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A lua ficava cada vez mais cintilante em meio a um céu estrelado quando Anahi voltou para casa. Deslumbrante, como era de se esperar. Porém, ao contrário das expectativas, quem estava mal humorada era Agnes, que levara o dia carregando sacolas. A carranca da empregada por si só já havia feito o dia de Anahi valer a pena.
A mansão estava em ordem, contudo parecia ainda mais limpa do que antes. Os azulejos refletiam as luzes dos candelabros e das lamparinas e os móveis pareciam ter sido polidos minuciosamente. Até a escada brilhava. Anahi franziu o cenho, soltando uma leve risada. Alfonso era exagerado demais.
Ela estava atravessando a sala quando Margot gesticulou despercebidamente para ela, longe do alcance do faro apurado de Agnes. Anahi levou algum tempo até entender.
– Ahn... Agnes – Annie chamou – Você pode levar estas coisas até o quarto, sim? Eu preciso encontrar meu marido em algum lugar por aqui.
A mulher simplesmente assentiu, tentando esconder o desagrado, então equilibrando os pacotes em seus braços, começou a subir as escadas. Até sumir.
– Você está maravilhosa, Annie – Margot elogiou, orgulhosa, assim que a loira se aproximou.
– Você também – ela riu, fazendo a mulher girar em torno de si mesma e ficar consequentemente corada – Esse vestido bonito, avental novo, até seu cabelo está diferente... Que entidade nós vamos receber para jantar, afinal?
A governanta soltou uma gargalhada, balançando a cabeça. Mesmo assim, algo em suas feições trazia pesar, não alegria. Margot estava triste demais frente a uma ocasião que parecia especial para todos sob o teto daquela mansão, mesmo que não soubessem por quê. Anahi também não sabia o que a esperava, embora houvesse concluído sozinha a importância daquela noite. Fora orientada apenas a estar como sempre deveria estar uma Herrera.
– Não é por isso. Esta noite nos reserva muito mais coisas – disse Margot. Então agarrando o braço de Anahi subitamente, começou a puxá-la para a cozinha – Venha comigo um instante.
– Para onde? – Anahi perguntou, acompanhando-a. Elas atravessaram o cômodo com rapidez. A criada apanhou uma lamparina e Anahi quase tropeçava em seu próprio vestido na tentativa de segui-la. Assim que alcançaram a porta dos fundos, Anahi hesitou, vacilante – Margot, aonde nós estamos indo? Eu vou ficar toda desgrenhada para o jantar!
– Annie, confie em mim – a mulher pediu.
As duas irromperam pelo gramado do imenso quintal. Anahi nunca havia pisado ali. Era repleto de árvores e o céu estrelado iluminava apenas o suficiente para deixar a paisagem sombria e bonita. Olhando ao redor, perplexa, Anahi descobriu que aquela propriedade era maior do que ela um dia havia imaginado e certificou-se de que certos recantos dali ela nunca havia sequer visto. Como o pequeno lago, os balanços, uma minúscula construção de madeira um pouco distante. Foi surpreendente perceber que era exatamente naquela direção que a idosa a estava levando.
– Qual a sua intenção com isso, Margot? – Anahi perguntou, aborrecida. O chão estava cheio de folhas secas e amareladas e a loira teve de se esforçar para conseguir erguer as abas de seu vestido com apenas uma mão, visto que o outro braço foi capturado por Margot de uma forma que era impossível soltar-se sem decepá-lo. E ela começava a suar. Tanto de nervosismo, quanto de cansaço. A sua maquiagem não podia durar muito se continuasse com isso.
– Simplesmente venha, Anahi – insistiu. Estavam apenas a dois passos da pequena habitação, quando a loira estancou, furiosa. Puxou o próprio braço tão rudemente que Margot ficou assustada, virando-se para ela.
– Eu estou cansada de meramente aceitar as estranhezas de todos como se não estivesse percebendo nada!! – Anahi gritou – Você tem alguma coisa para me dizer? De uma vez por todas, Margot – pontuou, irredutível.
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Ruas de Outono
Fiksi Penggemar[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...