Despenquei vertiginosamente em um vazio escuro, tão rápido que o impacto seria capaz de destruir o que restou de mim depois de morrer. Quase não enxergava nada e precisei segurar o pingente de dentes de lobo guará que ainda estava em meu pescoço para não o perder, mesmo não tendo mais o que se pode chamar de um corpo físico. Quando senti que ia me esborrachar no chão, usei a luz amarela que veio fraca, mas me depositou cansado e dolorido porém em segurança em um chão gelado, coberto de poeira negra oculta em meio metro de densa névoa escura, que dançava sussurrando suavemente. Um nó se formou em minha garganta imaginando o inferno, embora não visse nenhum clarão de fogo.
Ouvi ganidos e rugidos, misturados com um forte bater de asas que pareciam se aproximar. Voando por cima da névoa, não muito longe de mim, vi algo que aparentava ser um leão negro, mas tinha grandes asas de morcego e cauda de escorpião. Ele vinha acompanhado de dois semelhantes e pelo olhar e presas à mostra, pareciam bem famintos. Não sei se a alma pode ser comida como o corpo, mas resolvi não esperar para saber e comecei a correr desesperado na direção contrária. Voando, os monstrengos ganhavam terreno e eu tentei saltar mais a frente com a luz amarela, mas naquela escuridão, cada salto era mais curto que o anterior e me cansava terrivelmente, facilitando que me alcançassem. Outros três deles surgiram e, olhando para trás intentando checar a proximidade, me choquei contra uma grande árvore. Pelo menos foi o que pensei ser inicialmente, mas estava diante de um bulbo gigante, de quase trinta metros que, ao lado de infinitos outros iguais a ele, formavam uma barreira, impedindo minha fuga. Em segundos, estaria nas garras das criaturas.
Mesmo prestes a ser sumariamente destruído, vi no horizonte oposto ao que tinha fugido, nuvens de tempestade que relampejavam insistentes por sobre um longo morro, não muito alto, mas bem comprido e distante. Quando a primeira besta voadora investiu para me abocanhar, sem ter muita opção, tentei alcançar o que havia depois do bulbo gigante, usando a luz amarela. As presas chegaram bem perto de meu rosto e o mundo se amarelou todo, para escurecer em seguida.
Acordei um tempo depois, com uma sensação de queima na testa e me sentei assustado ao perceber Amanda ao meu lado. Ela fez alguma coisa na minha fronte que me despertou. Estava vestida igual ao dia em que fora morta pelo xamã. Enquanto ela sorria triste para mim sem dizer nada, Derek Hale e Ethan se aproximaram, ambos com estranhas marcas pelo corpo, usando apenas uma calça jeans desgastada, pés no chão e semblante muito cansado.
– Você é a última pessoa que eu esperava ver aqui – disse o lobisomem alfa cruzando os braços – não tinha dito que não pode ser morto?
– Laura fez Scott me matar, ele era o único que podia – falei amargurado, tentando esquecer a dor – porque estamos aqui? É isso que existe depois da morte? Depois de tanta luta?
– Laura? Laura Hale? – Derek parecia tonto, uma mistura de raiva e incredulidade.
– Ela mesma – confirmei sem mais nada a acrescentar.
– Não era para estarmos aqui – Ethan disse se sentando ao meu lado e passando o ombro sobre o meu – fomos roubados de nosso destino pela morte.
– Aquilo não é a morte – falei amargurado, pensando que devia ter destruído a coisa quando estava no meu limbo, onde eu era supremo – é um parasita ladrão de almas.
– Hey, Gabriel, que bom ver você – Theo disse se aproximando e se sentando do outro lado – apesar de estarmos numa enrascada dos infernos.
– O que são aquelas coisas que me perseguiram? – Questionei ainda com uma sensação ruim.
– Mantícoras negras – disse um rapaz que veio com o quimera e eu não o reconheci.
– Ele é o ômega que eu matei na casa do Scott – Raeken explicou sorrindo – estamos todos no mesmo barco furado.
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Olhos Místicos
FanfictionPosto diariamente essa história nesse link, não é plágio!! https://www.spiritfanfiction.com/historia/olhos-misticos-18678243 Um jovem com dons misteriosos em fuga pela sua vida, acaba parando em Beacon Hills e sendo salvo por Scott McCall e seu band...