La e De Volta Outra Vez

7 5 3
                                    

A festa da colheita na tribo onde residia o alfa onça pintada, foi uma coisa muito incrível. Todas aquelas comidas, danças típicas e costumes incomuns só não era mais impressionante do que ver todas as pessoas da aldeia juntas ao mesmo tempo – normalmente boa parte deles ficava dentro das ocas – e a apresentação dos guerreiros foi muito barulhenta e bonita, me fazendo imaginar que esses mesmos homens derrotaram o exército de Titus e mantiveram o Nemeton intacto. Acho que talvez essa fosse a árvore sagrada mais bem protegida do mundo, embora eu ainda não tenha visitado todas. As pessoas da vila de seringueiros também vieram em peso para as festividades e o clima era muito agradável entre todos. Volta e meia uma indiazinha ou moça da vila tomava coragem de vir até a cabana pedir para dançar com o rapaz, que era bastante respeitado por ali, mas ele se recusava gentilmente, ficando na varanda de sua moradia comigo observando tudo. Embora essa não seja a parte do Brasil aonde cresci, percebi que gostava de tudo por ali.

– Você vai partir hoje? – Ele me perguntou ainda na parte da manhã e parecia um pouco triste. Observei Michael e Edu dançando com as moças da aldeia ao lado dos outros dois betas antes de responder.

– Sim, quero aproveitar o fim de semana para fazer mais duas visitas às árvores sagradas.

– Quantas são ao todo? Pode me contar mais?

– Existem oito delas, mas apenas uma no Brasil. Acho melhor não falar sobre as localizações, você sabe da importância desse segredo.

– Sim – ele concordou ainda parecendo triste – essa é toda a sua vida? – Perguntou me encarando de maneira diferente, como se me estudasse.

– Não – respondi pensativo – eu tenho uma grande empresa para cuidar e estou tentando fazer com que ela não agrida tanto o meio ambiente como fez até hoje, antes de eu assumir.

– Todo homem rico deveria pensar assim, isso salvaria a vida no planeta da extinção que se apresenta no futuro. Precisamos pensar nas próximas gerações, nos filhos de nossos filhos.

– Eu também tenho um filho – comentei – e estou morrendo de saudade dele, embora o tenha visto ainda ontem. Quando você tiver filhos, vai entender melhor.

– Meus betas são meus filhos – ele apontou para os quatro rapazes ainda no meio da multidão ali na frente – e os filhos deles serão meus netos.

– Entendo o que quer dizer. Achei que eu também seria assim, mas a vida me pregou uma peça que acabou me dando um filho legítimo e estou muito feliz com ele.

– E quanto à mãe da criança? Sei que ela não é a responsável pelo anel de ouro que leva em seu dedo.

– Ela morreu assim que Elliot nasceu. Esse anel representa um sonho que se partiu e eu não sei se pode ser remendado.

– Belo nome tem o seu filho. Se quiser ficar por aqui – ele me disse com um sorriso e olhar vermelho profundo – sempre terá um lugar na minha cabana.

– Eu fico grato e honrado – respondi respeitosamente – mas ainda preciso tentar consertar meu cristal que se quebrou.

Me despedi do alfa onça pintada e de seus quatro betas, agradecendo por tudo e prometendo voltar quando tivesse estabilizado meu calendário de luas cheias. O ideal seria visitar cada árvore durante essa fase da lua, mas eu queria ficar por dentro do que acontecia em cada um dos locais e aproveitei que ainda era cedo, para chegar até Novosibirsk, na Sibéria, antes de perder a luz do sol – que se punha em horário diferente por lá nesse período, já que fica no hemisfério norte – e procurei no mapa uma loja de roupas para sair lá bem perto, porque o local é muito mais frio que meu país natal ou os Estados Unidos.

Olhos MísticosOnde histórias criam vida. Descubra agora