(...)
– Hey, Anahi – ele sorriu, simpático – Consegui te encontrar.
A loira engoliu em seco, observando com certo horror a expressão de Ian bem a sua frente. A pele em seu rosto de repente ficou gelada.
Bom, ela não tinha medo dele. Pelo menos não até esse reencontro, depois de tê-lo deixado esperando sozinho. Depois do que havia vivido, Anahi não podia mais se considerar a pessoa mais segura do planeta em relação às pessoas ou até mesmo às suas próprias atitudes. Ela havia errado uma vez ao confiar em Alfonso; poderia ter se enganado novamente com Ian. Embora tudo nele a dissesse que nunca a decepcionaria, ela não sabia o que pensar uma vez que ela quem o havia decepcionado.
– Ian, aqui não. Por favor, aqui não – repetiu, angustiada. Ela olhou ao redor. Em meio a tantos rostos, Anahi não conseguiu enxergar o de Alfonso, não sabia se por desespero ou por ele não estar realmente por perto. A sua tontura poderia lhe pregar uma peça.
– Alfonso não está vendo você agora – Ian garantiu. Anahi vincou a testa, confusa, voltando o olhar para ele.
– Como você sabe?
– Acabou de entrar por aquela porta.
Ele apontou com a cabeça, fazendo Anahi girar sob seu braço para que ela pudesse ver. Era a sala de jantar. De repente ele a trouxe de volta à posição inicial, segurando-a firme pela cintura.
– Eu não colocaria você em risco, Anahi.
– E planeja algo? – ela perguntou, cautelosa.
– Não. Só sou um homem precavido. Ele não me viu aqui – garantiu, mas a insegurança nos olhos de Anahi ainda era evidente – E não vai me ver. Num estalar de dedos eu sumo em meio a uma densa nuvem de poeira.
O comentário divertido fez Anahi finalmente rir, um pouco aliviada, mas seu riso também não era como ele uma vez conhecera. Enquanto isso, os homens bateram palma, sinalizando a hora de trocar de par. No entanto, Ian não largou Anahi. Ele deu um passo para frente e, com isso, ela teve de dar um passo atrás, confusa. O rapaz à sua direita passou por eles, ignorando-os, pegando a moça à sua esquerda. Quando os pares estavam novamente formados, Ian retomou sua posição. Anahi estreitou os olhos, observando-o.
– O que você veio fazer aqui? Você sabe que se Alfonso vê-lo perto de mim... – ela retrucou, nervosa. O tom ríspido com o qual Anahi falara o deixou levemente aborrecido e decepcionado.
– Eu estou realmente ofendido com isso, Anahi – disse ele, fixando os olhos nos dela – Você tem medo que eu esteja aqui para prejudicá-la?
Ian esperou que ela protestasse, que dissesse que nunca havia pensado algo do tipo, mas as palavras de Anahi não vieram. Ela emudeceu, mal podendo olhar para ele. E isso só fez aumentar a irritação repentina que o havia tomado desde que chegou à mansão e flagrou Anahi e Alfonso dançando, sorrindo um para o outro como se fossem o casal mais apaixonado de Londres. Provavelmente isso se devia ao fato de ele ter ficado sem notícias de Anahi durante dias e de, até o presente momento, ter acreditado que o que a impedira de encontrá-lo fora o marido. Mas, vejamos... Nada parecia mal entre os dois e o que tudo indicava era que ele havia se preocupado a toa.
– Eu nunca faria isso com você – disse, duro.
– Aqui – Anahi chamou, tomando a iniciativa de tirá-los dali. Ela deu as costas e caminhou até a sacada, fechando a imensa porta atrás dos dois. Os casais no salão estavam distraídos, não haviam notado. Antes de se virar para ele, Anahi respirou fundo: – Eu sei, Ian, eu sei. Me desculpe. Eu não estou pensando direito essa noite.
– Eu acho que você não tem pensado direito há dias.
Ela parou, franzindo o cenho. Algo estava diferente no tom de voz de Ian, ele nunca havia falado daquela forma com ela. Seria mágoa, decepção ou, na pior das hipóteses, raiva?
– O que quer dizer?
Os olhos de Ian sustentaram os de Anahi por segundos, observando. Ela estava confusa, de fato. E ele não era ninguém para perturbar a vida que ela decidira ter. Definitivamente, não era ninguém para tentar fazê-la mudar de ideia sobre aquilo, embora quisesse. Foi com isso em mente que Ian engoliu as palavras duras que vieram atropeladas à sua garganta. Era verdade que ele não esperava pela indiferença de Anahi, mas precisou ir até a mansão para perceber que nunca tivera o direito de esperar coisa alguma.
– Nada – ele sacudiu a cabeça, como se recobrasse a consciência – Eu só queria saber se você estava bem. Tive medo que estivesse com problemas e que por isso não houvesse... – ele hesitou, observando como Anahi começava a prender a respiração, tensionando cada um de seus músculos, como se estivesse se preparando para o pior – Conseguido ir ao meu encontro – concluiu rapidamente – Bom, acho que está tudo bem e eu devo me retirar.
– Ian, não me julgue uma fraca, uma louca ou uma estúpida – Anahi desabafou, procurando pelo olhar dele – Acontece que eu decidi não pensar. Eu só estou feliz quando não penso. Eu só sou capaz de sorrir para ele quando não lembro. Se eu não lembrar, algum dia posso realmente esquecer.
Ian tentou não contestar, mas as palavras apertavam sua garganta.
– E quer isso de verdade? – perguntou, conciso – Digo, fugir da sua realidade? Quando você me procurou parecia bastante decidida.
– Eu não aguento a realidade, Ian. Eu fujo para me proteger.
– Você o perdoou?
– Não.
– Mas não quer mais a minha ajuda?
– Eu não sei! – Anahi murmurou, angustiada. Ela posicionou as duas mãos sobre a testa e ofegou, sentindo-se entrar em desespero – Estou sendo honesta: eu não sei. Algumas vezes eu sinto que tudo isso já perdeu o sentido e que eu deveria esquecer, se pudesse escolher, se pudesse apertar um botão e esvaziar de mim tanta mágoa. Mas eu não posso. Não existe um botão para isso.
– Então...?
– Eu não desisti de lutar, mas parei de atacar; apenas em nome da boa convivência. Eu estou usando a racionalidade para ser um pouco irracional – ela soltou um suspiro, abanando a cabeça – É tão complicado, você não entenderia.
– Eu entendo e não posso acusar você de nada, Anahi. É o seu casamento, a vida que você vai levar de hoje em diante e você tem que tornar isso suportável de alguma maneira. É uma atitude de sobrevivência e, na verdade, isso não significa que está sendo fraca. Pelo contrário, acho que isso mostra o quanto és forte. Mas seja franca comigo como eu sou com você. Você quer sentir vergonha de estar bem com o próprio marido como sente agora?
Anahi acompanhou as palavras de Ian atentamente, como se pudesse convencer a si mesma de tudo o que ele lhe dizia. Então viera o baque. Ela abriu a boca, exasperada, sentindo que nenhuma frase coerente se formaria para que ela pudesse responder aquela pergunta descarada. Ocorreu-lhe que deveria negar aos gritos. Não, não se sentia envergonhada de estar bem com Alfonso! Ele era seu marido! Mas não conseguiu; estaria mentindo. Não era tola a ponto de negar o óbvio. Estava claro em seu semblante que cada partícula de seu corpo sentia vergonha quando Dulce a encarava com aqueles olhos amendoados de decepção, quando admitia a Ian que estava ignorando seu orgulho ferido, ou quando flagrava a si mesma sentindo falta de Alfonso. Era vergonhoso ter perdido todas as suas batalhas e continuar adiando a luta sabendo que a derrota era o único final.
– Eu não... – ela gaguejou, arfando – Deus, eu sei que parece doentio, Ian!! Afinal, ele vai vender a mansão, vai embora e eu não sei se vai me deixar ou se me levará junto. No final, qualquer uma das duas opções será insuportável.
Ian franziu a testa, refletindo por algum tempo antes de perguntar:
– Você sabe sobre o que é esse jantar, Anahi?
– Não – ela respondeu com um dar de ombros. Mas tinha uma sensação estranha. A pergunta parecia conter uma insinuação – Mas não me importo com isso. São os assuntos de Alfonso.
– Bom, então eu estou aliviado. Ele só te cegou outra vez.

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Ruas de Outono
Fanfiction[CONCLUÍDA] *** Londres, 1874 Alfonso massageou a densa cascata de cabelos dourados que caía sobre o travesseiro ao seu lado. Anahi estava adormecida há algum tempo, imersa em um sono profundo, enroscada nos alvos lençóis de seda. Enquanto isso, el...