Lua Cheia, Olhar Rubro

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Lydia Martin, a banshee de nossa alcateia chegou bem cedo à casa do líder do grupo. Não fora viajar com o namorado porque eles brigaram antes da partida. Acabei ouvindo enquanto ela falava com Melissa sobre o assunto que o motivo fora eu, mais precisamente, ela não havia gostado da implicância de Stiles comigo, apesar de não me enxergar e de nós (eu e ele) termos nos acertado logo mais cedo. Enquanto a mãe do Scott preparava o almoço, por volta das onze da manhã, ele havia saído para fazer coisas misteriosas que não quis me contar de jeito nenhum, nem me deixou ir junto. A ruiva estava sentada à mesa conversando com a cozinheira e fazendo uma limpeza nas unhas cuja cor ela pretendia trocar.

– Stiles gosta muito desse vermelho em mim – ela disse olhando cirurgicamente o próprio trabalho manual – então vou deixar de usar por um tempo. Ele tem sido tão intransigente!

– Você e Stiles são inteligentes demais – Melissa comentou sorrindo – por isso acabam sempre discutindo sobre tudo. Ele com sua imaginação fértil e aquela mente investigativa para tudo, parece sempre estar de bom humor.

– Bom humor tem limites também, não acha? – Questionou a ruiva – Depois de certo ponto se torna inconveniente. Essa mania irritante dele em fazer piada com tudo, dar nomes engraçados, foi uma das coisas que me fez enxergá-lo primeiro no colegial.

Enquanto elas discutiam a melhor maneira de resolver a situação, Lydia querendo dar um gelo no namorado e Melissa a aconselhando a fazer as pazes, eu estava na varanda olhando para o céu de Beacon Hills, não necessariamente ouvindo a conversa das duas. Não tinha idéia do que Scott estaria aprontando agora, mas meu coração ameaçava fugir do peito sempre que pensava na noite que estava por vir. Desde que acordamos, as horas pareciam se arrastar e eu acabei achando um livro de poesias antigo na casa e o estava lendo na varanda, matando o tempo. Pensei em Liam e Derek sozinhos no Nemeton há mais de vinte e oito horas imaginando que deviam estar doidos para voltar para a civilização. Seria bom resolver logo essa pendência com Titus para que ninguém precisasse se isolar na floresta e correr riscos desnecessários.

Pensar no gorducho grisalho me trazia à mente a imagem dele matando Corey, o cheiro de enxofre e o comentário de meu alfa sobre parecer mais um demônio. As mitologias que eu havia lido naquele mesmo site que indiquei para Lydia quase sempre relacionava enxofre com essas entidades maléficas, assim como ligava lobisomens e prata, vampiros e sangue. Talvez o homem carneiro, que graças a deus não existia mais, também fosse um demônio. Sua fumaça branco-acinzentada não fedia a enxofre, mas isso não era necessariamente uma regra. Chequei o smartphone outra vez – nunca gostei muito de celulares, mas estava ansioso para receber notícias de Scott, apesar de fazer apenas duas horas que ele saiu – e resolvi desligá-lo, para não ficar angustiado, ansioso e dependente demais do aparelho. Entrei na cozinha anunciando minha chegada para que Melissa dissesse a Lydia se achasse necessário e não pensassem que eu tinha vindo bisbilhotar. A mãe do meu lobo falou alguma coisa comigo, mas não consegui entender, porque fiquei petrificado de susto ao olhar para a banshee.

A figura da morte estava em volta dela outra vez, escura, insubstancial, atravessando os móveis e parece que apenas eu a enxergava. Pior do que isso, a coisa sinistra estava com as mãos em torno da cabeça da jovem ruiva, que parecia distraída com sua manicure, não sentindo nada. Na sequência, Lydia largou o frasco que segurava, deixando-o cair no chão e se quebrar, colocou as mãos em torno da cabeça e reclamou que o barulho estava muito alto, para Melissa abaixar aquilo. Não havia, no entanto, nenhum som audível, exceto a fervura nas panelas do almoço que era bem suave. Tive a impressão de que os cabelos da jovem se mexiam como se estivessem na água, lenta e descompassadamente e Melissa veio acudi-la da dor insistente que se apossou de seu cérebro.

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