Ruas de Outono

Capítulo 011

***

- Oh, meu Deus!! - uma das moças disse em voz baixa, acotovelando a que estava logo ao seu lado - Veja, ele está vindo para cá.

A outra, que pendurava um lençol no varal, parou para observar.

- É uma miragem? Deve ser. O sol está muito forte!

Alfonso então sorriu para elas, fazendo uma reverência com a cabeça. As duas ficaram em estado de choque, completamente paralisadas.

- Bom dia - cumprimentou, ao passo que elas responderam o mesmo em uníssono, sentindo-se mortificadas - Por um acaso, senhoritas, conhecem uma jovem chamada Lady Anahi Portilla?

- Não! - a mais alta exclamou, despertando de seus devaneios para abrir um sorriso longo e insinuante - Conheço apenas Lady Judith Lancaster. Ou seja, eu.

- Judith! Minha nossa! - a outra gritou, vermelha de vergonha, dando-lhe um beliscão como censura. Depois falou para Alfonso: - Escute, ela mora a apenas três casas daqui.

Ele assentiu, voltando a sorrir. O coração das duas dava saltos dentro do peito.

- Estou encantado em conhecê-las, senhoritas. Infelizmente, não posso demorar, preciso devolver algo que Anahi esqueceu comigo - declarou.

O sorriso de Judith automaticamente se converteu num queixo caído quando Alfonso balançou em uma das mãos uma meia de seda branca. Lauren, sua amiga, tapou a boca com a mão. As duas pensaram que fossem desmaiar. A cidade inteira com certeza desmaiaria com o escândalo!! E Alfonso não podia dizer que se preocupava com aquilo.

- Eu te acompanho! - disse Judith, enrolando seu braço ao do homem - Eu não perco isso por nada!

Os dois atravessaram o gramado da casa simples. Não era enorme, nem pequena, parecia simplesmente boa o suficiente. Um lugar habitável. Mas Alfonso estava mais entretido com a vista que tinha através da janela. Era a loira que andava pela sala, carregando artefatos femininos de um lado para o outro, que o interessava. A pequena abertura não lhe dava muita amplitude de visão, por isso as vezes ela sumia. E regressava sorrindo radiantemente, pondo-se a montar o cabelo de uma ruiva que estava sentada de frente a um grande espelho.

Ele observou Judith juntar-se a elas, depois de tê-lo pedido para esperar do lado de fora. As duas começaram a conversar, embora a única satisfeita com o diálogo fosse Judith. Naquele momento, ele queria apenas ser uma mosca para saber o que estava sendo dito...

(...)

- Você é bem mais esperta do que podíamos imaginar, hein, mocinha?

Anahi girou o pescoço, entediada, olhando por cima dos ombros. Judith, sua prima, estava de braços cruzados logo ali.

- Agora não. Não vê que tenho coisas mais importantes para fazer?

- O que dizer do tom que ele usou? - perguntou, mas era como se estivesse conversando consigo mesma. Anahi revirou os olhos e, apesar de estar sendo deliberadamente ignorada, a outra continuou: - Hum, certamente não tenho como descrevê-lo. Mas ele te chamou pelo nome, Anahi. "Oh, a meia que Anahi esqueceu comigo..." - encenou dramaticamente. Então soltou uma risada alta, inclinando o corpo para trás - "Esqueceu ontem, não mais voltou para buscá-la! Oh, meu Deus, fizemos um sexo tão maravilhoso na minha cama de penas de pavão, enrolados em lençóis tecidos com fio de ouro de 1 bilhão de quilates, enquanto a família horrenda dela passava fome!"

Anahi franziu o cenho, emitindo uma leve risada. Constantemente Judith a importunava com suas histórias absurdas, utilizando de todo o seu tempo livre para infernizá-la. Era mais uma das que a hostilizavam, parecendo ter isso como um hobby. Felizmente, depois de tantos padecimentos, a loira estava imune.