Capítulo 052

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(...)

Alfonso estava a ponto de explodir. Era a milionésima vez que atravessava o quarto e olhava através da janela de seu escritório para ver se Anahi havia chegado. Sentava, bebia um gole de vinho e dois segundos depois voltava à janela para conferir.

Nada. Aquilo era angustiante.

Ele desabou na poltrona acolchoada e bufou, olhando o relógio. Para se distrair, começou a fazer o líquido girar na taça, observando. Mas bebê-lo era muito mais interessante. Alguns minutos depois, resolveu esperar na sala, então Maite sentou-se ao lado dele, esperando também, distraída. Isso o deixou ainda mais aborrecido. Quando o sol começou a se pôr sem sombra de Anahi, Alfonso resolveu dar um nome àquela sensação: arrependimento.

– Ai, meu Deus! – a morena gritou, irritada. Herrera se sobressaltou, erguendo uma sobrancelha para ela – Que coisa chata!

– Qual é a droga do seu problema? – rosnou, mal humorado.

– Você está parecendo um esquizofrênico – ela resmungou – Não aguento mais vê-lo fazer isso. Ir e vir. Sentar e levantar – gesticulou, exasperada. Num pulo ela se ergueu do sofá e apanhou a taça da mão de Alfonso, que apenas olhou, contrariado – E já bebeu demais. Chega.

– Eu vou buscá-la – ele avisou, conciso. Maite abanou a cabeça.

– Não, não vai buscá-la. Ela já está voltando.

– Eu sei que está. Mas está demorando demais.

– E por qual motivo você não poderia esperar? Não tem mais nada para fazer? – ela perguntou, cruzando os braços.

– Porque ela está abusando – Alfonso murmurou, raivoso – Eu não deveria ter cedido a isso. Eu fui gentil, mas deveria saber que gentilezas não funcionam com Anahi.

– O quê? – Maite perguntou, imóvel de incredulidade – Você foi gentil ao dar a ela permissão para visitar os tios? Gentil? Está falando realmente sério, Poncho?

– Eu ofereci a mão, mas ela pegou o braço – ele explicou, óbvio. No entanto, a expressão descrente de Maite só se acentuava.

– Você deveria ter oferecido o braço!

– Mas não ofereci.

– Mas deveria!! – ela protestou, inconformada. Alfonso grunhiu

– Maite me faça o favor de ir para o inferno.

A morena simplesmente olhou para ele, mostrando-se inabalável.

– Você sabe que ela vai voltar. Eu, no lugar dela, já estaria muito longe daqui amaldiçoando a sua vida, mas você se certificou de deixar claro o que acontece se ela não voltar para suas rédeas. Você sabe do que ela tem medo, explorou todas as fraquezas dela. Você tem Anahi nas mãos e só as abriu por um mísero momento. Você sabe que ela vai voltar – Maite repetiu, encarando-o. Alfonso não fazia o mesmo, estava de costas, mas sentia as palavras dela atingindo-o – Então qual é o problema, querido? És realmente fraco e inseguro assim?

Herrera torceu a boca, olhando fixamente para os dedos tensos ao redor de sua taça. No fundo, sabia que enquanto ameaçasse, ela voltaria. Mas não era isso que incomodava. Era a ideia de que ela encontrara refúgio fora dali. Era a ideia de que ela precisava de um refúgio, que ela se divertia sem ele, que gostava da ausência dele e que poderia conviver muito bem com isso. Ou ainda pior: poderia conviver com a presença dele como se ele não estivesse realmente ali. Alfonso podia suportar o ódio de Anahi tranquilamente, mas a indiferença não.

– Qual é o problema, irmão?

Poncho não tinha uma resposta exata para a pergunta de Maite. Ele só queria que ela voltasse. E logo. Apenas isso.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora