(...)
Arthur aproveitou para deixar o escritório, sinalizando para a filha que estaria perto caso ela precisasse. Alfonso fechou os olhos, respirando fundo. Sabia que precisava de sutileza e sobretudo calma para o que viria a seguir.
– Anahi... Seja sensata.
– Estou sendo tão sensata quanto nunca fui, Alfonso – ela sorriu, branda.
– Nós somos casados e nós nos amamos – Herrera pontuou, simples – Nunca tivemos uma família de verdade. Podemos tê-la agora, juntos. Chegamos perto, tentaremos de novo, tentaremos quantas vezes for preciso. Não temos mais o que esconder, não temos mais com o que nos machucar.
– Isso é verdade – disse ela, inexpressiva – Eu diria que você estragou tudo, mas estava estragado antes de começar – riu, abrindo a primeira gaveta de sua mesa. A respiração de Alfonso começou a acelerar para uma velocidade além do normal – Quero você fora dentro de poucos minutos. Não levará nada porque nada do que existe aqui é seu. Ao contrário do que me disse certa vez: o ar que você respira aqui dentro é meu, sempre foi. Tem minha permissão para ficar apenas o tempo necessário para terminarmos com isso – então se ergueu, estendendo para ele uma pasta de papelão e uma caneta – São os documentos do divórcio – avisou, solene, e em seguida concluiu, olhando-o diretamente nos olhos: – E eu nunca formaria uma família com você.
Herrera não conseguia mensurar a confusão desesperadora que era sua cabeça. Primeiro ela agia com serenidade, falava suavemente, como se nada a abalasse e, ainda assim, o machucava como se sentisse prazer com isso. Chegava a doer fisicamente, mas ele podia suportar: sabia que fizera por merecer. Então vinha aquilo e era sufocante pensar que, a partir daquele momento, ele podia nunca mais ter a oportunidade de se redimir.
Ele fitou os papéis, recolhendo-o apenas depois de bons segundos. Folheou, mudo, parecendo repensar. Quando alcançou a última página, observou o espaço vazio disposto ali para sua assinatura. Um gesto tão singular que trazia uma imensidão de significado. Anahi, apreensiva, simplesmente aguardou em silêncio, no entanto a situação deixou o tempo subitamente lento demais.
Ela ia contestar sobre a demora quando ele baixou a caneta e assinou. Apenas assinou onde deveria.
Os ombros de Anahi relaxaram e ela engoliu as palavras, quase engasgando de surpresa. Havia se preparado para um combate e encontrava, de repente, uma rendição.
Fez-se um longo tempo de silêncio conforme Anahi assimilava a magnitude do que havia acabado de acontecer, os olhos fixos na letra de Alfonso. A sala de repente parecia ecoar o som do seu próprio coração, batendo forte a mil por fora. Aquela assinatura acabava com seu casamento, com a disputa de ego, com o desejo de vingança. Sem sequer ler, Alfonso assinou. E havia acabado. Simplesmente.
Ela encarou a pasta e assentiu, lentamente digerindo, tentando lidar com a torrente de sentimentos que enchia seu peito. Frustração, alívio...
– Eu comecei isso da forma errada e não sei o que ainda poderia fazer para consertar – Alfonso disse, ganhando a atenção de Anahi – Eu nem mesmo sei como dizer isso para você, afinal eu nunca gostei de me explicar. Mas eu quero fazer isso agora, quero explicar que eu sei que eu machuquei você da forma mais terrível que alguém pode fazê-lo: conscientemente. Eu sei que fiz tudo errado – ele repetiu, observando-a cruzar os braços e dar dois passos atrás, desviando o olhar – Mas estou cansado de agir de maneira torta. Preciso da sua ajuda. Não sou bom com isso.
E dor... Doía tanto que sufocava.
– Alfonso... – ela tentou, mas ele a deteve.
– Sei que tratei como se isso tudo estivesse óbvio. Desculpe por nunca ter deixado claro. Cada vez que tentei ceder, não gritar, não discutir, estava tentando estar perto de você. Cada vez que aceitei suas palavras, porque sabia que as merecia, estava tentando, por Deus, que não me afastasse para que algum dia pudesse me perdoar. Cada vez que tentei me aproximar dizendo algo que a machucasse, a única coisa que gostaria de ter dito era perdão.
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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...