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Anahi estava cansada naquela manhã. Não abriu as cortinas, não saiu de baixo da manta. Sua tia enfiava a cabeça pela porta do quarto e voltava em seguida, vendo que a sobrinha estava exatamente como da última vez.
A cama parecia mais deliciosa que nunca. Anahi mudou de posição e agarrou um travesseiro, acomodando a cabeça confortavelmente nele. E suspirou ao lembrar quantas coisas tinha de fazer. A principal destas, continuar esperando por Arthur, já lhe ocupava boa parte do dia.
Ela girou para o lado procurando evitar o pensamento àquela hora da manhã. Talvez pudesse protelar mais um pouco e ter um dia de descanso. Mas pensar que, enquanto dormia, Arthur poderia estar em algum lugar do planeta acreditando que era uma aproveitadora lhe roubava o sossego. Não gostava de imaginar se Alfonso o encontrasse antes e todos os sentimentos horríveis que ele poderia incentivar.
Passara a semana aos arredores da mansão, cautelosamente colocada para que ninguém notasse a frequência com que passava por ali ou com que observava demoradamente o vai-e-vem de pessoas. Todos os seres do mundo surgiam naquele lugar, menos Arthur. Não que Anahi conhecesse sua fisionomia, mas já sabia, por seus métodos, que ele não estava lá.
Além de tudo isso, o pouco dinheiro que havia conseguido - com os penteados que magnificamente elaborava nos cabelos das mulheres da vila - acabara com a quantidade de viagens de carruagem que precisava dar até a mansão. E pensava nessas coisas com grande desapontamento, porque a faziam compreender que abrigar esperanças de encontrar Arthur sem a ajuda de outras pessoas, principalmente de Alfonso Herrera, era um caso de desespero e desilusão.
– Annie, bom dia! – disse Dulce quando invadiu o quarto segurando uma bandeja. Colocou-a sobre a cabeceira e começou a abrir as cortinas com pressa – Margareth pediu que eu trouxesse seu café da manhã, disse-me que estava indisposta.
Anahi fez uma careta quando o sol atingiu seu rosto.
– Olá, Dulce. Só estou com mais sono que o habitual – resmungou.
– Entendo – sorriu – Eu vim para que você arrumasse meu cabelo, mas posso procurar outra pessoa, não quero que se preocupe com isso.
– Pelo amor de Deus! Faço isso para você assim que tomar meu banho. Seria uma maldade, seu cabelo está horroroso hoje.
Dulce riu enquanto Anahi corria para o banheiro. Ela voltou alguns minutos depois, nova em folha, e as duas engataram uma conversa comprometedora enquanto Annie fazia o que havia prometido.
– Isso já acabou – a loira disse num tom desinteressado.
– Você pensa que sim, mas Alfonso ainda é capaz de virar sua cabeça se tentar com mais empenho.
Anahi gesticulou, sacudindo as mãos.
– Shhh!! – olhou ao redor e encarou a ruiva pelo reflexo do espelho – Está tentando me dizer que ele não insistiu o bastante? Que eu não seria capaz de resistir a ele? Dulce Maria, por favor! – riu, parecendo despreocupada. Mas as suas mãos haviam começado a tremer e suar, o que fez Anahi puxar os cabelos vermelho-fogo de Dulce com mais força. Ela fez uma careta de dor quando sua cabeça inclinou-se para trás contra sua vontade – Você me conhece! Sei muito bem lidar com essas coisas. E isso é tão verdade que ele já não quer mais me ver.
Annie finalizou a trança, mas não gostou do resultado. Desfez o trabalho e começou outra vez. Dulce suspirou.
– Você deve tê-lo deixado furioso.
– Não me importo com isso. Os motivos dele tampouco me interessam – ela disse, indiferente – Ordenar que eu suma é apenas mais uma de suas arrogâncias desnecessárias. Eu o faria sem ordem alguma!

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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...