(...)
Anahi o fitou como se ele estivesse falando em outra língua.
– Não estou entendendo, Ian.
– Anahi... – ele tomou fôlego antes de continuar – Alfonso vai reativar a vinícola. Ele jamais venderia a mansão a mim e não recebeu uma proposta igualmente exorbitante. O jantar é para fazer o comunicado oficial e reunir os empresários mais poderosos em torno disso. É um momento importante para Londres, não tem nenhuma vinícola tão grande e tão bem localizada quanto essa na Inglaterra inteira. Eu queria a propriedade por causa dela. Isso vai remodelar o comércio e vai render lucros para Herrera que podem fazer você cair para trás quando souber. Ele não vai te deixar, quanto a isso não se preocupe, porque ele não vai embora. Pelo menos não tão cedo. Ele vai ficar em Londres e vai continuar gerando dinheiro em torno de você, embora em nenhum momento tenha pedido sua opinião.
Annie piscou, desviando o olhar. Ela fitou, através das vidraças, as pessoas se movendo dentro do salão, contentes, bebendo, rindo. Todos sabiam a razão de estar ali, menos ela: a peça central daquele jantar.
Mas, afinal, Anahi perguntou a si mesma, o que era tão surpreendente? Era ela quem continuaria sendo explorada para garantir o sucesso de Alfonso. Era dela que sairia o dinheiro que sustentaria a vida luxuosa que Herrera queria levar. E não era exatamente assim desde o começo?
– Eu não... – sacudiu a cabeça, confusa – Não sei o que dizer.
– Me desculpe se estou sendo duro com você – ele pediu, honestamente. Anahi assentiu – Mas eu disse que te ajudaria, embora agora você não tenha certeza se deve continuar. Tudo bem, é e sempre foi uma escolha exclusivamente sua. Mas você precisa saber o que está acontecendo. Eu encontrei Margot, ela pode ser sua testemunha e com isso eu posso ajudá-la a encerrar esse ciclo. Você recupera sua propriedade e Alfonso volta para Los Angeles. Talvez também consigamos uma condenação, mas isso é você quem decide. Só quero que você pense, Anahi – Ian pediu, fazendo-a erguer o queixo – Olhe para si mesma, comece a pensar e eu vou acatar qualquer coisa que você decidir.
Anahi assentiu, trêmula, completamente inerte. Ela sabia que a mágoa provavelmente emergiria depois, quando começasse a pôr os pensamentos em ordem, avassaladora, esmagando seu peito, fazendo finalmente doer. Mas agora estava quente de raiva e não lhe era cabível sofrer.
Ian saiu da sacada deixando a porta aberta e Anahi o perdeu de vista no meio dos convidados, atrás do seu reflexo no vidro. Ela não voltou imediatamente. Apoiou-se no batente, fechou os olhos e respirou fundo, deixando o vento refrescar o seu rosto. Precisava pelo menos recobrar a postura para não colocar tudo a perder. Quando se julgou pronta, ela voltou ao salão e descobriu que estava enganada. Alfonso sorriu para ela, apontando a sala onde os convidados começavam a se acomodar. Ela sentiu ímpetos de raiva, um seguido do outro. O controle que pensou estar conseguindo manter se esvaiu e tudo o que sentia agora era uma irritação profunda. Estava irritada com tudo e com todos. Com Alfonso por ele ser quem era, com Ian que trouxera aquilo à tona daquela forma, com as pessoas que ali estavam por saberem de tudo e, sobretudo, consigo mesma por todos os motivos do universo. Isso serviu para despertar aquele ódio latente, adormecido.
Ela não sentiu dor, nem decepção. Era como se algo sempre estivesse lhe avisando, durante todo aquele tempo, que a ilusão acabaria. Eles não eram aquele casal que fingiam ser; Alfonso era diferente quando estava fora da sua cama. Anahi estivera ciente de tudo isso, mas nunca pensou que o veria repetir a mesma maldade. Fora um erro seu. Então naquele momento não sentiu dor. Sentiu raiva.
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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...