Capitulo 57

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O pai do Marco, que também está chorando, mas em silencio, vai até o Ryan.


MARIDO PACIENTE: Doutor, sobre os órgãos...


De repente, Marco se levanta, seu rosto está furioso, ainda coberto com lágrimas.


FILHO PACIENTE: Não! É mentira! Ela nunca aceitaria isso! Eu sei mais do que você! Eu estava lá com ela! Você nunca foi presente, estava sempre em seu trabalho estúpido!

MARIDO PACIENTE: Marco, sua mãe e eu conversávamos sobre isso várias vezes, ela sempre deixou claro de que era doadora...

FILHO PACIENTE: Eu também conversei com ela sobre isso e ela me disse que não era! Ela disse que queria ser enterrada inteira, sem ser dilacerada!


Eu olho para Ryan, não tenho a menor ideia como lidar com esse tipo de situação. Ele também me olha, em silencio.

O clima é tenso... é a palavra de um contra a do outro.


RYAN: De qualquer maneira, nós não precisamos decidir isso agora. Temos algum tempo. Agora todos estão em choque, acho que o melhor a fazer seria usar este tempo para um ultimo adeus. Podemos conversar sobre isso novamente nos próximos dias. Enquanto isso, nós continuaremos monitorando o corpo dela.


Ao ouvir a palavra 'adeus', a raiva de Marco parece desaparecer, substituída por uma nova onde de lágrimas.


ENFERMEIRA: Vou pegar cadeiras para vocês, fiquem à vontade.


O pai de Marco concorda com a cabeça, em choque, completamente arrasado.

No dia seguinte...

Eu vou até a casa de Matt que, realmente, é perto do hospital.


NICOLE: Uau! Lindo apartamento! Super moderno!


Eu me viro e olho para todos os lados. Não é como o apartamento de luxo de Daryl, mas Matt não é médico.


MATT: Meus pais me ajudam. Eu não preciso de isso tudo só para mim, mas eles insistem.

NICOLE: Eles devem ter bons empregos!

MATT: Sim. E lá em Luxemburgo os salários são geralmente mais altos.


Eu passo em frente às estantes cheias de livros, olhando distraidamente para os títulos.


NICOLE: E quanto a você, não pensa em ir para lá?


Matt balança a cabeça.


MATT: Nem pensar, não estou atrás de dinheiro. Se estivesse, para ser sincero, eu teria escolhido outra área. Além disso, eu sempre sonhei em vir estudar para Paris.

NICOLE: Sua mãe comentou isso comigo!


Matt dá de ombros, rindo.


MATT: Eu sempre esqueço que ela já te contou metade da minha vida! Você vem?


Ele pega minha mão e me leva até uma cozinha americana, linda e arrumada.


MATT: Você quer algo para beber? Ou petiscar?

NICOLE: Sim, claro.


Eu sento em um banco alto, em frente ao balcão.


NICOLE: Eu tive folga hoje, porque trabalhei no turno da noite. Aproveitei para passar o dia na cama, de pijama. Nem pensei em sair de casa, o turno da noite é desgastante!

MATT: Eu posso imaginar. O que você faz não é fácil... para pessoas como eu.


Eu sinto o tom de voz dele ficando mais triste e desanimado e sorrio para ele amigavelmente.


NICOLE: A gente acostuma. Ajudar as pessoas, se sentir útil, fazer a diferença... o esforço vale a pena. E você saiu do hospital muito melhor do que chegou, e isso é o que importa! Você disse que é difícil para você e eu entendo, eu sei que, na unidade de reanimação, nós apenas 'salvamos' a sua vida, nós não melhoramos o seu dia a dia, nem o seu futuro. Mas eu espero, do fundo do meu coração, que você encontre a sua motivação, algo que o ajudará a enfrentar as suas restrições e limitações, e que será mais importante de que todas as coisas que dificultam a sua jornada.

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