Lilás

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Meu alfa acordou mal humorado indo trabalhar sem me dar muita atenção. Suspirei resignado, entendia o lado dele, mas era bem triste ter que ficar vários dias longe e ainda saber como se sentia com o afastamento. A vontade de me livrar da Galido's estava cada vez maior, criando em minha cabeça um dilema horrível.

Liguei para Corey pedindo que viesse em casa no início da noite para me ajudar em uma coisa e ele concordou sem perguntar o que era, um ótimo rapaz que estava sofrendo com a ausência do namorado Mason, que se mudara para longe e estava agindo de maneira estranha. Emma chegou para me lembrar de novo da viagem e confirmar tudo pela enésima vez e eu aproveitei sua habilidade informática para estudar os fusos horários dos pontos onde haviam Nemetons – tirei uma foto da página do livro do sol que tinha aquele mapa – e a garota não parava de fazer perguntas, cada vez mais perto de descobrir a verdade. O local mais próximo, com pouca diferença de horário (uma hora apenas) e que não oferecia o risco de chegar lá durante à noite, era na Groelândia, a floresta de Qinngua Valley, uma área pequena, de vegetação baixa, sendo a única área verde natural naquele território gelado. Me agasalhei exageradamente e peguei dois casacos extras enquanto a garota observava aquilo curiosa. Ela continuava o levantamento de dados sobre os locais dos Nemetons – sem saber o que eram – e eu fui até o jardim, me certificando de que ninguém estava olhando e pensei na floresta, no Nemeton das terras geladas e o cenário mudou diante de meus olhos, me levando até o local. Tive que vestir os casacos extras e ainda assim estava muito frio.

Parei no meio de pinheiros e árvores baixas, perto de grandes montanhas nevadas, exatamente no tronco cortado do Nemeton, empretecido pelo fogo que foi usado para queimá-lo, uma visão triste e revoltante. No horizonte havia ainda um vilarejo de casinhas coloridas e à oeste, algumas barracas de camping de onde vieram dois homens, um deles com um rifle de caça, em minha direção. Vestiam roupas quentes de pelo de animal e grossas calças de lã com pesadas botas. O mais velho tinha barba e bigode grisalho, corpo largo com cabelo também grisalho saindo do gorro do casaco e me perguntou, num inglês cheio de sotaque:

– Quem é você e o que faz aqui? Essa área é privada.

Demorei um pouco lendo seu olhar antes de responder. Um rapaz de vinte anos e sem barba, muito parecido com ele estava junto, provavelmente seu filho.

– Mestre emissário, perdoe a intrusão – abaixei a cabeça em cumprimento, curvando levemente o corpo – sinto muito pelo seu alfa e pela árvore sagrada.

– Pai, ele não é lobo – disse o rapaz cujos olhos brilharam em amarelo – como pode saber de tudo isso?

– Ele é um filho do sol – foi a vez do velho se curvar, encostando o joelho no chão – achei que nunca mais veria um. O que o traz tão longe, jovem curandeiro?

– Eu preciso acessar as raízes da árvore – falei – acho que posso fazê-la brotar de novo.

O homem velho levantou as sobrancelhas muito surpreso e olhou para o filho, cujos olhos já estavam verdes de novo. Pensou por um instante antes de falar.

– Existe um alçapão usado para cuidar as raízes do Nemeton – ele contou – mas não posso permitir que você entre, sem falar com o conselho primeiro.

A vila de Tasiusaq beirava um grande lago gelado cercado pelas montanhas, aos pés das quais o Vale Quinngua se estendia por quinze quilômetros, com vegetação exótica e muito bonita, uma paisagem incrível naquelas terras congeladas cercada de lindas montanhas de cume nevado. Acompanhei o velho homem e seu filho até o centro da vila, com suas casinhas coloridas e população rara. Em uma casa humilde e discreta, cinco lobisomens beta – agora ômegas dada a morte recente de seu alfa – ponderavam sobre restaurar a árvore ou não. Os pais deles, o conselho protetor daquelas terras, que mantinha o sobrenatural protegido e em segredo por ali, estavam divididos sobre o que fazer. Enquanto dois deles queriam restaurar a árvore e arrumar um alfa para protegê-la, bem como à vila e ao vale, outros dois achavam melhor que continuasse morta, não atraindo assim criaturas sobrenaturais e mais mortes para o lugar. O voto de minerva ficou para o homem que me recebeu, o vigilante dos restos da árvore e ele decidiu pela restauração, mesmo não tendo um alfa ainda por ali. As coisas poderiam ficar difíceis em Tasiusaq e acabei dando um de meus telefones para eles, para que pedissem ajuda se a coisa ficasse muito feia.

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