Capítulo 079

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– Annie? – Margareth chamou, segurando a porta – Ouvimos um barulho.

Anahi, assustada, se encolheu mais contra seu corpo, reunindo forças para responder.

– Era a janela – ela murmurou. Sua voz quebrada, entretanto, denunciou muito mais do que pretendia.

– Está chorando, querida? Aconteceu alguma coisa?

Dessa vez Anahi não respondeu, mas não conseguiu conter o soluço pelo choro que tentava impedir. Margareth chamou pela sobrinha novamente, em tom interrogativo, aproximando-se. Quando a viu, seu coração vacilou.

Me dê amor como ela
Porque ultimamente eu tenho acordado sozinho
Lágrimas de dor escorrendo pela minha camiseta
Disse a você que as deixaria ir

– Eu acho que o perdi – Anahi sussurrou quando a tia ajoelhou ao seu lado – Perdi meu filho.

Margareth levou longos segundos encarando-a, tentando absorver o impacto do que escutara. Então quando Anahi afastou a manta que a cobria, vendo o sangue que a ensopava, o baque a desesperou.

Margareth se ergueu, correndo para fora do quarto. John interceptou a esposa, preocupado, e foi orientado simplesmente a vigilar Anahi. Ele tentou acompanhá-la, mas ela mesma precisava cuidar disso. Não tinha orgulho e nem tempo para fazer menos do que o que pretendia fazer, portanto vestiu uma capa por cima da camisola e saiu para procurar Alfonso.

O caminho até a mansão foi tortuoso; a chuva castigava a cidade. Margareth passou pelo portão da propriedade como um raio, ignorando a promessa de anos atrás, de nunca mais pisar ali. Os empregados responsáveis pela segurança lhe deram passagem depressa quando ela mencionou o nome de Anahi. Além disso, ela não parecia disposta a aceitar que eles sequer tentassem impedi-la. Bateu na porta de entrada em descontrole, até que uma empregada completamente aturdida a atendeu. A criada hesitou, precisando ser ameaçada para finalmente chamar o patrão, e que Deus protegesse seu emprego. Minutos depois, Alfonso começou a descer as escadas enrolado em um roupão, de cenho franzido, totalmente confuso, mas parou no meio com um suspiro enfadado quando a mulher, antes de costas, virou-se para encará-lo. Margareth tomou ar antes de falar:

– Eu juro por Deus que não queria me sujeitar a isso novamente, mas só o faço por Anahi.

Alfonso a observou. Entendia perfeitamente o que estava acontecendo e por isso considerava aquela atitude, além de ousada, extremamente estúpida. Era muito típico para uma família de classe baixa se aproveitar de qualquer proximidade com alguém que está um nível acima para ter algum tipo de vantagem. Lembrava-se do que Margot havia lhe contado, de quando Margareth e John precisaram de dinheiro e buscaram por ela. O protagonista dessa nova história, no entanto, era diferente, e Alfonso se encarregaria de que o final daquela cena também fosse.

– Não se dê ao trabalho – ele dispensou com um semisorriso cruel – Provavelmente não vai adiantar.

– Por favor –  Margie insistiu, fechando os olhos – Ela precisa que você a ajude. Eu imploro.

– Estamos separados agora, Margareth. Sinto dizer, mas seja lá o que for, já não é problema meu.

Dizendo isso, Alfonso tentou subir as escadas novamente, mas Margie caminhou até ele, decidida, sacudindo a cabeça em negação. Não aceitaria sair dali sem ajuda. Ele podia pensar o que quisesse e poderia cobrá-la depois, mas naquele momento ele teria que acatar o que ela pedia.

– Se não for por ela, que seja por mim. Não tenho mais dinheiro, não tenho mais meios. Tentei garantir que ficasse bem como pude, mas ela piorou. Você tem muito mais poder que qualquer pessoa dessa cidade – ele vincou o cenho, estranhando. Não entendia a que ela se referia, mas não pretendia tentar descobrir. Indiferença era o máximo que podia oferecer naquele instante e também nos demais. Alfonso subiu mais um degrau, mas Margareth torceu a boca, obstinada, e agarrou a manga do seu roupão – Pelo seu filho, Alfonso.

Ruas de OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora