Olhos Místicos

Superação, Sofrimento e Morte

O homem carneiro avançou furioso e eu me atirei sobre ele tentando tocá-lo – se eu conseguisse manter um segundo de contato, faria o que pretendia – mas ele percebeu o que eu ia fazer e virou fumaça, passando por mim e se chocando contra a parede invisível de tramazeira. Não sei se ele não foi rápido o bastante ou se era a minha vontade intensa de acabar com aquilo, mas quando atravessei sua forma de névoa, foi como passar as mãos dentro da água: não totalmente imaterial. Ele tomou forma física depois de se chocar contra a barreira mística e virou-se para mim com olhar furioso. Sem esperar, avancei de novo e ele segurou meus braços com força – a criatura era muito forte mesmo – e seu sorriso maligno de triunfo voltou, muito mais largo, com a certeza da vitória. Ao mesmo tempo, Scott largou a mão de Corey e correu para nós. Não sei se ele conseguiria atravessar a tramazeira – aquele alfa genuíno era incrível e capaz de feitos impossíveis – então eu sabia que tinha pouco tempo.

Com os braços presos, não tinha como alcançar a faca e antes do homem carneiro me deixar inconsciente ou até me matar, atirei meu corpo sobre o dele, o que o pegou de surpresa e cravei uma mordida em seu ombro – as mãos não eram o único meio de eu liberar meu dom de cura – e concentrei toda a minha força de vontade em subjugar a magia da criatura. Percebendo o que eu fazia, ele vacilou e soltou meus braços, me pegando pelos ombros para me afastar. Tentou virar fumaça, mas seu poder falhou e sua forma oscilou, voltando a ficar preso na minha mordida ensandecida. Scott parou atônito do outro lado da parede mágica e, vendo seu rosto preocupado, tive forças para concluir o que devia. Com as mãos e braços livres segurei o antebraço esquerdo do homem carneiro com uma mão e coloquei a outra, aberta, no meio de sua cara, do jeito que deu e foquei em manter meu dom funcionando. Poucos segundos depois, onde estava a criatura, havia apenas um homem branco muito alto.

Soltei o homem e ele caiu inconsciente, envelhecendo aos poucos diante de mim. Ainda pude olhar em seus olhos antes que a morte o levasse e seu corpo virasse pó, o que me deu informações esporádicas sobre o indivíduo. Ele fora um padre muito tempo atrás na Europa, há mais de três séculos e a criatura se apossara de seu corpo através de um estranho ritual. Enquanto morria, livre de seu captor, o velho padre só tinha um sentimento em seu coração: gratidão.

Scott saltou para dentro da barreira de tramazeira mal sentindo seu brilho ao se ativar e apertou meus braços, olhou todos os lados de meu pescoço e cabeça, girou em torno de mim conferindo se eu estava ferido. Tanta preocupação fez meu coração acelerar e algo mais acabou acontecendo comigo, enquanto observava o jovem alfa me analisando. No segundo seguinte, sem nenhum pudor, ele sorriu como se soubesse o que se passava comigo e me abraçou forte. Tive uma impressão errada quando seu rosto veio de encontro ao meu e desviei a face, recebendo um abraço intenso e muito apertado. Os outros se aproximavam cautelosos, então ele soltou o abraço, mas manteve minha mão esquerda segura dentro da sua direita e sorriu olhando em meus olhos, o sorriso mais intenso, forte, lindo e irresistível que eu já vira.

– Acho que acabou! – ele disse vacilante, tomado ainda pela sensação de medo.

– Acho que sim. – Respondi meio sem jeito.

– Você foi corajoso – elogiou Argent ao se aproximar, enquanto Deaton recolhia o que dava da tramazeira.

Cada um deles, exceto Chris, me abraçou e Scott foi o último, mantendo o abraço lateralmente e me conduzindo protegido de volta para Beacon Hills. Várias emoções poderosas se apoderaram de mim. Era sempre assim perto dele, meu jovem alfa genuíno, mas havia uma sensação desconhecida, de alívio e segurança. Nunca mais ninguém iria tentar me matar, a criatura que instigava todos contra mim estava destruída. Talvez ainda existissem pessoas como Thomas, que queriam me ver morto pelo perigo que eu representava, mas eles não tinham como me encontrar e acabariam me esquecendo. Tentei lembrar aquela cena no cerrado onde o homem carneiro matou um desconhecido antes de vir atrás de mim e ainda não conseguia saber quem era a vítima, apesar de sempre existir aquela sensação na lembrança de que era algo muito importante.