Livro 2 - Capítulo 31

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Olho para a sacada onde Gustavo está terminando os últimos detalhes das bandeiras do Brasil expostas na grade de apoio, em suas costas o número dez e o nome de Henrique em verde me dá novas lembranças que eu estava grávida dos filhos dele. O autógrafo e a assinatura estava na altura das costelas de meu irmão e minha mente vaga pelos bilhetes que Henrique sempre me deixava. Fiz um beicinho pela saudade que aquilo me deixava.

Há uma semana eu menti para o homem que amava por ser uma completa covarde de não conseguir encarar a realidade mas ultimamente eu prefiro pensar que eu estava o protegendo para sua vida profissional e para isso ele tinha que deixar o pessoal de lado, ou seja, eu.

O anúncio de sua transferência para o clube rival não era surpresa para ninguém e nem uma noticia de última hora, os jornais e programas esportivos apenas anunciara oficialmente os acontecimentos. Não houve pronunciamentos por parte de Henrique apenas de Alan que deu uma pequena nota dizendo que o próprio "Henry" e sua família estavam muito felizes. Como o anúncio não era novidade o fato mais comentado foi o valor da transferência que foi o mais caro até então para o "mundo do futebol".

Deixei com que nossas conversar por telefone e via internet fossem vagas nunca mencionando a besteira que eu falei de ter beijado outro homem, do qual eu me senti uma vadia suja e morria de vergonha por causa disso. Eu sempre procurava incentivá-lo, dizendo que ia dar tudo certo e que ele seria o craque da copa. A lembrança de sua risada ao telefone me fez querer ficar abafada debaixo do cobertor e pensar nele o tempo todo. Brinquei com ele o máximo que pude e também o desafiei a fazer um gol na partida e como eu previa ele aceitou na hora.

Volto minha atenção para a tv, quando as duas equipes estão entrando em campo, minha mãe e Gustavo se juntam a mim no sofá com seus pequenos baldes de pipocas em mãos. Sinto por um momento falta de meu pai que sempre me incentivou a gostar de futebol e da recordação da última copa, e essa é a vida me mostrando que se em quatro anos muda muita coisa imagina em um acidente de carro que te faz perder a memória.

Henrique foi o último a entrar, com os olhos fechados orando por alguma coisa, eu precisava fazer um curso de leitura labial. Quando a garotinha de óculos pegou em sua mão o sorriso dele cresceu então ele se abaixou e falou alguma coisa no ouvido dela que também abriu um lindo sorriso. O hino começou a tocar então todos o continuaram cantando a capela fazendo com que cada pessoa que estava assistindo se arrepiasse por inteiro. Eu já não estava mais aguentando, vendo ele com os cabelos para o lado no estilo europeu com um pouco de gel e os olhos verdes mais brilhantes que eu já tinha visto. Ali ele estava em casa.

Minha mãe estava uma comédia, falava palavrão e xingava o tanto o juiz que eu sentia pena da mãe dele. O Brasil estava jogando bem e com bastante posse de bola o que mesmo assim não facilitou para Henrique que sempre sofria algumas faltas duras.

Comecei a roer minhas unhas pela apreensão do maldito jogo até que então gol contra para a Croácia. Eu poderia escutar os mosquitos da Amazônia com tanto silêncio que se instalou por toda a minha volta. Mesmo assim o Brasil estava confiante e fazendo belas jogadas fazendo o pessoal do estádio dar gritos e baterem palma. Então meu deuso estava lá, parado a poucos passos da bola para bater uma falta, sua concentração estava me deixando agoniada e o xinguei para que batesse logo na merda da bola.

Dito e feito, o filho da mãe fez um gol de falta de fora da aérea. Pulei junto com a torcida na arquibancada e vibrando pelo lindo dos olhos verdes pelo maravilhoso gol. Sua comemoração foi um coração com as mãos que foi o motivo para eu parar de pular na hora. Meu coração para com o gesto, Será que foi pra mim? Minha barriga dói.

–Nena! Você está sangrando! – Grita Gustavo.

*

Coloco a cabeça no encosto do banco e espero por minha mãe começar a falar, o que já está me dando nos nervos por tanta tensão que está presente entre nós nesses últimos dias, principalmente agora que saímos do consultório do Dr. Nilton. A nossa volta algumas pessoas ainda buzinavam e festavam a vitória do Brasil em cima da Croácia o que não me deixava mais animada já que o fato de quase ter perdido meus filhos acabou comigo.

Um amor além de flashesOnde histórias criam vida. Descubra agora