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"É de verdade, Anahi."
Isso não parava de martelar na cabeça de Alfonso. Ele estava fitando o teto com a cabeça afundada no travesseiro e Anahi encolhida no outro lado do colchão, tomando o máximo de distância dele. Se ela estava realmente dormindo ele não sabia, mas ele não pregara os olhos desde que ela desistiu de tentar fugir.
Era de verdade... Ele sabia disso, mesmo que ela discordasse. Não que ele a julgasse pelo ressentimento, nem poderia, mas ela deveria concordar que todos os momentos que tiveram juntos foram, no mínimo, marcantes demais. E que nada do que Alfonso fez interferiu no que ele sentia quando tocava nela. Se ele tivesse perdido a mansão para ela, ainda assim, continuaria querendo levá-la para a cama só de olhar para aquela boca provocante. Anahi era a mulher mais maravilhosa que ele já havia beijado. E isso não significa que estava abaixo das que nunca beijou, porque ele duvidava que existisse no mundo alguém como ela. Tão delicada, tão sensível... E tão insuportavelmente abusada.
Ele bufou, virando para o lado, tentando se aconchegar melhor.
A remessa de mentiras com Anahi havia ficado para trás e, desde o momento da verdade, ele não lhe dissera menos que tudo o que realmente queria dizer, mesmo que isso fizesse Anahi voar em seu pescoço, furiosa. Ele só precisava fazê-la entender isso, fazê-la concordar em parar de desperdiçar o tempo em que poderiam ficar juntos e esquecer o que passou, já que não havia mais volta, já que os dois estavam fadados ao fim.
Do outro lado da cama Anahi não ousava abrir os olhos, mas dormir também não era sua prioridade. Mesmo de olhos fechados, as lágrimas escapavam pelos cantos. A sua cabeça não parava de trabalhar. Ela não via muitas perspectivas de algum dia se sentir melhor, sobretudo vivendo sob o mesmo teto do homem que arruinara sua vida. Ao mesmo tempo, sem o marido, Anahi sabia que estaria pior que aquilo. Era torturante que ele soubesse disso e que ainda usasse a sua fragilidade para conseguir o que queria, sem se importar com o estado dela. Mas alguma hora teria que parar de chorar ao pensar no que aconteceu. E essa hora chegaria logo.
Embora seu coração se comprimisse a princípio, a dor sempre cedia lugar a um sentimento ainda mais poderoso. Um ódio violento que deixava Anahi a ponto de gritar. Mas ela aprenderia a lidar com tudo isso. Aprenderia a converter as coisas a seu favor também.
A hora dela chegaria.
Demorou mais de um mês, mas chegou.
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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...