Semente

8 5 3
                                        

Por um breve instante, dei razão para o ciúme de Scott sem conseguir entender o que Yan fazia em meu quarto tão tarde, na forma de tigre e lambendo os "lábios" daquela forma, mas em seguida entendi que aquele era seu tique antes de um ataque. Ele saltou quebrando a vidraça grande que dava para a varanda externa do primeiro andar sobre a lanchonete e eu ouvi um grito estridente seguido de um estranho chiado e do rugido inconformado do tigre branco por ter errado o salto. Scott entrou no quarto logo em seguida, de regata e cueca – não sei como conseguia naquele frio noturno infernal – e atravessei a janela quebrada junto com ele para ver o que o jovem alfa tigre havia encurralado ali.

Uma mulher pequena voava – isso mesmo ela flutuava um pouco acima do chão – segurando o que parecia ser um repolho escuro, um pouco maior que uma bola de basquete. Sua pele era verde escura da cor do musgo que cresce em locais úmidos que não são tocados pelo sol e seus cabelos, penteados para cima, da mesma cor, davam a impressão de formar um botão de flor fechado. Suas asas foi o que mais me preocupou, transparentes e muito velozes, moviam-se quase invisíveis, mantendo-a parada no ar como um beija flor. Com pouco mais de um metro e vinte de altura, corpo fininho parecendo um talo de planta, suas vestes pareciam camadas de alguma verdura, como alface ou couve, por onde "brotavam" seus dois pequenos bracinhos segurando o objeto. Ela falava, mas só saía um sibilo agudo e baixo, que parecia o chiado de algum animal pequeno. Ela olhava do tigre que a acuava para meu alfa logo atrás dele e em meus olhos um pouco atrás e percebi que uma luz suave verde bem clara saía de seu olhar, demonstrando preocupação e me trazendo algumas informações importantes sobre ela.

Antes que eu pudesse dizer algo, Yan saltou em sua forma de tigre com um ataque certeiro no pescoço da mulher e eu ainda tentei me teleportar até ela, mas quando a toquei, seu corpo já estava sem vida e começou a secar como uma flor que murcha no sol, deixando para trás apenas o estranho objeto que lembrava um grande repolho verde musgo.

– Yan! – Scott esbravejou irritado e o tigre rugiu de volta para ele teimoso.

Scott rugiu muito mais alto e uma vez mais eu tive aquela impressão de que o mundo tremia todo e a realidade balançava estranhamente diante de meus olhos. Yan voltou a forma humana e se encolheu no canto da varanda, completamente apavorado com o rugido do alfa genuíno. Meu noivo foi lá dentro e trouxe um roupão para o jovem que se vestiu e se recuperou do susto aos poucos, ainda encabulado e olhando com olhar impressionado para o outro.

– Não se resolve as coisas assim, Yan! Nossa alcateia não mata e você não devia fazer isso também.

– Ela invadiu meu território e ameaçou meu hóspede! – Ele tentou parecer firme – é assim que resolvemos as coisas por aqui.

– E quando sua força não for o bastante? – Perguntou Scott o encarando sério – se você mata sempre, irão matar de volta quando tiverem a oportunidade e você não pode aumentar o seu bando.

– Me perdoa – ele abaixou a cabeça e levantou os olhos me olhando sinceramente constrangido – me perdoa Gabriel. Eu me descontrolei, precisei agir rápido, não sabia o nível da ameaça e não queria colocar sua vida em risco.

– Eu te entendo – falei me aproximando e apertando o ombro dele e o de Scott ao mesmo tempo – foi um erro, mas pelo menos a semente está salva.

– Semente? – Perguntaram os dois ao mesmo tempo.

– Aquela criatura era um espírito vegetal. Sua missão de vida é proteger a semente de Nemeton quando ela é gerada pelo planeta e entregá-la aos responsáveis pela árvore para que seja plantada e uma nova árvore sagrada seja erguida, fortalecendo assim o ciclo que mantém a vida no planeta protegida.

...Onde histórias criam vida. Descubra agora