O Outro Lado da Vida

11 6 5
                                    

Toda a alcateia McCall estava agitada naquela noite, reunidos na casa do alfa para comemorar a volta de Melissa. Chris não saía de perto dela por um segundo sequer, Corey e Mason estavam por ali e já haviam se acertado, Ethan e Jackson vieram cumprimentar a enfermeira, Stiles e Lydia chegaram com o pai dele que estava saudável outra vez e Liam e Maltec conversavam em um canto parecendo bem íntimos. Só faltavam Kira e Malia, que estavam ainda na vigilância ao Nemeton. A noite foi incrível, era contagiante e gostoso ver a casa cheia de pessoas tão boas e próximas de nós. Havia algo me incomodando, me deixando um pouco distante, mas eu não sabia dizer o que era e me forcei a socializar, interagir, para não deixar Scott sozinho naquele momento de alegria.

Depois de um fim de noite intenso, regado de muito suor e prazer, finalmente fomos dormir, quase pela manhã. Por um tempo até esqueci o incômodo interno que me acometeu, convencido de que era só meu lado pessimista remoendo o fato de que o demônio da peste foi vencido com muita facilidade. Tentando esquecer essas coisas e repousar, enquanto Scott já ressonava feliz, me imaginei mergulhando do topo daquela impressionante cachoeira que também não saía de meus pensamentos. Suspirei feliz e adormeci finalmente, pouco antes do sol entrar pela janela anunciando o dia que viria.

Por um tempo sem fim, flutuei nas águas frias da cachoeira sem saber se era sonho ou realidade. Sem que fosse meu desejo real, meu corpo se impulsionou pela água e percebi que flutuava no espaço, contemplando estrelas ao longe, permeando de luz o infinito sideral. Venci barreiras de distâncias infinitas e a escuridão por fim engoliu toda a luz, me deixando perdido no vazio infinito, onde estranhamente não senti frio. Ouvi uma voz grave e velha que dizia "mácula" e percebi que era a mim que chamava. Duas vezes aquilo foi dito, cada vez mais alto e grave, sem perder o arrastado que denotava a idade já avançada de quem chamava. Quando o nome foi dito pela terceira vez, o espaço negro sem fim foi ferido por uma débil luz acinzentada e meu corpo compeliu-se através da fissura, sem que eu tivesse desejado aquilo.

Adentrei através da abertura em um quarto com uma caldeira e um gerador auxiliar de energia. As paredes emitiam um ressoar sobrenatural que afetavam meu corpo e o faziam tremer. O chão era metálico e havia ali outras pessoas ou coisas a me aguardar. No centro, em uma cadeira, um homem branco já de idade, calvo com cabelos brancos, olhar duro e sorriso perspicaz, vestia roupa social já gasta e colete com bolsos e armas, mas isso não escondia as bandagens em seu tórax e pescoço. Ele estava um pouco mais abaixo e percebi que eu flutuava acima do chão, bem como outras três figuras que, assim como a minha, tinham fumaça escura no lugar do corpo, em colorações diferentes, mas todas muito próximas do preto.

– Você falhou outra vez, velho – disse a forma escura esfumaçada cujos olhos vermelhos eram o ponto focal de sua estrutura física – Mácula não teve sucesso, assim como cada um de nós.

– Vocês subestimaram a alcateia McCall – respondeu o velho e tossiu, expelindo fumaça amarelada misturada com alguns pequenos insetos, que pararam de surgir quando ele cortou a tosse.

– Isso é sua culpa, Eco! – a forma de olhos vermelhos acusou aquela cujos olhos eram azuis profundamente escuros. Se não tivesse perdido o padre, nós...

– Silêncio – trovejou a forma de olhos tão escuros que era impossível diferenciá-los do resto de seu corpo enevoado. – Todos nós estamos presos de volta ao túmulo ancestral e se você, velho, não conseguir o ritual, retiraremos o que lhe foi dado e as trevas reclamarão de volta sua alma condenada. Sua vingança será vazia e seu sofrimento eterno.

– Eu ainda não fui banido – disse uma voz e eu percebi que saíra de mim – consegui escapar antes que fosse mandado de volta, como vocês fracassados.

Olhos MísticosOnde histórias criam vida. Descubra agora