Capítulo 060

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(...)

– Não – Anahi o interceptou, abraçando-o. Os seios dela se pressionaram contra o peito de Alfonso quando ela começou a roçar os lábios sobre os dele, na ponta dos pés. As unhas afiadas rasparam repetidamente a nuca de Poncho, numa carícia arrepiante. Ele até esqueceu que havia alguém lá fora – Tudo bem. Ela está preocupada comigo. Eu vou.

Alfonso assentiu, sentando-se no colchão. Anahi se enrolou no lençol e se dirigiu até a porta. Maite estava com o punho erguido quando ouviu o ruído da fechadura girando. Em seguida viu a loira surgindo timidamente por trás da porta, com a cabeça inclinada.

– Oi, Maite.

– Onde está o infeliz? – ela inquiriu, forçando sua passagem. Anahi deu um passo à frente, indo para o corredor. A porta atrás de si quase se fechou; ainda sobrando uma fresta.

– Mai... – Annie limpou a garganta, nervosa. Estava bem quando achava que o único julgamento que teria que aturar era o de sua própria consciência – Está tudo bem.

– Não precisa mentir para mim, Anahi. Agnes já se recolheu, os empregados não estão aqui. De uma vez por todas, vamos... – então os olhos de Maite finalmente enxergaram o corpo de Anahi, notando a maneira que ela estava – Acertar... – gaguejou, confusa – Onde estão as suas roupas?! – perguntou, chocada, voltando a encarar os olhos da loira. Anahi não respondeu, sentindo-se completamente desconcertada. Em cinco segundos Maite entendeu – Deus. O que...

– Não! Nem me pergunte nada! – Annie interrompeu, angustiada, agarrando o nó do lençol contra o peito com muito mais força que o necessário – Eu não saberia explicar e não quero tentar fazer isso agora.

– Mas Annie... Esses ruídos... E aqueles gritos? – Maite perguntou – Ele te forçou?!

– Não! É claro que não, meu Deus! Nós estávamos... – ela hesitou, ajustando os cabelos atrás da orelha incessantemente, como um tique para dissipar o nervosismo – Estávamos brincando.

Maite parou por um instante, com uma careta estranha, franzindo o cenho. Em seguida explodiu:

– Que jeito mais ultrapassado de se referir a sexo!

– Maite! – Anahi exclamou, mortificada – Estou falando sério! Estávamos fazendo uma brincadeira.

– Eu sei! Entendo disso tão bem quanto você – piscou, maldosa. Anahi se lamentou, sentindo a vertigem de um desmaio envolver seu corpo – Todos ouviram.

– Foi realmente barulhento assim?

– Muito, querida. Gabriel chorou – Maite balançou a cabeça repetidas vezes para soar mais enfática – Vocês me dão tanta inveja.

– Ah Deus... – Anahi gemeu, cobrindo a testa com uma mão, zonza de constrangimento. Mas quando Maite começou a gargalhar, entusiasmada, ela fez o mesmo, abraçando-a, sem motivo aparente. Havia ficado divertido, no fim das contas.

– Annie, você está brilhando – Maite constatou, comovida – Eu vejo alegria no seu rosto? Eu vejo amor? – perguntou, eufórica. Mas o sorriso de Annie esmureceu, sumindo em um milésimo de segundo – Oh... Eu não vejo mais amor.

– Bom... – a loira ergueu os ombros com um suspiro – Eu preciso entrar.

– Alfonso deve estar prestes a me mandar ao inferno.

– Sem dúvidas. Você está me devendo uma, certo? – Anahi sorriu, acenando – Boa noite.

Com isso, Maite foi embora. Alfonso ergueu uma sobrancelha quando Anahi voltou ao quarto. Ela trancou a porta e virou-se para ele, pondo as duas mãos na cintura. Ele estava recostado na cabeceira da cama, olhando-a, analisando cada pedaço dela, daquela beleza que o enlouquecia. Anahi se sentiu arrepiar inteira, se permitindo voltar a atmosfera erótica e cúmplice que os dois haviam criado, se permitindo ser dominada por tudo que estava relacionado a ele. Ela sorriu. Ele devolveu o sorriso, mais malicioso do que ela esperava.

– Onde nós paramos? – perguntou, descarado – Venha cá.

Mas Anahi cruzou os braços, inclinando a cabeça. Cada centímentro de seu corpo queria obedecer aquele comando. Mas, mesmo assim, ela ficou parada exatamente no mesmo lugar.

– Pensei que havíamos entendido que não sou um cachorro.

O sorriso de Alfonso se alargou. Deus, ele adorava os jogos dela.

– Venha – repetiu, encarando-a. Os olhos dele eram fortes e deixavam Anahi embriagada e dócil como uma criança indefesa, mas ela foi forte o bastante para endireitar a cabeça e fingir estar indignada. Sabia que aquilo o instigava – Por favor – ele sussurrou, entrando naquele jogo. Ela fechou os olhos, apreciando a voz do marido – Eu te imploro, minha Ana, venha aqui.

Anahi soltou um sorriso lento, vitorioso e deliciado. Quando abriu os olhos, absurdamente azuis, tinha algo em mente.

– Assim é melhor – ela retrucou, desatando o nó do lençol, deixando-o cair aos seus pés. Ela voltou para a cama completamente nua, pondo-se sobre Alfonso e beijando-o como se aquela fosse a última vez. Com as mãos nos quadris arredondados da esposa, ele deixou que ela guiasse o sexo, fascinado pelo rosto dela enquanto o tomava inteiro dentro de si. Acontecera tudo ao gosto dela que, como nunca antes, combinava-se perfeitamente ao seu. Depois Anahi se aninhou entre os braços fortes de Alfonso e dormiu, inteiramente dominada por ele. A única maneira de não ser invadida por tantos sentimentos ruins era fazer perdurar o que Alfonso trazia de bom. Ela já havia perdido as contas de quantas vezes deixara suas preocupações de lado só naquele dia; era muito mais fácil lidar com aquilo do que com a culpa. Se estava sendo tão bom, poderia fazer isso durante mais algum tempo. O que poderia acontecer de ruim, afinal?   

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora