Sonho o com o homem me deixando novamente e me deixando num vazio sem fundo. Olho para a hora do celular e passa do meio dia, acho que capotei, por causa do Jet leg meu corpo não se acostumou com o horário brasileiro. Um bilhete escrito a mão pela minha mãe me informava que eu estava com os chaves do carro e me mandava um beijo.
Pego o celular do bolso e coloco no teclado para digitar o número do meu pai e a voz eletrônica me dizia que o numero não existe e então só me veio a cabeça que meu pai poderia ter trocado de numero já que minha cabeça vive três anos antes.
Ligo para minha mãe, que está numa reunião e peço o numero do meu pai que me da o mais depressa possível.
– Alô. – Meu pai atende no terceiro toque.
– Oi pai, sou eu. – Coloco a mão no bolso do short sem saber o que fazer.
– Oi filha que saudade, como está Barcelona?
– Pai eu estou em casa. – Ele hesita um momento e por fim entende o que eu disse.
– Claro que está. E como está se sentindo? – Sento no sofá e olho a vista pela sacada.
– Confusa, desorientada, embaralhada essas coisas. Na minha cabeça tenho vinte anos ainda.
– Sabe o que está fazendo? – Queria responder que sim mas eu não sabia de nada.
– Sei, estou tentando viver como viva antes, ou pelo menos tentando de onde eu acho que parei.
– Certo. E Henrique? – Esfrego os olhos porque eu sabia que seria uma conversa mais longa que eu gostaria que tivéssemos.
– Não estamos mais juntos. Como disse estou tentando viver como antes. – Ouço um suspiro pesado do outro lado da linha.
– Helena, você é minha filha e vou te amar para sempre, mas você tem que parar com essa instabilidade na vida, tem que parar de fugir do que você deve realmente fazer. – Faço a mesma cara de doze anos quando meu pai me dava um sermão por não ter lavado a louça.
– Pai eu perdi a memória e eu...
– Não use isso como desculpa. – Ele me interrompe. – Faça disso um motivo para ir em frente. Pense nisso e me ligue quando você perceber que eu estava certo.
*
Não falo com meu pai desde nossa última ligação há três dias. Na verdade estou conversando pelo celular com ninguém, a não ser Alice que me ligou duas vezes para ver como eu estava, e ficamos numa conversa vaga sem emoção alguma e minha mãe claro.
Termino de guardar minhas roupas limpas da viagem e um dos meus livros favoritos caem na minha cabeça, Moda do século de James Laver parece agora apenas um exemplar velho esquecido no armário de uma ex-estudante que perdeu a memória. Uma saudade repentina abrange meu coração e saio disparada para colocar minhas sandálias e alcançar minha mãe que já estava de saída.
– Vou até a faculdade. – Apareço de repente atrás dela ofegante.
– Você está bem? – Ela me olha preocupada.
– Senti saudades de lá. – Dou de ombros.
– Certo. – Ela suspira como a mãe que faz tudo pela filha. – Vamos lá.
Ela me larga na porta da universidade como sempre fazia.
– Meio dia? – Ela me olha sorridente.
– Meio dia. – Confirmo como fazíamos antigamente.
Entro pelos portões vazios, pelo fato de ser pouco mais de dez da manhã. Vou até o bloco que era conhecido pelos alunos de Design, seja de moda, jogos, interiores entre outros. Fico maravilhada por estar ali, apesar que eu tinha me formado há apenas três meses.
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Um amor além de flashes
RomantizmDeterminada, sonhadora, irritante e dona total de si Helena viaja para Barcelona para estudar durante um mês com intensão de melhorar seu currículo e melhorar seu histórico profissional. O que ela não esperava era que ia melhorar também seu históric...