Olhos Místicos

Amor Perdido

Eu estava bem feliz e sorridente por causa de Maltec e Liam, apesar da horrível perda que tivemos que digerir recentemente. Um pouco de felicidade em algum lugar seria um alívio, um bálsamo para toda aquela coisa ruim que parecia nos cercar em forma de uma nuvem negra de mau agouro. Meu alfa estava no trabalho e eu em casa com o bebê cuidando de coisas simples da vida, como fazer a mamadeira e acalentar o pequeno, garantindo momentos de felicidade para sua existência que se iniciava agora. Essa criaturinha maravilhosa é o meu mundo, meu herdeiro, meu sangue e de meu alfa, conseguido de maneira difícil e improvável, mas que completava nossa relação perfeitamente. Alguma coisa boa tinha que vir do lado da família que me dera um sobrenome de peso e muitas dores de cabeça e Elliot era tudo o que isso representava.

Pouco antes da hora do almoço, Scott me pediu para ir até a clínica, por insistência de Deaton, mas deixou claro que não estava gostando nada daquilo. Quando perguntei se o banshee homem estava acordado, ele desconversou e pediu para não demorar muito. Conversei com Melissa prometendo voltar antes que ela tivesse que ir trabalhar, já que não queria levar Elliot para aquele lugar. O druida talvez tivesse que me perdoar por isso, mas a impressão que eu tinha é que seu estabelecimento comercial era um lugar para problemas, seja atraindo-os ou tentando resolvê-los e queria manter meu filho longe de tudo isso o máximo possível.

Fui a pé mesmo e quando cheguei, meu noivo estava na porta da sala dos fundos como se para bloquear a entrada ou saída de alguém e eu parei do seu lado, abraçando sua cintura. Ele estava vermelho de raiva e me deu um beijo rápido, sem sair do caminho para que eu entrasse ainda. Dentro do local, o banshee estava sentado e desperto sobre a maca de metal e o veterinário fazia curativos na garganta do homem. Quando fitei os olhos dele, não vi crueldade e desejo de morte, nem maldade ou ambição.

– Deixe-o entrar Scott – disse o druida com um sorriso complacente – precisamos que o rapaz aqui consiga falar para desvendar seus mistérios.

De má vontade, o lobisomem abriu passagem e eu entrei, mas antes de fazer o que era preciso, segurei as mãos de meu homem e beijei seus lábios outra vez. Alguma coisa fora feita pelo banshee e que causou essa raiva que eu via estampada em seu rosto e que estava desaparecendo agora com um pouco de carinho e minha presença ali.

– Está tudo bem – falei – não sabia ainda o que o tinha feito ficar com raiva.

Toquei o ombro do rapaz de pele escura e barbas espessas e ele me encarou sorrindo. Podia jurar que estava feliz com meu toque. Liberei meu dom de cura e enquanto restaurava suas feridas, senti outra vez a força luminosa que o preenchia e a mesma voz aguda me agradeceu sem, no entanto, emitir som algum.

– Se tentar alguma coisa – Scott disse entredentes, com os olhos vermelhos – eu mato você aqui mesmo, entendeu?

– Ele não está aqui agora – disse o banshee, com uma voz mais aguda e melodiosa do que aquela que ele havia usado no combate. – Fique em paz, herdeiro de Angus.

– Eu já ouvi esse nome – Deaton interveio – o que você quer dizer com isso?

– Eu não sei quanto tempo posso segurá-lo – disse o homem – sua vontade é muito forte e ele está furioso, algo sobre o sacrifício de sua mãe ter sido em vão.

– Você é um anjo? – Meu alfa perguntou sem acreditar – como isso é possível?

– Assim como uma banshee é a precursora da morte e das trevas, um banshee homem é precursor da vida e da luz. Os demônios não podem existir através das fêmeas, mas nós anjos, podemos nos manifestar na Terra através dos banshees machos, por isso, a espécie foi amaldiçoada no passado, fazendo com que cada vez menos machos nascessem e todos os que conseguissem ser gerados, viriam mortos ao mundo, assim nós não poderíamos cumprir o destino para o qual fomos inicialmente criados, ajudar a raça humana a atingir seu melhor potencial.