazio. Ela arqueou uma sobrancelha – Por que você está me evitando?!

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora