Era Um Garoto Que Como Eu

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Emma e os dois advogados de Laura ficaram no Spring Space, onde a garota acertaria algumas pendencias burocráticas, as quais não quis esperar e peguei o taxi direto para casa, para os braços de meu homem e para meu filho que não via há tantos dias. Fiquei meio decepcionado por Scott estar no trabalho ainda e ter saído com Deaton. Ele sabia que eu chegaria essa manhã e deve ter resolvido me punir por ficar tanto tempo longe, prolongando a agonia que ele sabia que estava sentindo. Por sorte, vovó coruja estava com o neto naquela manhã em casa e eu a abracei feliz, tomando meu filho nos braços e me segurando para não matar o garoto de tanto apertar e beijar. Elliot parecia muito maior do que eu o deixara, talvez pela ausência eu tenha me desacostumado com seu tamanho. Fiquei quase duas horas com ele no colo, troquei a fralda, dei mamadeira e ficamos brincando na sala, enquanto Melissa rondava, agoniada por perder a "guarda" do menino pela manhã. Para a sorte dela, já que eu não pretendia abrir mão de meu filhote tão cedo, Maltec chegou querendo falar urgente comigo e tive que entregar meu bebê para ela outra vez. Mesmo depois de tantos dias, Elliot ainda me reconhecia e eu via o amor em seus olhinhos lindos.

– Como você soube que eu havia chegado? – Perguntei ao rapaz sentado comigo na sala, parecendo bem ansioso, assim que ficamos a sós.

– Amanda viu você, coisa de maga. Eu preciso da sua ajuda Gabriel.

– E o que eu posso fazer por você? – Perguntei meio desconfiado.

– Eu estou aprendendo mnemoleitura – explicou em seguida. – Ver as memórias das pessoas com as garras, como um lobisomem alfa faz.

– Você não é um alfa e nem é um lobisomem, tem certeza que funciona?

– Aí é que está o problema – ele disse sorrindo sacana – eu não tive como testar ainda. Você é o único que eu não mataria se errasse. Pode me ajudar nisso?

– Parece que Scott vai demorar para voltar, tenho algum tempo livre. Posso ajudar você, mas sem gracinhas, entendeu?

– Claro, claro. Eu já disse que não vou mais forçar a barra.

Nos sentamos no chão, apoiados em almofadas e ele puxou pela memória a teoria que havia aprendido em algum lugar, provavelmente com a irmã maga. Respirei fundo e lembrei o quanto doeu quando deixei Liam fazer isso sem ser um alfa. Meu dom de cura amorteceria parte da dor, mas eu aguentaria o resto para ajudar um amigo a aprender mais sobre seus novos poderes de puma. Ele respirou fundo, introduzindo as unhas da mão direita em minha nuca e eu fechei os olhos tentando manter a mente aberta para facilitar seu trabalho.

Inicialmente, tudo correu bem. Maltec viu coisas sobre meus anos de fuga, meu sofrimento pelas estradas e até algumas de minhas mortes. Voltou mais atrás e me viu brincando pelos cerrados goianos onde eu era feliz com minha mãe e irmãos. Nessa parte, memórias intrusas começaram a surgir e eu senti que ele perdia o controle. Comecei a influenciar naquilo como havia aprendido com a experiência anterior, mas nossas forças de vontade acabaram colidindo, tentando um tomar o controle do outro. A realidade se partiu como vidro e me vi caindo em nuvens infinitas trincadas e frias, até encontrar o chão.

Me levantei observando Maltec próximo de uma grande casa, onde escravos, negros e brancos trabalhavam arduamente, sem feitores para vigiá-los, mas com argolas nos pés, pulsos e pescoços. Chamei seu nome, mas o rapaz não me ouvia e não pareceu me ver. Correu para dentro da casa grande chamado por uma voz feminina e eu o segui de perto. Entramos correndo por corredores, salas, cozinhas e salões suntuosos, até chegar a uma suíte escurecida onde a luz do sol não entrava por fresta alguma e candelabros davam uma parca luminosidade, como se ainda não existisse eletricidade.

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