Questão de Tempo

12 6 5
                                    

Por um breve instante os dois apenas se encararam. De um lado, o ex alfa Peter Hale, o lobisomem que transformou Scott, sobrevivente de um incêndio criminoso que dizimou sua família e que depois de ser morto por seu sobrinho e retornar com a ajuda de uma banshee, agora era um ômega, mas não um ômega qualquer, um que possuía vasta experiência, grande fúria assassina e uma crescente lista de assassinatos. Do outro, um beta puma branco, variação de lobisomem de origem meio felina, com menos de três meses para aprender a usar seus novos dons, mas com uma vida de mais de um século de batalhas, caçadas sobrenaturais e inimigos mortais.

Furioso, vendo seus capangas derrotados e seu covil invadido, o lado lobisomem de Peter se deixou sair, com uma forma meio monstruosa e agigantada de olhos azuis, partiu veloz na direção do rapaz na intenção de matá-lo com um único golpe de suas grandes garras. Maltec desviou com facilidade graças a sua impressionante agilidade e velocidade, mas os ataques do outro arrancavam pedaços do chão e pareciam cortar o próprio ar, de modo que se apenas um acertasse, seria o fim de jogo para o mais jovem. Inicialmente, temi que meu captor vencesse, embora o canalha do puma branco tivesse feito tudo errado e estragado meu rolo com Scott, fazendo com que a gente se separasse pela primeira vez de maneira real, ele ainda havia partido o coração de Liam, com a minha ajuda, o que era tudo que eu pretendia evitar com aquele plano idiota. Merecia algum crédito por ter seguido o Hale e tentado me salvar e também não gostei daquela parte onde Peter prometeu me prender em um quarto e me torturar, ou me vender como mercadoria para sei lá quem. Os cortes em meu rosto doíam e sangravam muito e por algum motivo, não estavam se curando.

Como seus ataques não eram fortes o bastante para derrubar o lobisomem, o jovem puma adotou uma estratégia mais ousada no combate, desviando e provocando, cansando o mais velho. Quando percebeu que havia uma brecha, brilhou seus olhos evocando o resto de sua força interior de puma para ataques mais velozes e concentrados que faziam sua imagem piscar, dada a velocidade que atingia, levando assim a melhor. Logo que o maior tombou inconsciente vítima das poderosas investidas dele, Maltec sorriu cansado, voltando a forma humana e vindo em minha direção. Ele havia rasgado a parte da frente da camisa do outro e eu vi assombrado eu seu peitoral exposto ainda inconsciente, um estranho volume que se movia, como um inseto sob sua pele. Ele tentou me abraçar sorrindo, mas corri até o corpo apagado de seu adversário para averiguar o estranho inseto que parecia buscar seu coração.

No instante em que me abaixei para tentar alguma coisa, Peter abriu os olhos que estavam amarelados como ouro e emitindo uma estranha fumaça preta ao seu redor. Ele expôs suas garras e afundou as da mão direita em minha barriga, perfurando meus órgãos internos de maneira quase mortal, fechando novamente os olhos e apagando outra vez logo depois. Caí sentado ao seu lado com as mãos na ferida, com a pior dor física que já sentira na vida, tudo girando e a voz preocupada de meu salvador tentando me manter desperto. A escuridão me tomou de assalto e o mundo real deixou de existir.

Despido de vestes e esperanças, de poder sobrenatural ou vontade de lutar, me vi andando por infinita névoa negra, ouvindo do alto e ao longe uma melodia sem voz, conhecida, mas não lembrada. Poucos metros à minha frente, o vulto sem foice da morte me aguardava ansiosa e seu rosto caveiroso parecia sorrir imensamente satisfeito.

– Nunca pensei receber um desses – disse a voz de trovão, sombria e tumular, emitida pela estranha criatura que se avultava ameaçadora a poucos metros de onde estava.

Não consegui parar de andar, embora quisesse muito e segui para seu abraço eterno e irrevogável. Um círculo de luz se formou em volta de mim fazendo o vulto recuar e olhei para o negrume do alto onde a lua cheia se mostrava agora.

"– Or doré, Or doré, quem te deixou sair? Foi o uivo lá na mata ou bem mais perto daqui."

A voz de minha mãe morta cantava vinda dos céus e começou a se misturar a várias outras vozes, em pedidos, ordens, lamentos e um leve choro. Me percebi deitado em uma cama de hospital, de olhos semicerrados, via vultos do que pareciam enfermeiras, um médico e um jovem de cabelos longos na altura dos ombros.

Olhos MísticosOnde histórias criam vida. Descubra agora