***
Christopher Uckermann chegou a Londres quase uma semana depois do pedido de Alfonso. Era uma carta de teor urgente, mal explicada, portanto Uckermann embarcou quase no mesmo instante em que a recebera. Os negócios com Herrera não podiam ser tratados com pouca seriedade, sobretudo nas atuais circunstâncias em que se encontravam.
Só soube do que se tratava quando estava bem trancado no escritório de Alfonso, depois de haver se certificado que Margot não estava por perto.
– Uma filha?! – ele perguntou, intrigado.
– É legítima. Tenho absoluta certeza – Alfonso confessou, observando as obras pela janela – Inclusive Margot a conheceu uma vez.
– Aqui?
– Não. Há bastante tempo. Todos os dias Margot simplesmente se oculta pelos cantos da mansão, aparece apenas quando solicito. Sequer sabe que eu a conheci cerca de um mês atrás, o que me confere vantagem – explicou, virando-se para o advogado que estava se servindo de álcool – Quanto a Anahi, tive de espantá-la e já faz uma semana que ela não procura por Arthur. Acho que desistiu da ideia. Enfim, desapareceu.
Alfonso deu de ombros. Era uma boa resolução. Se ela não estivesse em seu encalço, não poderia descobrir sobre a mansão. Deveria estar satisfeito com esse desfecho. Mas a verdade era que as conversas inacabadas e todas as situações mal resolvidas com Anahi o deixaram profundamente frustrado. Sobretudo o beijo rápido que não despertara coisa alguma nela e nele fizera acender algo como um vulcão interior. A maciez dos lábios contra os seus, imóveis, quentes e ingenuamente abertos, o deixou com a cabeça ocupada durante quase todo o dia. Não gostava de ter assuntos pendentes, sobretudo em se tratando de uma criatura tão bela. Por isso não se sentia culpado por desejar esbarrar novamente com ela nos bailes de Londres, domá-la, fazê-la se acalmar.
Resolveu também se servir com a bebida mais forte que tinha para que pudesse tirar certas ideias da cabeça.
– Você não pode ficar tão otimista – Christopher disse, trazendo-o de volta – Margot guardou segredo para a família desta moça uma vez. Confiável não é uma qualidade atribuível a ela. E se estiver ajudando-a? E se Anahi já souber que Arthur está morto e tiver algo em mente? Margot sabe que você está herdando o que deveria ser herdado por Anahi. Você não é um sobrinho legítimo...
– Mas estou registrado como se fosse, isso é o bastante. Além disso, ela desapareceu. Esqueça. Simplesmente leve estes documentos, carimbe-os, autentique-os, não sei, mas acabe com isso antes que ela retorne – Alfonso ordenou, entornando um copo de bebida para que pudesse enchê-lo novamente.
– Caso ela descubra e tenha como provar paternidade, o que você me disse ser viável, você perde a propriedade para ela, Alfonso.
– Eu já tenho uma lista de clientes. Vamos lá, eu a vendo hoje! Agora!
O advogado balançou a cabeça.
– Ela teria o direito de revogar.
– Não se você levar esta droga a um cartório imediatamente – reiterou entre os dentes. Estava começando a ficar irritado.
– Você acabará se prejudicando se tomar certas medidas sem nenhuma precaução, Herrera. Não pode vendê-la sabendo disso, é arriscado demais. Eu não vou deixar.
– Inferno! – Alfonso gritou, quase arremessando o copo de vidro sobre sua escrivaninha. Ele balançou ruidosamente e parou no centro da mesa enquanto Herrera massageava as têmporas com uma mão – Não posso esperar, Uckermann. Ela acredita que Arthur está vivo, acabará reaparecendo, descobrindo a que mundo pertence e também o que pertence a ela. Anahi é insistente, é uma... pequena atrevida. Dê-me alguma alternativa imediata, qualquer uma.
Havia um brilho de divertimento no olhar de Christopher, como se ele tivesse acabado de ouvir algo pelo qual esperava ansiosamente. Ele inclinou a cabeça, encarando Alfonso de um modo cúmplice.
– Case-se com ela – sugeriu, óbvio.
Alfonso levou um segundo em silêncio, parecendo abalado. Em seguida gargalhou.
– Enlouqueceu completamente.
– Não deve ser tão difícil, ora essa. Una o útil ao agradável. Faça o que estou dizendo, case-se com ela e, como seu marido, as propriedades serão plenamente suas.
– E como isso pode ser imediato? – esbravejou, impaciente – Anahi me detesta! Tem acessos de raiva quando me aproximo!
– Está me dizendo que duvida da própria capacidade de conquistar esta moça? Ora, Alfonso, as coisas não são mais como antigamente, han? – Uckermann ergueu uma sobrancelha e Alfonso trincou o maxilar, sentindo-se inevitavelmente atingido pela provocação.
– Não vou me casar, Uckermann. É simples. Quem decide isso sou eu.
– Bem – Christopher disse com um dar de ombros – Vou deixá-lo sozinho para que pense no assunto com sensatez.
- Você chama isso de sensatez?! - Alfonso indagou. Uckermann apenas começou a se retirar.
- Estou no hotel, caso precise. Até mais, Herrera.
Alfonso observou, calado, o advogado deixar seu escritório. Encarou a porta, mas os pensamentos estavam longe dali, continuamente assombrados pelas suposições que Uckermann fizera antes de sair
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...