Amigos e Família

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– Eu também tenho algo para te contar – Scott disse me olhando sério e eu fiquei mudo esperando que ele continuasse, perdido sem ter certeza do que viria a seguir.

Ele segurou minhas mãos e abaixou o olhar, procurando as palavras certas. Estava sentado na cama só de cueca branca – a coisa mais bela que eu já tinha visto na vida – e eu estava de pé em sua frente agora, vermelho como um tomate, só com a toalha que vesti ao sair do banho, antes de vir para o quarto dele, na intenção de apenas me trocar.

– Naquele dia em que encontrei você fugindo do alfa assassino no bosque...

– Era noite – eu lembrei, mas percebi pela reação dele que não devia ter interrompido.

– Sim, foi a noite, mas durante o dia, por volta das nove horas da manhã, eu senti alguma coisa perfurar meu peito, enquanto estava na clínica cuidando de alguns cães.

Me angustiei imaginando meu jovem alfa genuíno ferido, mas sabia pela cara que ele fez antes, que a história era longa e eu não devia interromper outra vez.

– Não foi um golpe de verdade, era mais como uma sensação. Alguma coisa acontecia em Beacon Hills ou nas proximidades naquele exato momento e era algo importante para mim e para a alcateia. Deixei o trabalho parado e liguei para cada membro do bando, inclusive Lydia e Stiles, para ter certeza de que estavam bem. A sensação não me abandonava, era como ter uma faca quente atravessando meu coração, não me matava, mas me aquecia, me instigava e trazia junto uma sensação de urgência. Havia algo que eu precisava fazer acontecer naquele dia. Passei a manhã e à tarde agoniado, indo de um lugar para o outro e incomodando todos do bando várias vezes para ter certeza de que estavam bem. Não encontrei nada e nada aconteceu comigo ou com nenhum deles, então eu te pergunto Gabriel, o que você estava fazendo exatamente as nove e dezessete da manhã daquele dia, cuja noite nos encontramos pela primeira vez no bosque?

Eu não respondi de imediato, estava em choque pela onda de informação recebida e espantado com a hora exata que ele havia citado. Abri minha carteira e mostrei para ele meu bilhete aéreo de chegada em uma grande cidade relativamente perto de Beacon Hills. Isso foi antes de eu consultar o mapa e ser atraído para cá. Ele olhou espantado e a hora do pouso foi exatamente essa, às nove e dezessete da manhã.

– Eu sabia! – Scott falou exasperado e com um sorriso – foi você.

– O que isso significa exatamente? – perguntei perdido e esperançoso.

– Naquela noite – ele retomou a narrativa – antes do nosso encontro acidental no bosque, eu me sentia cada vez mais incomodado pela lâmina imaginária que atravessava meu coração, então eu escolhi uma direção aparentemente aleatória e comecei a andar. Conforme eu ia na direção daquele bosque, a dor diminuía e a urgência aumentava. Eu sabia que devia estar naquele arbusto esperando, de algum modo não foi um encontro acidental. Algo me atraiu até você, alguma coisa sobrenatural.

– Quando eu desci do avião – eu contei para tentar esclarecer melhor aquela coisa toda – a primeira vontade que me acometeu, foi a de sair daquela cidade grande, eu sabia que não deveria estar lá, então peguei um mapa da região no saguão do aeroporto e Beacon Hills brilhou para mim como um farol ali. Não exatamente a cidade, mas uma mata mais a nordeste, para onde eu ia depois de atravessar aquele bosque.

– É onde fica o Nemeton – ele confidenciou. Aparentemente Scott também confiava totalmente em mim e esse detalhe me deixava extremamente feliz.

– Se você foi ao bosque, não foi o Nemeton que te atraiu então – falei – a árvore fica mais a leste de lá.

– Você ainda não entendeu? Foi você Gabriel, sua chegada que me atraiu, me guiou até você para te ajudar.

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