Livro 2 - Capítulo 2

7.3K 379 3
                                    

Na parte interior do estúdio de dança, que era também modesta como a fachada, circulavam bastante gente lá dentro, sorrindo. Homens, mulheres e crianças estavam zanzando para lá e para cá seja com suas roupas de bailarias e sapatilhas, seja apenas com sapatos de sapateado ou com simples roupas de ginástica.

Fui em direção a porta que tinha como placa em cima "administració". Aguardei no que se parecia uma pequena fila e fiquei olhando os panfletos sobre pontos turísticos de Barcelona, e o que mais me chamou a atenção foi a igreja da sagrada família. Como não fui ver mais de perto essa maravilha? Preciso me certificar onde é exatamente e com certeza visitar. E daria uma boa matéria para meu blog que anda as moscas.

A moça que veio conversar comigo era uma descendente de... Quê? Japoneses? Chineses? Coreanos? Ah não sei, só sei dizer que ela era todo sorrisos para mim e seu olho ficava tão fechado com o gesto que nem sabia se me enxergava. Ela era poucos centímetros mais baixa que eu, cabelos pretos escorridos curtinhos e tinha, se eu não me engano minha idade, ou quase isso. Não entendia muito bem o que ela falava em catalão então mudei para o espanhol e parece que nos entendemos melhor.

Ela me contou que o centro existia havia quase setenta anos e foi reaberto há quatro meses, por isso está essa loucura toda de gente indo e vindo. Digo a ela que gostaria de ser professora voluntária e é ai que seu sorriso se alarga mais ainda.

Conversamos sobre de tudo um pouco, ou pelo menos o que conseguíamos entender uma da outra. Sei até que ela é casada com um austríaco. Estávamos acertando meu horário quando alguém bateu a porta desviando nosso assunto, era a minha deixa para ir embora já que passei quase duas horas aqui. Nia, que era o nome dela me disse antes de sair da sala para tomar as escadas e explorar o lugar e que o estúdio 2, que é o das crianças será o meu por quarenta minutos as quartas e sextas-feiras as sete horas em ponto.

O estúdio 2 estava vazio, sob apenas a luminosidade pouca de inverno de Barcelona. Era uma sala bem simples e o que me chamou mais a atenção e que mais gostei foi a parede a esquerda que era de cima a baixo de espelhos e no fundo da sala tinha os matérias como colchonetes para eu poder usar. Olho para a enorme janela a minha frente e começo a agradecer a Deus por isso. Se eu não tivesse aqui, olhando para os poucos raios de sol que se infiltram pela janela eu estaria me acabando de chorar agora. Eu queria mais que tudo aquele emprego e isso seria o início da minha carreira profissional e o qual me abriria portas para qualquer lugar, mas estando aqui parece que nem tudo foi por água abaixo.

Meu celular toca em pleno silêncio e levo um baita susto.

– Alô? – Coloco a mão na testa. Droga Helena esqueceu de novo de ver quem estava ligando.

– Oi minha linda. Está em casa? – Sorrio sozinha e um sutil raio de sol se abre.

– Não. Na verdade estou em um centro de dança comunitário, acredita?

– Não me impressiono, parece imã. – Ele me faz rir. – Estou saindo agora do centro de treinamento e passo pra ir te buscar, onde fica?

Olho para os dois lados pra fora da janela e percebo que nem eu mesma sei onde estou. Coço a cabeça confusa.

– É que... – Bufo. – Na verdade nem eu sei onde estou. Me ligue daqui a cinco minutos que eu vou me informar, mas é pelo centro. – Ele ri de mim.

– Só você mesmo, te ligo em quatro minutos e meio. Eu te amo. – Eu lhe dou uma resposta rindo e desligo.

Fecho a porta do meu futuro estúdio infantil e desço as escadas quase saltitando. Na frente da construção antiga procuro por alguma placa que possa me informar onde estou e... Nada. Por que as quadras daqui têm que ser enormes? Eu estava possivelmente no meio.

Um amor além de flashesOnde histórias criam vida. Descubra agora